Sociedade

As consequências da reeleição no Irã: o Brasil só tem a ganhar

Por Jorge Mortean *

A reeleição do presidente iraniano Hassan Rouhani, confirmada no dia 20 de maio, merece uma especial atenção aos olhos ocidentais. Refletindo à continuidade do presidente moderado em manter uma política externa mais próxima com as potências ocidentais, tentando dar mais dinâmica econômica a um país jovem e ávidos por mudanças, o segundo mandato de Rouhani começa com desafios importantes em três esferas de análise.

A primeira, doméstica, pode ser lida como uma última cartada à ala moderada da política iraniana e, bem dizer, também ao regime teocrático. O Irã é um país grande em dimensões, principalmente a demográfica: 70% da população têm menos de 40 anos de idade. Logo, a jovem sociedade iraniana encontra sinais de dinamismo em novos planos econômicos e um gradual aumento do investimento estrangeiro direto. Parece ser esta uma saída para salvar o país após décadas de sanções econômicas impostas pelo Ocidente, hoje caducas, graças ao acordo nuclear capitaneado pelos Estados Unidos sob a administração Obama.

A segunda esfera se refere à política internacional. As recentes menções que Trump faz ao Irã pressiona Israel a retomar sua retórica conservadora e unir seu coro ao dos árabes sunitas, principalmente a Arábia Saudita, histórica rival iraniana na região. O acirramento das relações regionais, instigadas por uma política míope que surge em Washington, certamente levará a uma escalonada de guerras como a Síria e o Iêmen e podem, sim, comprometer a luta ao terrorismo promovido por radicais islâmicos.

A terceira e última análise aponta para as oportunidades que se abrem ao Brasil. Sem os Estados Unidos como concorrentes diretos, nossa centenária e muito amistosa relação com os iranianos nos abre portas principalmente na exportação de tecnologias e à expansão de franquias. Os oitenta milhões de iranianos urgem agora por mais serviços e produtos que poderiam ser perfeitamente supridos por nossas empresas.

Nosso país é historicamente muito bem quisto por lá, temos uma excelente imagem, ligada à nossa irreverência e modernidade, que pode ser ainda melhor com o segundo mandato do moderado e liberal Rouhani. Mais do que nunca, esta é a exata hora para ampliarmos ainda mais o nosso segundo maior superávit comercial daquela região.

 

* JORGE MORTEAN – Consultor de Cultura e Negócios Internacionais (Brasil-Irã) da Mercator Business Intelligentsia. Geógrafo formado pela Universidade de São Paulo (USP) e Mestre em Estudos Regionais do Oriente Médio, é Pesquisador das relações diplomáticas entre a América Latina e o Oriente Médio. Doutorando em Geografia Política, também pela USP, atuou como Professor do curso de Relações Internacionais da FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado e também na Universidade Paulista (UNIP).

 

Como citar e referenciar este artigo:
MORTEAN, Jorge. As consequências da reeleição no Irã: o Brasil só tem a ganhar. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2017. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/as-consequencias-da-reeleicao-no-ira-o-brasil-so-tem-a-ganhar/ Acesso em: 22 nov. 2024
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