Gestão, Tecnologia e Qualidade para o Direito

O ócio criativo

O ócio criativo é uma idéia de Domenico de Masi, sociólogo italiano da Universidade La Sapienza, de Roma. Ele defende que através do ócio criado pela automação de tarefas podemos criar mais e devemos ter além do trabalho, tempo para o próprio ócio.

Seria uma ilusão, uma verdadeira utopia? Parece que não. Cada vez mais temos visto esta realidade acontecendo.

Óbvio, ululante, diáfano que não se trata de deixar as pessoas fazerem o que bem entenderem sem nenhum tipo de ideia a ser desenvolvida. Em fato, a ideia é criar ambientes cada vez mais inovadores e criativos.

Divido com vocês pequeno trecho da entrevista que Domenico concedeu a Mario Persona, publicada no seu portal:

Pergunta: Quais foram os ganhos tangíveis e os que continuam intangíveis na revolução virtual do trabalho e no tempo livre, observados no XV Seminário de Ravello, onde o senhor foi um dos organizadores ?

Domenico De Masi: Os ganhos tangíveis consistem no fato de que se consegue produzir mais bens e serviços com menor esforço físico e menos stress intelectual. Os ganhos intangíveis estão na possibilidade de se usufruir, em tempo real, de uma rede de interlocutores, de amigos, de colaboradores.

(…)

Pergunta: Na Widebiz, na Nova-e e na wwwWriters, empresas virtuais, o teletrabalho faz parte dos seus cotidianos, onde se mistura prazer, estudo e trabalho, mas também se sente culpa pela liberdade, o que nos leva a trabalhar mais e, às vezes, não sabemos se estamos trabalhando por culpa ou diversão. O aprendizado do ócio criativo passa por esta etapa em que não percebemos que estamos transformando o paraíso num inferno ?

Domenico De Masi: O ócio criativo é uma arte que se aprende e se aperfeiçoa com o tempo e com o exercício. Existe uma alienação por excesso de trabalho pós-industrial e de ócio criativo, assim como existia uma alienação por excesso de exploração pelo trabalho industrial. É necessário aprender que o trabalho não é tudo na vida e que existem outros grandes valores: o estudo para produzir saber; a diversão para produzir alegria; o sexo para produzir prazer; a família para produzir solidariedade, etc.

Pergunta: Hoje na Internet percebemos, por um lado, os poderosos de sempre tentando cercear e organizar o caos, e por outro, os “criativos” inventando soluções que pulam estas barreiras, como os programas Napster e o Gutnella. A sociedade criativa sobre a qual o senhor fala estaria nascendo aqui e como se distribuiria nela o poder ?

Domenico De Masi: Na sociedade industrial a maioria das funções de trabalho exigia pouquíssimas aptidões profissionais. Mesmo um macaco poderia trabalhar na linha de montagem. Na sociedade pós-industrial a maioria das funções de trabalho exige notáveis aptidões intelectuais. Disso deriva o perigo de um superpoder das classes profissionais, de uma ditadura dos clérigos sobre os leigos.

Pergunta: O senhor acha que as novas empresas ponto-com já administram seus recursos humanos de forma inovadora?

Domenico De Masi: Os call-center são linhas de montagem muito parecidas com aquelas com as quais a Ford construía o velho Modelo T. As empresas pós-industriais ponto-com administram os recursos humanos como se fossem velhas empresas industriais. Ainda ninguém inaugurou modelos organizacionais baseados na motivação (no lugar do controle), na desestruturação do tempo e do espaço, na redução do horário de trabalho, na perfeita igualdade entre homens e mulheres.

Leia na íntegra a entrevista:  http://mariopersona.com.br/domenico.html

Em relação a tecnologia, vejo muito similar ao Domenico. Para que serve a tecnologia se não for útil?

Vivemos uma época em que ter é mais que o ser.

Você usa todas as potencialidades do seu computador? E do seu smartphone? Você explorar os recursos da tecnologia para poupar/ganhar tempo?

Ou a sua realidade é trabalhar de sol a sol e ainda fazer horas extras e ainda levar pastas para um final de semana entre você e o seu trabalho?

Se você está preso ao seu trabalho, está mais do que na hora de pensar diferente.

É fundamental trabalhar, desenvolver novos negócios, novas possibilidades, receber salário/honorários para viver com dignidade.

Contudo, ao mesmo tempo, é fundamental desenvolver a si mesmo.

Se você pensar, é um ciclo virtuoso:

Se você tem tempo para si mesmo, você irá se desenvolver de maneira mais madura, mais forte, mais criativa. Você irá aproveitar mais para amar, para criar relacionamentos, para estar conectado as coisas boas. Sendo assim, você estará investindo em você mesmo. Ao assim proceder, você irá melhorar seu currículo, sua apresentação, suas aptidões serão mais adaptadas as realidades do mercado e desta forma, você estará apto a melhores oportunidades.

Ao passo que se você não criar tempo para si, viverá dentro da mesma realidade, não será criativo, nem mesmo feliz, produzindo cada vez menos e por si só, a falta de produtividade irá lhe causar problemas no trabalho ou quiçá uma demissão.

O ócio criativo faz a diferença.

(Gustavo Rocha)

Não podemos confundir o ócio criativo com vagabundagem. Aquele que sequer sabe direito o seu trabalho não irá compreender um conceito como este. Estes conceitos são aplicáveis àqueles que dentro do seu dia a dia já desenvolvem atividades de pensar e criar e podem ser usados em suas potencialidades de uma maneira diferente.

No seu departamento jurídico há espaço para este desenvolvimento?

Você vislumbra colaboradores que possam estar sendo subaproveitados em suas potencialidades?

Não se trata de dar folga ou deixar as pessoas sem supervisão para fazer o que quiserem. A maioria ainda tem uma ligação de que o trabalho é uma obrigação e que realmente o que pode dar prazer é o lazer, o amor, a vida fora do trabalho.

Seria esta a visão correta?

E se ao invés disto, nós criarmos a visão de que o trabalho é algo que pode ser forjado dentro da liberdade, criatividade e possibilidade de superação diária?

Como fazer?

Inicie mudando o foco da visão do trabalho. As atividades que são repassadas a equipe devem ser sempre de maneira lúdica, de forma a criar ideias.

Escute o que o colaborador tem a dizer. Deixe ele se expressar.

Introduza mudanças e explicações sempre focado nos porquês de cada coisa. Se tiver que dizer que isto é assim, porque é assim, pense: Algo está errado.

É a solução?

Cada negócio tem a sua razão de ser, seus porquês e suas vitórias e infortúnios. O melhor a se fazer é pensar, criar e buscar aquilo que melhor se adapta a sua realidade.

Como já disse Nelson Rodrigues: Toda unanimidade é burra.

Crie a sua estrada e boa sorte!

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Artigo escrito por Gustavo Rocha – Sócio da Consultoria GestaoAdvBr

www.gestao.adv.br  |   gustavo@gestao.adv.br

Como citar e referenciar este artigo:
ROCHA, Gustavo. O ócio criativo. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2013. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/gestao-tecnologia-e-qualidade-para-o-direito/o-ocio-criativo/ Acesso em: 21 mai. 2024
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