Não sei se louvo a sinceridade implícita ou mendacidade explícita que, combinadas, estão presentes no artigo publicado pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (David e Golias). Comecemos pelo começo. Inicia o artigo dizendo que a Hilary Clinton constatou que, “pela primeira vez”, estava
havendo um grande abismo entre poder, economia e sociedade nos EUA. Ele não lembrou de dizer que, pela primeira vez, o pacto social-democrata – que
pode ser chamado de pacto estóico ou globalista – foi quebrado pela presença dos partidários do Tea Party. O longo e tenebroso século XX foi o campo
virgem no qual surfaram aqueles que foram partícipes o pacto, em ambos os partidos dominantes. A bem da verdade os membros do Tea Party se abrigam no
Partido Republicado, mas são uma força integralmente nova, que teve a capacidade de dizer “não” a essa aventura esquerdista que levou o mundo à crise
(no momento em que escrevo a internet informa que as bolsas do mundo despencaram e a de São Paulo teve queda superior a 8%, contra queda de mais de 5%
na sexta feita, último dia útil).
“E agora?” Perguntou-se FHC, retórico. E, mendaz, emendou: “Agora, digo eu, parece que as classes médias e os mais pobres querem gasto público maior e
emprego mais abundante, os conservadores querem ortodoxia fiscal sem aumento de impostos, os muito ricos pouco se incomodam com o gasto social
reduzido, desde que a propriedade de cada um continue intocável”. Veja-se que, de propósito, a palavra conservadores aparece desconectada do contexto
social, como se fossem um bando de ETs alucinados. Ora, os conservadores são precisamente gente da classe média e da classe baixa, indignada com o
hedonismo ateu e a irresponsabilidade fiscal que negam os valores tradicionais do povo norte-americano. Bom que se diga que os “progressistas” e
social-democratas (esquerdistas globalistas) são exatamente compostos e liderados pela plutocracia financeira e industrial dos EUA, tão
emblematicamente representada por George Soros e pela General Motors. Os membros do Tea Party são tidos e havidos por caipiras e, por isso mesmo,
desprezados pela esquerda sofisticada. Um sociólogo renomado como FHC não haverá de desconhecer esse fato comezinho, portanto mente.
Agora, digo eu, esses alienados, que estão mergulhados da surreal Segunda Realidade, encontraram força organizada capaz de enfrentá-los e vencê-los,
tanto no campo político como no campo das idéias. Os membros do Tea Party carregam consigo a chama da tradição filosófica conservadora, mais viva do
que nunca. E essa é a novidade, que o conservadorismo renasceu no meio social, de baixo para cima e politicamente organizado, forte o bastante para
eleger o futuro presidente a República.
O lenga-lenga (ou nhém-nhém-nhém, ao gosto de FHC) do coitadismo não comove aquele movimento vencedor, que deu a rasteira na social-democracia e travou
o inábil Barack Obama, que se curvou à realidade na hora derradeira. Ao menos não deixou se instalar a ingovernabilidade. O tom da discussão política
mudou, elevou-se, fato lamentado por FHC e seus acólitos, porque a social-democracia só triunfa em meio à ignorância e mentira previamente plantadas
pelas técnicas da revolução gramsciana, que o próprio FHC aplicou no Brasil eficazmente com amplas verbas da Fundação Ford (e outras) pela sua querida
FUNDAP.
FHC com a carapuça de sonso: “No meio de tudo isso, a crise provocada pelo cassino financeiro surgiu como um terremoto.” O que é cassino financeiro?
Quem o criou? Cassino financeiro é a superabundância de moeda e crédito criados pelos globalistas, usando as teorias tortas de Keynes e de Milton
Friedman. De fato, é um cassino financeiro, contra o valor da moeda e cobrando imposto inflacionário. Moeda falsa. Mas o tal cassino é efeito e não
causa. Precisamente contra ele que se levantaram os conservadores. A super liquidez gerada pela irresponsabilidade paga o bilhete de entrada na Segunda
Realidade dos socialistas alucinados. E a mendacidade mais superlativa de FHC: “onde e quanto cortar mais no orçamento de um país que clama por muletas
para reavivar a economia”, pergunta-se. A economia não precisa da muleta estatal, é precisamente esse o argumento sofístico. É cortar imediatamente
onde o Estado exorbitou, inclusive nos programas sociais e de Previdência Social, sem dó e nem piedade e sem dilatação de prazo.
FHC en passant fala da falida Europa e da “periferia gloriosa” (expressão dele). Ora, o problema é exatamente o mesmo, apenas que não há aqui o ator
faltante, grupos de conservadores organizados capazes de tomar o poder e refazer o Estado hipertrofiado dos socialistas. Na falta desse ator impera a
lei natural: a crise faz o seu papel pedagógico, como tão emblematicamente estamos vendo na Grécia. A Lei da Escassez se imporá ou pela razão ou pela
inércia. Os norte-americanos preferiram conduzir o processo; os europeus escolheram ser por ele conduzidos. E a “periferia gloriosa” governada pelos
estúpidos, como Dilma Rousseff, também assim, à moda francesa sempre e sempre. Arguto, FHC revelou que enxerga o real: “Mal comparando, a presidenta
Dilma está aprisionada num dilema do gênero daquele que agarrou Obama.” Infelizmente aqui não temos o porrete do Tea Party para fazer o medíocre
governo do PT acordar. FHC foi tão cortês com Dilma que a chamou de “presidenta”, fato que nenhum dos meios de comunicação comprados a peso de ouro
ousou fazer. FHC rastejou servilmente diante dos seus falsos adversários ideológicos, pois que são iguaiszinhos a ele.
Quem tem a ver Davi com Golias? Ele diz que Golias é “pai de Davi”. É Lula o Golias, David a Dilma. Nada a ver com o tema do artigo. Um fecho
eleitoreiro, superficial, em um artigo importante demais.
* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.