23/08/2008
“Quem não tem visão bate a cara contra o muro”.
Raul Seixas
Eu tenho um punhado de razões para não confiar em José Serra e mesmo não
gostar de seu estilo autoritário. Nem do seu socialismo, que impiedosamente
elevou impostos em São Paulo e impôs decisões perfectibilistas e autoritárias
sobre os costumes da população em banalidades, como o hábito de fumar. Nem de
seu projeto de poder, que faz do Estado um monstro que quer servir de
instrumento de distribuição de renda, sacrificando a ética da propriedade
privada e da meritocracia, instituindo o roubo institucional. Minha própria
visão de Estado é aquela que vigorou na Era Vitoriana e bem sei que ela foi
soterrada pelo aterrorizante século XX, tempo em que o Estado liberal foi
assassinado pelos socialistas de todos os matizes.
Nem por isso vou gostar da alternativa posta para a continuidade lulista
de Dilma Rousseff. O projeto de poder do PT é muito mais atroz, muito mais
monomaníaco, tem propósitos claramente totalitários. Cada um dos defeitos e
maus propósitos de José Serra e seu PSDB são multiplicados e piorados pelo
projeto político do PT a níveis inimagináveis, aparentado que é com o projeto
de Lênin. O PT lidera o consórcio entre as forças revolucionárias que restaram
dos anos sessenta, do sindicalismo mais mafioso formado nos anos oitenta e dos
interesses da plutocracia rentista inescrupulosa. Não ao acaso abundam recursos
na campanha da Dilma Rousseff e mínguam na de José Serra. Dilma é a candidata
dos muito ricos.
Então não podemos confundir ambas as candidaturas na sua capacidade malfazeja
para a liberdade e o respeito aos direitos individuais. Sem qualquer sombra de
dúvida o projeto do PT é malicioso e pernicioso sob todos os aspectos, com o
agravante de que o PT não deseja e tentará impedir por todos os meios a
alternância de poder. Não querem mais largar a rapadura. O PT, se puder, imporá
uma ditadura.
Tenho a convicção de que o projeto totalitário do PT chegará ao apogeu
com Dilma Rousseff. A fase de acumulação de força terá sido superada e o PT,
com a grande bancada que, parece, fará, terá o seu comando no futuro Congresso
Nacional, poderá realizar todas as modificações que inventar, inclusive aquelas
de natureza constitucional. Os democratas do Brasil correm perigo, as
liberdades correm perigo. Eu sinto que caminhamos para um período tenebroso da
nossa vida política com a possível vitória da candidata da situação.
Uma quase impossível vitória de José Serra daria continuidade ao que
está posto, mas sem o anseio totalitário do PT. Por isso é um erro absoluto
achar que é indiferente se um ou outro ganhar, por mais que alguns aspectos
formais do seu socialismo se aproximem, bem como a união da origem comum de
muitas de suas lideranças. A ala patrimonialista que apóia Dilma, aquela do
PMDB de Sarney, Collor e Renan Calheiros, não teria nenhum problema moral de
aderir a Serra, mesmo antes da posse. Serra mudaria integralmente a política
exterior e cortaria qualquer cooperação com forças políticas revolucionárias
ativas, como as FARC. E reaproximaria o Brasil dos EUA. Veja-se que são matérias
substantivas as que separam ambas as candidaturas.
* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente
em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento,
escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.