Direito Penal

Na trilha maligna do crack


Para produzir o crack, usam-se a borra da pasta
base da cocaína, ou seja, o lixo da cocaína que é diluída em solventes e
misturada a outros produtos químicos. O ácido sulfúrico está entre eles. Outra
substância com capacidade parecida de destruição é o ácido clorídrico que,
quando inalado, pode causar ferimentos graves na garganta e na boca do usuário.
Também são usados  bicarbonato de sódio ou amônia, a cal virgem e a
gasolina ou querosene que manipulados se
transformam em uma espécie de pedra meio tenra facilmente quebrável, de cor
branca caramelizada e de boa combustão,
para daí entrar no comércio negro do tráfico de drogas ilícitas e proibidas.

O usuário ao fumar toda essa
parafernália aspira o vapor venenoso para dentro de seus pulmões, entrando em
conseqüência na sua corrente sanguínea. Como o crack é inalado na forma de
fumaça e possui toda essa gama de produtos químicos altamente nocivos à saúde
de qualquer ser vivo, ele chega ao cérebro muito mais rápido do que a cocaína ou de qualquer outra droga,
causando também um malefício mais abrangente para o usuário que sempre vicia a
partir do primeiro experimento.

A ação do crack atua
sobre o sistema nervoso central, provocando aceleração dos batimentos
cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso,
tremores, excitação. Os usuários apresentam problemas no sistema respiratório
como congestão nasal, tosse e sérios danos nos pulmões. A droga também pode
afetar o trato digestivo, causando náuseas, dores abdominais, perda de apetite
com conseqüente excessiva eliminação de peso e desnutrição.


Os efeitos psicológicos imediatos do crack são a euforia e a sensação de poder.
Com o uso constante da droga, aparecem cansaço intenso, forte depressão e
desinteresse sexual. Em grande quantidade, o crack pode deixar a pessoa
extremamente agressiva, paranóica e fora da realidade, como se estivesse em
outro mundo, noutra vida. O cuidado pessoal do usuário passa a não mais existir
e sua autoestima rasteja aos mais baixos níveis.


A droga destrói os neurônios e promove a degeneração dos músculos do corpo,
fenômeno conhecido na medicina como rabdomiólise, causando a aparência
esquelética no indivíduo, com ossos da face salientes, pernas e braços 
finos e costelas aparentes.


O usuário do crack pode ter convulsão e como
conseqüência desse fato, pode levá-lo a uma parada respiratória, coma ou parada
cardíaca e enfim, a morte. Além disso, para o debilitado e esquelético
sobrevivente seu declínio físico é assolador, como infarto, dano cerebral,
doença hepática e pulmonar, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC),
câncer de garganta e traquéia, além da perda dos seus dentes, pois o ácido
sulfúrico que faz parte da composição química do crack assim trata de furar,
corroer e destruir a sua dentição.

O crack vai destruindo o seu usuário em vida ao
ponto dele perder o contato com o mundo externo, se tornando uma espécie de
zumbi, ou morto-vivo, movido pela compulsão à droga que é intensa e
intermitente. Como os efeitos alucinógenos têm curta duração, o usuário dela
faz uso com muita freqüência e a sua vida passa a ser somente em função da
droga.

Além dos citados problemas de saúde que recaem para
os usuários do crack, as ocorrências no seu terreno familiar e social sempre
passam para a área criminal e vão caminhando rapidamente em largas vertentes para
dias piores. A vida vivida pelos envolvidos com o vício do crack parece sempre
transpor os inimagináveis pesadelos, pois do crack e pelo crack são capazes de
praticar qualquer crime.

Na trilha maligna do crack, o seu usuário encontra
o desencanto, a dor, a violência, o crime, a cadeia, a desgraça e o cemitério
precocemente. O crack traz o ápice da insanidade humana. Alguns que se
recuperaram do poder aniquilador do crack disseram que dele sentiram o gosto do
inferno.

Por sua vez, apesar de tudo isso, apesar dessa
realidade brutal e com perspectivas de piorar ainda mais com a sua crescente
problemática, sentimos o poder público ainda meio tímido, sem verdadeira
vontade política para debelar tal situação, assertivas essas comprovadas pelo
andamento de alguns projetos que já se mostraram ineficientes e outros que se
mostram apenas paliativos em ação.

É fácil de concluir que o perfil da sociedade
brasileira se transformou e os problemas familiares, sociais, da saúde e da
segurança pública mudaram consideravelmente para pior a partir do advento do
crack. Dentro desse contexto também cresceram e continuam crescendo todos os
índices de crimes possíveis, destarte os crimes de furto, roubo, latrocínio e
homicídio.

Assim, por justo o povo clama por solução adequada,
por remédio curativo, não paliativo. Projetos verdadeiros e efetivos devem
entrar em ação com urgência urgentíssima, pois os problemas deixados na maligna
trilha do crack crescem em proporções geométricas e atingem em cheio a nossa
sociedade.

(Delegado de Policia
no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Publica

Como citar e referenciar este artigo:
MARQUES, Archimedes. Na trilha maligna do crack. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direitopenal-artigos/na-trilha-maligna-do-crack/ Acesso em: 02 jan. 2025
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