TRF4

TRF4, 00010 AGRAVO EM APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 2006.71.05.009144-5/RS, Relator Des. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz , Julgado em 12/12/2007

—————————————————————-

00010 AGRAVO EM APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 2006.71.05.009144-5/RS

RELATOR : Des. Federal CARLOS EDUARDO THOMPSON FLORES LENZ

AGRAVANTE : ZOE DA SILVA SOUZA e outro

ADVOGADO : Aloisio Jorge Holzmeier e outros

INTERESSADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS

ADVOGADO : Milton Drumond Carvalho

EMENTA

MANDADO DE SEGURANÇA. PENSÃO DE SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO. APLICABILIDADE DA LEGISLAÇÃO

VIGENTE À DATA DO ÓBITO DO SERVIDOR. ÓBITO POSTERIOR À VIGÊNCIA DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº

41/03. VALOR DA PENSÃO LIMITADO AO TETO ESTABELECIDO PARA OS BENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE

PREVIDÊNCIA SOCIAL ACRESCIDO DE 70% DA PARCELA EXCEDENTE.

1. Realmente, não há que se falar em direito adquirido dos impetrantes à pensão integral, eis que até a data do óbito do segurado, que

constitui o fato gerador do benefício, possuíam os apelantes apenas a expectativa de direito, não amparado, porém, no art. 5º,

XXXVI, da CF/88.

Com efeito, é pacífico na doutrina e na jurisprudência, notadamente da Suprema Corte, que só há o direito adquirido quando o ato ou

fato se apresente perfeito e acabado, nos termos da lei em vigor no seu tempo, de modo a incorporar-se, definitivamente, ao

patrimônio de seu titular (Nesse sentido os votos dos eminentes Ministros ELOY DA ROCHA e ALFREDO BUZAID, proferidos

nos julgamentos do RE nº 70.098, in RTJ 60/746 e do RE nº 95.519-DF, in RTJ 112/694-6, respectivamente).

Se o processo constitutivo não se completou, há, então, uma mera expectativa de direito, sendo, portanto, alcançada pela lei nova

(voto do Ministro PRADO KELLY, in RTJ 44/265), pois, como bem registra DUGUIT, “le droit non acquis est labsence de droit”

(LÉON DUGUIT, in Traité de Droit Constitucionnel, deuxième édition, E. de Boccard, Paris, 1923, t. 2º, p. 201, § 21).

A respeito, tomo a clássica definição de direito adquirido formulada por Gabba, verbis:

“É acquisito ogni diritto, che a) è conseguenza di un fatto idoneo a produrlo in virtù della legge del tempo in cui il fatto venne

compiuto, benchè loccasione di farlo valere non siasi presentata prima dellattuazione di una legge nuova intorno al medesimo, e

che b) a termini della legge, sotto limpero della quale accadde il fatto da cui trae origine, entrò immediatamente a far parte del

patrimonio di chi lo ha acquistato.

É adquirido todo direito que: a) for consequência de um fato idôneo para o produzir em face da lei vigente ao tempo no qual esse ato realizou, posto que não se houvesse deparado ensejo de ercê-lo antes da eução de outra lei posterior a ele concernente; e

que: b) sob o domínio da lei, durante cujo império ocorreu o fato de que se origina, entrou imediatamente a fazer parte do

patrimônio de quem o adquiriu.”

(C. F. Gabba, in Teoria della Retroattività delle Leggi, seconda edizione riveduta e accresciuta dallautore, Unione Tipografico

Editrice, Torino, 1884, v. 1º, p. 191).

Nesse sentido, ainda, o magistério de Roubier, pertinente ao caso dos autos, verbis:

“En somme, la loi nouvelle agit librement sur la situation en cours, sous la seule condition de respecter les éléments juridiques

antérieurs qui auraient une valeur propre, dans leurs conditions de validité et dans les effets quils ont produits antérieurement: peu

importe quil sagisse déléments proprement constitutifs ou déléments faisant obstacle à la constitution, du moment quil sagit de

constitution en cours.

Mais il peut y avoir difficulté à définir dans quel cas un élément de cette constitution a une valeur juridique propre: supposons quil

sagisse du délai de prescription lui-même et que la loi nouvelle se propose de le modifier. Certains auteurs ont estimé que, pour

fir etement le domaine de la loi ancienne et de la loi nouvelle, on devait se livrer à un calcul de proportion des deux délais; la

loi ancienne exigeait vingt ans et la loi nouvelle nen demande plus que dix; celui qui a déjà prescrit quatorze ans serait considéré

comme ayant accompli sept années dans les conditions de la nouvelle loi, le délai ayant été réduit de moitié. Cette opinion nous

paraît insoutenable, parce quelle tend à considérer que le délai accompli sous lancienne loi, encore quinsuffisant pour prescrire

selon cette loi, avait déjà une valeur juridique propre, que la loi nouvelle, devrait respecter; or cest là une erreur, parce que la

prescription, si elle avait été arrêtée à sa quatorzième année sous lancienne loi, naurait pas eu plus de valeur que si elle avait été

arrêtée dès la première; dans la durée du délai, il ny a quun moment que compte au point de vue du droit, cest son achèvement;

donc, tant quil nest pas achevé, la loi nouvelle peut le modifier à sa guise…”

“Em suma, a lei nova opera livremente sobre a situação em curso, com a única condição de respeitar os elementos jurídicos

anteriores que tenham um valor próprio em suas condições de validade e nos efeitos que anteriormente produziram, pouco

importando que se trate de elementos propriamente constitutivos ou de elementos que criam obstáculos à constituição, desde que

esteja em curso.

Pode haver, porém, dificuldade em definir em que caso um elemento dessa constituição tem valor jurídico próprio. Suponhamos que

se trate do prazo de prescrição e que a lei nova se proponha modificá-lo. Certos autores estimaram que para fir etamente o

domínio da lei antiga e o da lei nova, devia fazer-se um cálculo de proporção dos dois prazos; a lei antiga exigia vinte anos e a lei

nova limita o prazo a dez anos; àquele que já houvesse prescrito quatorze anos seriam contados sete nas condições da nova lei, que

reduziu o prazo de metade. Esta opinião nos parece insustentável, porque tende a considerar que o prazo consumado sob a antiga

lei, ainda que insuficiente para prescrever segundo esta lei, já tinha um valor jurídico próprio, que a lei nova deveria respeitar;

ora, há nisso um êrro, porque a prescrição, se houvesse deio de correr aos quatorze anos, sob o império da lei anterior, não

teria mais valor do que se tivesse sido suspensa no primeiro ano. Na duração do prazo, só há um momento que conta do ponto de

vista do direito, é o da sua terminação; logo, enquanto não terminado, a lei nova pode modificá-lo à vontade…”

(Paul Roubier, in Les Conflits de Lois Dans Le Temps (Théorie Dite De La Non-Rétroactivité Des Lois), Recueil Sirey, Paris, 1929,

t. 1º, pp. 390/1)

E, a pp. 392/3, conclui o mesmo jurista, verbis:

“En face dune situation juridique en cours de constitution ou dextinction, les lois qui gouvernent la constitution ou lextinction

dune situation juridique ne peuvent, sans rétroactivité, atteindre les éléments déjà existants, qui font partie de (ou font obstacle à)

cette constitution ou cette extinction, en tant quils ont une valeur juridique propre, et doivent respecter cette valeur juridique, quil

sagisse de leurs conditions de validité ou des effets juridiques quil auraient produits; à tous autres égards, les lois nouvelles ne

sont nullement rétroactives lorsquelles prétendent sappliquer aussitôt à une situation en cours…

Em face de uma situação jurídica em curso de constituição ou de extinção, as leis que governam a constituição ou a extinção não

podem, sem retroatividade, atingir os elementos já existentes, que fazem parte de ou fazem obstáculo a essa constituição ou a essa

extinção, desde que os mesmos tenham valor jurídico próprio, e devem respeitar este valor jurídico, quer se trate de condições de

validade daqueles elementos, quer de efeitos jurídicos que já tenham produzido; a todos outros aspectos, as leis novas não são

retroativas quando pretendem aplicar-se desde logo a uma situação em curso…”

É sabido que a natureza do vínculo que liga o servidor ao Estado é de caráter legal, podendo, por conseguinte, sofrer modificações

no âmbito da legislação ordinária pertinente, as quais o servidor deve obedecer, não havendo direito adquirido do servidor a

determinado regime jurídico, nos termos de tranqüila jurisprudência da Suprema Corte (AI nº 53.498 (AgRg) – SP, Rel. Min.

ANTONIO NEDER, in RTJ 66/721; RE nº 72.496-SP, Rel. Min XAVIER DE ALBUQUERQUE, in RTJ 68/107; RE nº 82.729-ES,

Rel. Min BILAC PINTO, in RTJ 78/270; RE nº 99.522-PR, rel. Min. MOREIRA ALVES, in RTJ 107/854).

A respeito, assinalou PAUL ROUBIER , verbis:

“La situation de fonctionnaire public constitue un statut légal, qui peut toujours être modifié par les lois nouvelles in futurum”

(in Les Conflits de Lois dans le Temps, Libr. Du Recueil Sirey, Paris, 1933, t. II, p; 471, n. 122)

2. Improvimento do agravo.

ACÓRDÃO

___________________

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 20 de novembro de 2007.

Como citar e referenciar este artigo:
JURISPRUDÊNCIAS,. TRF4, 00010 AGRAVO EM APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 2006.71.05.009144-5/RS, Relator Des. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz , Julgado em 12/12/2007. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/jurisprudencias/trf4/trf4-00010-agravo-em-apelacao-em-mandado-de-seguranca-no-2006-71-05-009144-5-rs-relator-des-federal-carlos-eduardo-thompson-flores-lenz-julgado-em-12-12-2007/ Acesso em: 01 jul. 2025
Sair da versão mobile