Mal começaram as campanhas eleitorais no rádio e na TV e Dilma já ganhou a eleição. [Mas não com o meu voto!]. Exagero meu? Vamos dizer a coisa numa linguagem técnica: Neste momento eleitoral, Dilma tem 90% de chances contra 10% de Serra. Ela pode ainda perder, mas é muito pouco provável.
Você poderá retrucar: Mas ainda há muita água para rolar debaixo da ponte e o quadro pode sofrer drásticas mudanças. Afinal de contas, foi você mesmo quem afirmou que mal começaram os programas eleitorais na TV e no rádio… Se é assim, grande parte dos eleitores ainda não avaliaram bem os candidatos.
Mesmo levando isso em consideração, tenho boas razões para reafirmar: Dilma já ganhou. [Mas não com o meu voto! Tenho a honra de fazer parte dos 4% de eleitores que acham o governo Lula ruim ou péssimo].
Por que afirmo e reafirmo isso? Se observarmos os gráficos dos desempenhos dos dois candidatos desde o começo das pesquisas – Marina sempre correu por fora como uma grande zebra! – verificaremos que formam um X, ou seja: uma curva ascendente de Dilma e uma curva descendente de Serra.
O que quero dizer é que dificilmente essas curvas chegarão a um ponto de interseção com as subseqüentes ascensão de Serra e declínio de Dilma.
Nada impede que isto ocorra, mas, reitero: é muito pouco provável. Principalmente quando aduzimos a esse dado outro não menos importante: o desempenho dos dois candidatos num quadro regional.
É sabido que Serra tinha seu grande trunfo eleitoral no conhecido Triângulo das Bermudas: São Paulo, Minas e Rio, os três maiores colégios eleitorais do Brasil. Uma grande aceitação de sua candidatura na Região Sudeste compensaria uma grande rejeição da mesma na região Nordeste em que há o maior número de bolsas família.
Esta última de fato tem ocorrido desde o início das pesquisas, como já era esperado, mas a primeira não tem ocorrido, contrariando todas as expectativas. Serra continua tendo uma boa vantagem em São Paulo, apesar desta ter diminuído nas últimas pesquisas. Mas tanto no Rio como em Minas Dilma está liderando com boa vantagem.
Contudo, os programas eleitorais não poderiam modificar o mau desempenho de Serra junto aos eleitores? Considerando que ele é o candidato notadamente mais preparado, tem uma história de vida pública bem melhor, foi um bom ministro da saúde e um bom administrador no governo de São Paulo, tudo isto não faria que ele revertesse a tendência altamente desfavorável?
Se os programas eleitorais no rádio e na TV tivessem o mesmo impacto que tiveram em eleições passadas, esses atributos de Serra teriam que ser levados em séria consideração como fator capaz de reverter a referida tendência descendente.
Mas o que tenho observado é que esses programas não possuem mais a força eleitoral que possuíam. Muito mais forte do que eles são a militância política constante – não a de boca de urna – a influência de prefeitos e líderes regionais. Principalmente em Minas em que Aécio, aliado de Serra, malgrado seu índice de popularidade superior a 80%, não conseguiu alavancar nem seu sucessor.
Mas por que razão os programas eleitorais perderam a força que tinham, ainda que transmitidos em redes nacionais do Oiapoque ao Chuí, alcançando mesmo as grandes massas de ouvintes e expectadores que nunca leram um jornal?
Esse fato político relativamente novo merece uma análise mais acurada, mas mesmo assim, arrisco uma hipótese: o baixo nível do discurso dos candidatos, os reiterados chavões, a mesmice e a chatice de suas falas, tudo isso e mais alguma coisa fazem com que a maioria desligue os aparelhos de rádio e TV.
Eu mesmo confesso que só assisto aos programas eleitorais da TV, para me divertir com a indigência intelectual de alguns candidatos beirando mesmo as raias da comicidade.
Mas você pode continuar fazendo objeções à minha ousada afirmação de que Dilma já ganhou. Pode alegar que um fato político altamente relevante, destes que desmoralizam completamente um candidato, poderá ocorrer fazendo com que Dilma despenque nas pesquisas e Serra cresça ganhando a eleição…
De fato, isto não é impossível. Mas é altamente improvável. Houve época em que um escândalo – como o de Lula durante o período eleitoral – fez com que ele despencasse e Collor saísse vitorioso. Mas os tempos são outros! Escândalos passados, escândalos enterrados!
Mas, assim como a força da propaganda política nos programas eleitorais já não é a mesma, escândalos políticos somente produzem efeitos epidérmicos e momentâneos, caindo muito rápido no esquecimento. Sua reincidência assaz freqüente produziu o que Hannah Arendt chamou de “a banalização do mal”. Ela tinha em mente a conjuntura geradora do nazismo de Hitler…
A prova disto é o mensalão em que o indiciamento dos quarenta ladrões fez o povo esquecer do chefão da quadrilha. A um brevíssimo período de suspeição, seguiu-se a beatificação do mesmo – coisa que só cresceu desde então prefigurando sua anunciada santificação.
Dilma está imunizada contra qualquer acusação de desvio de conduta. Ainda que todos os eleitores brasileiros soubessem que ela foi a companheira Estella do Var-Palmares, que se empenhara em derrubar a ditadura de direita – mas para estabelecer outra de esquerda!- e que por isso mesmo foi condenada a 3 anos de prisão por um tribunal militar, pouquíssimo efeito isso teria em sua decisão de elegê-la, apesar de sua face estar estampada na revista Época (em 16/8/2010) com ampla reportagem sobre seu passado. Dilma está imunizada e os eleitores entorpecidos!
E além disso, não há nenhuma indicação séria de que ela tenha mudado de ideologia, a não ser por manobra conveniente no momento, tal como aconselha o estrategista Antonio Gramsci, o guru daqueles que querem fazer a “revolução cultural” marxista e que tem sido seguido no Brasil com grande sucesso. Unfortunately!
E supondo que minha afirmação de que ela já está eleita venha a se confirmar – e é necessário dizer que este é o cenário que vejo, não o que desejo – teremos uma situação assaz esdrúxula para os civis e bastante desmoralizante para os militares: uma ex-condenada por crime de subversão da ordem ser Presidente da República, ou seja: o Comandante Supremo das Forças Armadas!
apêndice I: pesquisas eleitorais fraudadas?
Tenho recebido por e-mail vários artigos que procuram mostrar que todas as últimas pesquisas, mostrando grande crescimento de Dilma, estão fraudadas. Penso que isto é altamente improvável. Se houvesse um plano do governo Lula para corromper todos os institutos de pesquisa e levá-los a fraudar suas pesquisas, deveria haver outro para fraudar também a apuração informatizada. Isto não é tecnicamente impossível, porém é politicamente bastante improvável. Já pensou o custo político que isso teria, caso descoberto?
Um gritante contraste entre os resultados das pesquisas e o das urnas, levaria ao descrédito total instituições que vendem credibilidade e não a vendem somente no período eleitoral.
apêndice II: como seria o governo de dilma
Não gosto de fazer predições sem embasamento, mas há coisas que são certas, caso Dilma ganhe mesmo a eleição. Uma delas é que Dilma não governará!
Por não conseguir superar grandes dificuldades relativas à governança? Não, porque se moverá exatamente como uma marionete cujos fios serão puxados por Lula escondido atrás do pano, para as ingênuas crianças não o verem e pensarem que Dilma tem mesmo movimento próprio…
* Mário Antônio de Lacerda Guerreiro, Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.