Visão Liberal

O papel das elites

Só uma elite pode suceder outra no poder. Estamos numa reta final para uma eventual troca de poder, com a saída de Dilma Rousseff e do PT da Presidência da República, fato que só não aconteceu ainda por falta de gana e de competência das oposições, que titubeiam e não conseguem liderar para impor as mudanças. Certo que o STF está aparelhado pelo PT, mas até esses acólitos togados sabem dos perigos que ameaçam a nação. Fora de um acordo entre as elites para que haja a troca de poder não é possível fazer o câmbio necessário. O PT sobrevive por causa da inação dos seus adversários.

Me apavora quando vejo gente da envergadura de Fernão Lara Mesquita (Só a rua salva o Brasil) pregando a lógica da insurreição popular. Isso é anomia, é loteria sociológica, é a anti ciência política. É claro que a pressão popular é um elemento importante no processo, mas para legitimar as oposições e suas ações, como foi feito em 1964, não para realizar as mudanças. O povo em si não é nada e é um perigo o estímulo à sedição. Não podemos esquecer que o PT tem massas treinadas para tomar as ruas de assalto e as oposições não dispõem desse recurso. Vemos todos os dias exercícios dessa natureza paralisando as grandes cidades.

Quando as elites falham vemos esse apelo messiânico às massas como tábua de salvação. Elas, para usar o belo texto do seriado Breaking Bad, não estão em perigo, elas SÃO o perigo. O desembestar das ruas leva sempre à guerra civil. Bem vemos o que está acontecendo na Síria para repudiar soluções extremistas desse tipo e temer a sedição das massas. O caso da Ucrânia também deve ser estudado para mostrar que as ruas podem ser o algoz do seu próprio povo.

Aqui se trata na sucessão da elite dirigente, por qualquer método que seja. É isso que uma análise racional leva a concluir. Em 1964 tivemos o golpe de Estado bem sucedido, que impediu a guerra civil devastadora. A elite comunista que dominava com João Gulart foi substituída por um conjunto de déspotas esclarecidos que pacificou o Brasil, recrutados entre militares e civis, levando-o à prosperidade. Hoje vemos as Forças Armadas absolutamente isoladas e despotencializadas e até mesmo cooptadas pelo petismo. Delas nada se pode esperar. Só resta a solução constitucional: ou o impeachment ou a cassação da chapa governista pela Justiça, em face das ilegalidades cometidas para Dilma Rousseff para obter o segundo mandato.

O maior drama do Brasil não é a falta de multidões na rua, mas sim, a covardia das elites. Eu esperava mais de Aécio Neves e seu partido. Esperava mais de Fernando Henrique Cardoso, de José Serra. Infelizmente, eles não têm senso histórico e ímpeto para peitar o PT. Essa gente continua no seu discurso manso, insosso, pusilânime. Paradoxalmente, essa gente é a verdadeira causa do prolongamento da crise, que poderia ser abreviada se um ato viril e voluntarioso das oposições acontecesse. A omissão é hoje o maior dos crimes contra a Pátria. O PT é culpado, mas as oposições também são, até porque se sabe que o PT chegou ao poder com a complacência e o regozijo das lideranças oposicionistas.

Faltam homem (e mulheres) que liderem a mudança e enfrentem o infortúnio. Enquanto a elite não se mexer contra aqueles que estão no poder a crise vai se aprofundar. São tempos de grandes perigos. O tempo do PT no poder acabou, mas o novo ainda não nasceu.

www.nivaldocordeiro.net – 02/03/2016

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, Nivaldo. O papel das elites. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2016. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/visao-liberal/o-papel-das-elites/ Acesso em: 28 jul. 2025
Sair da versão mobile