HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia Das Letras, 1995. 195 p.
Sérgio Buarque de Holanda nasceu em São Paulo em 1902 e faleceu em 1952. Lecionou em várias instituições de ensino superior e é o autor de
vários livros. Entre suas obras mais importantes estão Cobra de vidro (1944), Caminhos e fronteiras (1956), mas principalmente Raízes do Brasil (1936).
A obra, composta de 188 páginas, é dividida em sete capítulos. É um livro curto, discreto, de poucas citações, seu êxito de qualidade foi
imediato e se tornou um clássico.
Apresenta uma importante reflexão com relação ao processo de colonização e suas consequências na formação do povo brasileiro. Aspectos históricos,
políticos, econômicos e culturais são amplamente discutidos e analisados pelo antropólogo, mostrando aos leitores que as características dos países
europeus foram fundamentais na construção dos países latino-americanos.
O primeiro capítulo, “Fronteiras da Europa”, dispõe características dos países da Península Ibérica e suas diferenças no processo de
colonização da América. O autor proporciona a reflexão sobre os defeitos dos brasileiros dos dias atuais, tais como frouxidão das instituições e a
falta de coesão social, mostrando que esses sempre existiram desde a origem. Em outras palavras, possibilita o entendimento da origem do brasileiro,
cujos defeitos foram herdados de nossos colonizadores. Alude a um dos temas fundamentais do livros: a repulsa pelo trabalho regular e as atividades
utilitárias.
No segundo capítulo, “Trabalho e aventura”, o autor distingue o trabalhador e o aventureiro, os quais possuem éticas opostas. O primeiro
busca segurança e recompensa a longo prazo, já o segundo busca novas experiências e a riqueza a curto prazo. Dessa forma, considera que espanhóis e
portugueses foram aventureiros no novo continente e Holanda afirma que essas características foram positivas para o Brasil.
O capítulo seguinte, “Herança rural”, analisa a marca da vida rural na formação da sociedade brasileira. Expõe sobre os donos de terras
brasileiros, que ao contrário dos europeus, viviam nas colônias, providenciavam sua própria segurança e faziam suas próprias leis, direito esse
concedido pelo pátrio poder. As pessoas iam aos centros urbanos a fim de participar de solenidades e festejos. O autor termina o capítulo afirmando que
o ruralismo predominou pelo esforço dos colonizadores e não por imposição do meio.
O quarto capítulo, “O semeador e o ladrilhador” estuda a importância da cidade como instrumento de dominação e a diferença entre espanhol e
português nesse aspecto. O espanhol teve como intuito estabelecer um prolongamento estável da Metrópole, enquanto que os portugueses foram “semeadores”
de cidades irregulares nascidas e criadas no litoral.
O quinto capítulo, “O homem cordial”, aborda as consequências do desenvolvimento da urbanização, que acarretaria um desequilíbrio social,
cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje. O título do capítulo não pressupõe bondade, mas o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva não
necessariamente sinceras nem profundas.
O sexto capítulo, “Novos tempos”, estuda consequências dos aspectos dispostos anteriormente na configuração da sociedade brasileira, a partir de 1808
com a vinda da Corte portuguesa, que causou o primeiro choque nos velhos padrões coloniais.
O sétimo e último capítulo, “Nossa revolução”, sugere como a dissolução da ordem tradicional ocasiona contradições não resolvidas, que nascem no nível
da estrutura social e se manifestam no das instituições e ideias políticas.
Raízes do Brasil é uma obra fundamental para o estudo sociológico e científico brasileiro, que vai buscar as origens culturais do país em Portugal, no latifúndio
escravocrata e na família patriarcal rural. É importante lembrar que o Brasil contemporâneo ao que o autor se refere é o da década de 30. Por isso, nos
dias de hoje deve-se ler e analisar a obra com cuidado para que não sejam cometidos anacronismos, dificultando a compreensão da importância que a obra
traz para o estudo da história do país. Dessa forma, consiste em leitura obrigatória para os estudantes e cientistas que buscam compreender as raízes
brasileiras e sua própria cultura.
* Thuany Klososki Piccolo Bertin, Acadêmica de Direito da 2ª fase da Unoesc Chapecó.