No mundo oriental, por muitos séculos, o umbigo se destacou entre danças e rebolados, tornando-se um poder de atração e de sedução. Em meio aos véus que lhes deixavam transparecer o corpo, as dançarinas do ventre, agitando os seus umbigos frenéticos, hipnotizavam os homens e arrancavam-lhes o que bem queriam. A cabeça de João Batista foi a mais célebre de suas vítimas. Em nossos dias, sem véus ou grinaldas e, aos montões, os umbigos saíram às ruas e, por eles, já não se perde tanto a cabeça. A oferta em demasia e a quebra do mistério, desmistificam e desvalorizam o produto; esta é a lei fundamental em uma sociedade consumista, vazia, sem rumo e prumo. Em qualquer lugar os umbigos são exibidos sem qualquer cerimônia ou recato. De forma tímida e ousada, estão eles por aí, em toda a parte, por todos os cantos, recantos e lados. Calculo que, neste exato momento, muitos bilhões de umbigos estão às soltas nas ruas, avenidas, passarelas, salas e salões do mundo inteiro. É tão grande a “umbigagem” que, se existirem mulheres em outros planetas, creio que, também lá, estarão elas exibindo os seus umbigos. A “febre” dos umbigos é tão contagiante que poucas, ainda, não foram contagiadas.
Por toda a terra, as mulheres estão com os seus umbigos de fora; mostrando-os com muita desenvoltura e pouco embaraço. Estão à vista de tudo e de todos. Não há regras ou limites para a revoada umbilical que, repentinamente, passou a fazer parte da nossa paisagem diária. Estamos sem exagero,cercados por umbigos por todos os lados. Eles se apresentam de todas as formas, cores e modelos. Com enfeites ou sem enfeites; nus e crus, de todos os tamanhos, modelos e idade. Desfilam por aí umbigos feios, bonitos, deformados, salientes, retraídos, doentes, sadios, fracos, normais e anormais. Enfim, umbigos de todos os jeitos, para o gosto de muitos e desgosto de poucos. Na passeata dos umbigos, estão solidárias quase todas as mulheres do mundo. O contágio “umbigocionista” ( misto de umbigo+exibicionismo) atingiu a maioria delas,de forma mais democrática possível. Mulheres de todas as posições sociais, credo, raça, cor, peso e tamanho, aderiram a essa gigantesca cruzada umbilical (para a sorte nossa não é,também,belicosa!). É invejável a solidariedade entre elas! Parece que guiados por um comando invisível e único, os umbigos foram arregimentados, em massa, para esse monumental desfile que, ora, presenciamos. Andando pelas ruas de qualquer cidade; freqüentando qualquer ambiente, por mais insignificante que se considere; nos lares pobres, ricos ou miseráveis, vêem-se umbigos e mais umbigos de fora; uma enxurrada monumental deles! Afoitos e sem qualquer etiqueta, lá estão eles a nos expiar, por todos os cantos e encantos. De onde vieram tantos umbigos? Porque, de repente, se desinibiram tanto? Porque se desnudaram desse jeito? Vieram para ficar ou passarão céleres como muitos outros modismos? Meninas que mal saíram das fraldas, já estão a nos mostrar os seus tenros umbigos, condicionadas pelos exemplos de suas mamães que,também, se comprazem em mostrar os seus, para o mundo. Não é raro encontrarmos em uma só ocasião, três gerações de umbigos à mostra: avó, mãe, filhas e netas, juntas e felizes da vida, mostrando, orgulhosa e vaidosamente a Deus e ao mundo, os vestígios de seus cordões umbilicais. Acredito que o mundo até goste disso; mas, o Todo Poderoso…? É muito duvidoso que Ele esteja apreciando esse “umbigocionismo.”
Este assunto é muito interessante e provoca indagações que bem merecem ser analisadas. Será que alguém já parou para pensar sobre as razões que levaram a essa revolução dos umbigos? Acho que não; pois são tantos e tamanhos os problemas da nossa vida diária que não nos sobra tempo para pensarmos em umbigos; muito menos no umbigo alheio. O que deu nas mulheres do planeta que de uma hora para a outra resolveram rebaixar as suas calças e encolher as suas blusas!? Chegarão elas a um limite epidérmico para as roupas? Ninguém sabe ao certo! Tudo indica que vai depender de mais uma desconhecida ”ordem superior”. Já vemos aqui, ali e alhures, algumas mulheres com os coses das calças tão rebaixados que se vêem os seus pêlos pubianos. Aliás, estes também, em breve, serão farta e sedutoramente mostrados, com destemor e profundidade! Enquanto isso, outras tantas mostram as suas calcinhas com vaidade e pouca elegância. E quanto às grávidas? Antes, elas cobriam com conforto, segurança e pudor os seus ventres dilatados e, com cuidado e recato, resguardavam os seus fetos dos olhares mais curiosos e impudicos. Hoje! Nem um e nem outro! Barrigas enormes andam por aí, saindo fora do reduzido invólucro,com umbigo e tudo, desfilando nas ruas entulhadas de gente e de coisas. Qualquer queda, esbarrão ou pancada podem afetar a integridade física e mental de seus filhos em formação que se encontram logo atrás dos seus imensos umbigos.
Entretanto, nesse verdadeiro “tulsiname” de umbigos, não são só eles que estão emergindo impetuosamente das calças; estão sendo,também,mostrados,de mansinho; mas,vigorosamente, o baixo-ventre que de tão baixo já deixa à mostra o íntimo dos traseiros: este, de origem não tão nobre quanto à dos umbigos! Basta que os umbigos se agachem para vermos o que há milhares de anos o “homo sapiens” (que já não é mais tão sábio assim!) vem escondendo da vista do outro, com muita reserva e pudor. Antes o que se escondia por vergonha; hoje, se exibe com orgulho e vaidade! Pensando bem…, tudo isso é, no mínimo, curioso!
Belo Horizonte, outono de 2011.
* Bernardino Mendonça Carleial, Psicólogo-Clínico pela Universidade Católica de Minas Gerais; Estudante de Direito da Universidade Estácio de Sá; Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.