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Casos Araguaia e Gelman são relatados durante encontro sobre Memória, Verdade e Justiça






A primeira mesa do 5º Encontro Latinoamericano Memória, Verdade e Justiça, debateu, na tarde dessa sexta-feira (30), o tema “Conteúdo e Consequências das Sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos”, e teve como mediador Luiz Francisco Corrêa Barbosa, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH). Duas familiares de vítimas desaparecidas durante a ditadura militar, Victória Grabois Olímpio (Brasil) e Macarena Gelman (Uruguai), relataram, em depoimentos emocionados, os fatos ocorridos nos casos de repercussão internacional intitulados Caso Araguaia e Caso Gelman.

 

A primeira a se manifestar foi a uruguaia Macarena Gelman. Ela relatou que sua família, natural da Argentina, mudou-se para o Uruguai. E foi naquele país que ocorreu o sequestro de seus pais em 1976 pelo regime militar. Conforme Macarena, no momento do sequestro, sua mãe estava grávida de sete meses e, conforme informações que obteve, ela teve de realizar seu parto em um hospital militar. Macarena foi entregue para adoção e só soube de suas verdadeiras origens aos 23 anos de idade. A uruguaia relatou que seus pais foram vítimas da Operação Condor. Macarena demonstrou-se contente pela aprovação do fim da prescrição de crimes da ditadura no Uruguai e pelo pedido de desculpas pelo presidente de seu país, José Mujica, em nome da nação uruguaia aos familiares de vítimas do regime militar.

 

Pilar Elizalde, do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil Cone Sul), afirmou que a Lei Federal aprovada no Uruguai, em 2010, repara os erros cometidos não apenas a uma família, como a de Gelman, mas a todos que tiveram parentes vítimas do regime militar em seu país. A lei determinou o fim da prescrição dos crimes cometidos durante a ditadura militar no Uruguai.

 

A terceira painelista, Victória Grabois Olímpio, do Grupo Tortura Nunca Mais RJ/Brasil, realizou um relato emocionante desde o momento do sequestro de seus parentes até sua luta travada atualmente por reconhecimento de seus direitos. Ela perdeu três parentes de uma única vez (seu pai, irmão e primeiro marido), na ação do regime militar brasileiro no Araguaia. Victória relatou que ela e sua família chegaram a viver na clandestinidade durante anos, mas nunca desistiram de lutar pelos seus direitos. Conforme informou, somente naquela região, foram registradas 70 pessoas desaparecidas. “Se hoje nós estamos fazendo uma discussão é devido à luta das famílias, foram elas que iniciaram”, referindo-se aos familiares de vítimas. Segundo Gabois, a principal luta travada por ela e as demais famílias foi a de descobrir a circunstância das mortes e o paradeiro dos corpos. Ela é uma das fundadoras do Grupo Tortura Nunca Mais, que luta até hoje pelos direitos dos desaparecidos políticos.


A representante do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil Brasil), Beatriz Affonso, falou sobre as ações da Corte Interamericana pela busca do reconhecimento dos direitos aos familiares de desaparecidos políticos durante o regime militar brasileiro. Ela explicou que as famílias dos desaparecidos somente irão aceitar um ato público de reconhecimento, semelhante ao realizado pelo presidente do Uruguai, quando o Brasil finalmente abrir os arquivos da ditadura militar. Beatriz também informou que a criação da Comissão da Verdade na Câmara dos Deputados é valorizada pelo tribunal interamericano, que sancionou uma lei que prevê a constitucionalidade no Caso Araguia.


Carlos Etchegoyhen, psicanalista uruguaio, finalizou esta primeira mesa  falando sobre o contexto histórico da ditadura militar instalada nos países da América Latina. Para o psicanalista, “foi uma era infame na nossa história, foram anos duros”, avaliou.

 

Presenças

Estiveram presentes no encontro os deputados estaduais Raul Carrion (PCdoB), Miki Breier (PSB) e Juliana Brizola (PDT), a ex-deputada federal Luciana Genro (PSOL) e o deputado federal Chico Alencar (PSOL).

Fonte: AL/RS

Como citar e referenciar este artigo:
NOTÍCIAS,. Casos Araguaia e Gelman são relatados durante encontro sobre Memória, Verdade e Justiça. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2012. Disponível em: https://investidura.com.br/noticias/alrs/casos-araguaia-e-gelman-sao-relatados-durante-encontro-sobre-memoria-verdade-e-justica/ Acesso em: 12 nov. 2025
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