29/12/2010
O encerramento do governo Lula e a posse da
presidente Dilma são fatos que nos colocam o desafio de conjecturar o que
esperar do ano novo. Estou pessimista, menos pela troca de comando do que pelos
fatos da conjuntura. A troca de governante, todavia, deve ser encarada também
como sintoma de um tempo que se completou e da abertura de um novo ciclo. Creio
que o governo Lula encerra um momento de grande prosperidade, que nada teve a
ver com o seu governo. Simplesmente uma conjunção de fatores internacionais
favoreceu e, a despeito de suas tolices e dos seus erros, a coisa andou bem
para o Brasil.
Dilma assume sob outro signo. Os tempos agora
são desfavoráveis. A Europa está colocada diante de um desmonte fiscal que
poderá trazer a recessão profunda e prolongada em seu território. Os EUA não
estão menos desfavorecidos, sob o desafio da recessão e da inflação. E da
inação de Barack Obama, que parece ser esgotado sua política. Ele não sabe o
que fazer. A China está agora ameaçada
pela inflação e tem que tomar deveras medidas de contenção. O somatório de tudo
isso é que o ano de 2011 poderá ser o pior, em termos econômicos, em uma
década.
Não menos relevante é o cenário interno, de
explosão dos gastos públicos, desaparecimento do superávit primário do governo,
do gigantesco déficit nas contas internacionais (ainda financiável pelo
exorbitante taxa de juros que se paga aos capitais externos que por aqui
aportam), a sempre ameaçadora inflação que, a despeito do câmbio, teima em se
elevar. A Dilma Rousseff, se ela tiver um pingo de responsabilidade e senso
público, só caberá o puxar do freio de mão, para deter a orgia dos gastos
públicos e o descontrole de todas as contas.
Bem sabemos que um cenário de retração como
esse não é tranqüilo. Os conflitos serão inevitáveis. A tal base do governo é
gastadora e insaciável e sempre raciocina como se a lei da escassez não
existisse, mas ela, de uma forma ou de outra, se impõe, sempre. A crise
econômica que se avizinha pode redundar em crise política para uma governante
estreante em tudo e de legitimidade bastante inferior à de Lula. Governante
fraca em meio a uma crise econômica e política é uma situação bastante
perigosa.
E ainda tem a agenda de reformas que o PT quer
perseguir, a começar pela reforma política, fadada a ser rejeitada. E o tal
Plano Nacional dos Direitos Humanos, não menos problemático. E a reforma nas
leis que regulam a liberdade de imprensa. Como vivemos o auge de uma república
sindicalista, o encontro de crise econômica, crise política, inflação, déficit
crescente com o mercado externo e a ausência de pulso forte da governante pode
levar o país à convulsão de greves intermináveis. E, também, à paralisia no
Legislativo.
A roda girou e sua posição agora não é nada
favorável. É esperar para ver. O ano novo promete muitas emoções, mas também
desespero. Quem viver verá.
* José
Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo.
Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um
dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos
diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação
Nacional de Livrarias – http://www.nivaldocordeiro.net