Visão Liberal

Investimentos a pedido

Faz sentido o governante pedir aos empresários que acelerem seus investimentos? Não, mas é isso que a nossa neófita presidente Dilma Rousseff pretende
fazer na reunião com 27 dos maiores empresários brasileiros em reunião chamada para amanhã. Investimento é a decisão mais pessoal e refletida que
empresários podem fazer, pois eles definem o futuro das empresas. Nem acelerar e nem desacelerar: investimentos só são feitos na hora certa, atendendo
ao sofisticado processo de planejamento empresarial, a partir de minuciosa análise da conjuntura e das tendências econômicas e políticas.

No limite é o mercado que define onde, quando e quando investir. E o quanto.

O ambiente empresarial brasileiro está muito conturbado. Nas últimas décadas, especialmente depois que Lula e o PT assumiram a Presidência da
República, o modelo econômico brasileiro pode ser definido como socialista, com forte viés corporativista. O sistema está projetado para as grandes
corporações e tem esmagado de forma inclemente as pequenas e médias empresas. O caráter socialista é dado pela face dupla da supertributação e do
distributivismo de renda, que tem como nefasta consequência reduzir a taxa de poupança, fragilizando a economia. Por outro lado, a valorização do
câmbio praticamente inviabilizou exportar fora do foco dos minérios e matérias primas, mercados onde as vantagens competitivas brasileiras são óbvias.
O câmbio valorizado abriu as comportas das importações.

Pedir para empresários engajados na indústria de transformação, a principal prejudicada com o processo, que acelere os investimentos é piada de mau
gosto. Fato é que todas as incertezas cercam os empresários e não há força humana capaz de fazer acelerar os investimentos nessa circunstância.

Provavelmente na cabeça da presidente Dilma Ruimself está presente a famosa sentença de Michal Kalecki, de que empresários não investem como classe,
pois os investimentos são determinantes no processo de concorrência e são portanto segredos empresariais. Talvez ela queira reverter a escrita, já que
o corporativismo empresarial tomou corpo nas últimas décadas, de maneira a tornar as empresas clientes do Estado para tudo, em quase departamentos
estatais.

Eu não creio que isso, todavia, mude o caráter praticamente secreto da tomada de decisão de investir. Mesmo com o corporativismo reinante o ato de
investimento é ainda uma decisão solitária, que define os destinos empresariais. Ninguém fará nada a pedido, nenhum investimento. Dilma Rousseff não
tem o poder de mando neste quesito. Ela declarou: “As empresas precisam aprender a fazer melhor e mais barato, para que o Brasil tenha
competitividade”, como se algo tivesse a ensinar a empresários de sucesso. É uma declaração risível, pois o governo chefiado por ela, a cada dia,
encarece mais e mais o processo produtivo e eleva o risco jurídico das atividades empresariais, no limite de inviabilizar setores inteiros. A
presidente não tem como receber do empresariado resposta afirmativa para seu apelo.

* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, José Nivaldo. Investimentos a pedido. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2012. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/visao-liberal/investimentos-a-pedido/ Acesso em: 23 dez. 2024
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