Ao contrário do que é propagado, a rodovia da morte nas regiões do Rio Doce e do Vale do Aço é a BR-116, e não a BR-381. A informação foi apresentada pelo chefe da Delegacia da Polícia Rodoviária Federal de Caratinga, inspetor Fernando César Ribeiro Cabral, no segundo encontro regional do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, na manhã desta terça-feira (5/6/12), em Governador Valadares. O evento, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em parceria com cerca de 50 instituições, tem o objetivo de discutir e buscar propostas da sociedade para reduzir os acidentes e as mortes nas ruas e estradas mineiras.
De acordo com o inspetor, a BR-116 é a responsável por três vezes mais mortes do que as registradas na 381. Em 2011, 82 pessoas morreram nos 1.538 acidentes registrados na rodovia. Foram computados 799 feridos leves e 296 em estado grave. No mesmo período, a BR-381 registrou 570 acidentes, com 43 mortos, 92 vítimas graves e 311 feridos leves.
Na comparação com 2010, houve uma redução dos índices em 2011. Na BR-116, foram 1.610 acidentes, com 100 mortos, 335 feridos graves e 856 feridos leves em 2010. Já na BR-381, no mesmo ano, foram registraddos 655 acidentes, 66 mortos, 121 vítimas em estado grave e 379 com ferimentos leves. “Sabemos da importância da duplicação da 381, mas temos que voltar nossa visão para essa realidade. É preciso desmistificar: a rodovia da morte na região é a BR-116”, reiterou.
Fernando César alertou, ainda, para a ocorrência de acidentes nos perímetros urbanos de Governador Valadares e Caratinga, onde ocorreram 34% dos acidentes de 2011, 42% dos feridos e 13% dos mortos registrados na BR-116. Em Valadares, foram 270 acidentes; na cidade vizinha, 260. “O perímetro urbano hoje é um gargalo para a Polícia Rodoviária Federal. Há necessidade de uma intervenção dos órgãos públicos no perímetro urbano, com melhoria da infraestrutura, com a construção de travessias de pedestres e passarelas”, exemplificou.
Negligência – Os jovens são as maiores vítimas do trânsito da região, segundo o inspertor Fernando César: 50% das vítimas de trânsito estão na faixa etária dos 20 aos 40 anos. E a principal causa de acidentes, nas duas principais rodovias da região, é a negligência.
Em 2011, na BR-116, a falta de atenção do motorista levou a 690 ocorrências e 26 mortes; por alta velocidade, foram 165 acidentes e 9 mortes; por ultrapassagem indevida, 45 acidentes e dez mortes. Na BR-381, a falta de atenção foi a causa de 138 acidentes e cinco mortes; a velocidade incompatível respondeu por 125 ocorrências e 11 mortos; e a ultrapassagem indevida, por 33 acidentes e 9 mortes.
Aumento de acidentes na cidade preocupa autoridades
O aumento crescente dos acidentes dentro da cidade de Governador Valadares preocupa autoridades locais. O diretor de Trânsito, Transportes e Sistema Viário da Prefeitura Municipal, Marco Rodrigo Rios Bertolacini, informou que apenas de janeiro a março deste ano foram registrados 700 acidentes na cidade. No ano passado, o número chegou a 2,1 mil, dos quais 1.275 com vítimas; em 2010, foram 1.938 acidentes, 1.169 deles com vítimas.
As motos são as responsáveis pelo maior número de acidentes na cidade. De acordo com o coordenador médico do SAMU Macro Nordeste/Jequitinhonha, José Roberto Corrêa, elas são responsáveis por 73% das ocorrências atendidas pelo serviço. O comandante do 6º Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que engloba Valadares, major Neri de Mattos, afirmou que a corporação atende, na região, entre 500 e mil acidentes por ano, envolvendo motos.
O oficial explicou que os bombeiros participam apenas dos acidentes que exigem resgate de vítimas, atentando para o fato de que, por isso, o número de ocorrências é muito superior. Governador Valadares ocupa a sexta posição, no Estado, em acidentes, registrando, em 2011, 738 ocorrências, um acréscimo de 10,33% em relação ao ano anterior. A campeã é Uberlândia, que registrou 3.343 acidentes, seguida pela capital, Belo Horizonte, com 3.318.
Trotes – O coordenador do Samu lamentou o excessivo número de trotes que o serviço recebe. Dos 7.101 telefonemas recebidos em abril deste ano, 6.334, ou 89,2%, eram falsos. Ele lembrou que todo acidente grave exige profissionais de diferentes órgãos e demanda recursos públicos que podem ser desperdiçados em função dos trotes. “Precisamos acabar com isso”, sugeriu.
Os gastos com os acidentes de trânsito também foram destacados pelo diretor clínico do Hospital Municipal de Governador Valadares, o médico Paulo César Ribeiro Marques. Segundo ele, uma vítima de acidente que morre no hospital custa, aos cofres públicos, cerca de R$ 270 mil e um ferido que se recupera exige cerca de R$ 36 mil para o tratamento. “Isso é mais assustador quando avaliamos que temos um Vietnã por ano no Brasil”, afirmou, ao comparar o número de mortes em trânsito, cerca de 50 mil, com o número de vítimas fatais registradas naquela guerra, que chegou a 56 mil.
Políticos defendem mudança de comportamento para reduzir ocorrências
Políticos presentes ao debate defenderam políticas de educação no trânsito, para mudar a cultura e o comportamento de motoristas e pedestres e reduzir o número de acidentes. O deputado João Leite (PSDB), presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa, disse que já não é mais possível o Brasil conviver com a grande quantidade de acidentes. Além das perdas irreparáveis para as famílias das vítimas, o parlamentar afirmou que o prejuízo para o País é incalculável, pois milhares de pessoas sofrem sequelas permanentes em função dos acidentes, ficando impossibilitados de trabalhar e dependes da Previdência Social. “O trânsito tem exigido uma estrutura imensa do poder público, além de investimentos exorbitantes”, observou.
O parlamentar citou, como exemplo, o que é exigido do Hospital João XXIII, de Belo Horizonte: sete de cada dez leitos destinados a internações são ocupados por vítimas de trânsito. “Os acidentes de trânsito têm que ser tratados como uma epidemia. A sociedade precisa se envolver, para que possamos erradicar esse mal que nos atinge”, afirmou.
Ao abrir a reunião, João Leite leu mensagem do presidente da ALMG, Dinis Pinheiro, na qual destacou que 1,3 milhão de pessoas morrem por ano no Brasil, vítimas de acidentes no trânsito. “Ficamos ainda mais consternados ao perceber os impactos que provocam na sociedade”. Dinis Pinheiro reforça que os recursos destinados para o problema podiam ser empregados em outras áreas, como a habitacional, e na redução da pobreza. “As mudanças que precisamos desenvolver é, sobretudo, cultural. É preciso mudar o comportamento no trânsito”, defendeu.
A prefeita de Governador Valadares, Elisa Costa, também exortou a importância da educação no trânsito. Com esse enfoque, a Câmara Municipal da cidade aprovou, em maio, um estatuto do pedestre, que inclui regras e normas para um comportamento mais gentil no trânsito.
O deputado Bonifácio Mourão (PSDB) concordou sobre a importância da educação do motorista, especialmente na atualidade, em que o número de veículos está aumentando desordenadamente, impulsionado pela redução dos preços em consequência da diminuição dos impostos. “É preciso melhor planejamento e fiscalização”, disse. O parlamentar também defendeu a duplicação da BR-381, para reduzir o número de mortes que ocorrem na rodovia.
Outros encontros – Além de Governador Valadares, o ciclo de debates contará com outros encontros regionais: Poços de Caldas (Sul), em 13/6; Montes Claros (Norte), em 15/6; Uberlândia (Triângulo Mineiro), em 22/6; Juiz de Fora (Zona da Mata), em 25/6; Ibiá (Alto Paranaíba), em 26/6; Divinópolis (Centro-Oeste), em 28/6. O último debate será realizado em Belo Horizonte, na Assembleia, em 5/7.
O ciclo tem o envolvimento de cinco comissões permanentes da ALMG: Segurança Pública; Saúde; Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Educação, Ciência e Tecnologia; e Transporte, Comunicação e Obras Públicas.
Fonte: AL/MG