O cinema estava lotado. Crianças, adolescentes e velhos ansiosos para assistir à estréia daquele filme: Batman, o Cavaleiro das Trevas.
Aconteceu em Aurora, uma pequena cidade do Colorado (USA) cujos habitantes nunca pensaram que ela seria manchete no New York Times.
Finalmente, chegou o grande momento: apagaram-se as luzes, o filme ia começar.
Mais eis que para a surpresa e o espanto gerais, começou outro filme desses de transformar em fichinha O Massacre da Serra Elétrica.
Desgraça pouca é bobagem, principalmente quando ela não sai da ficção para entrar na realidade.
De repente, não mais que de repente, apareceu um cara vestido com uma roupa estranha, coisa que não causa nenhuma espécie em americanos, principalmente nos
que estão assistindo a filmes de super-heróis.
Crianças e velhos costumam assistir a esses filmes fantasiados de Robocop, Rambo e principalmente de Homem-Morcego, de Robin ou de Penguim, quando é um dos
filmes de Batman.
Há mesmo quem deixe seu Batmovel no estacionamento, como quem deixa um carro qualquer.
Informo, aos que não sabem, que qualquer americano, caso tenha grana suficiente, pode comprar um Batmovel feito por encomenda.
Mas não era mais um Batman, porém um jovem estudante de Neurociências, que atendia pelo nome de James Eagan Holmes (Nenhum parentesco com o famoso detetive
Sherlock Holmes, filho fictício de Conan Doyle).
Jimmie – como costuam chamá-lo seus colegas de universidade – era um jovem tímido, mas estava devidamente equipado:
Colete e capacete à prova de balas, máscara de gás. luvas pretas, espingarda, rifle, revólver, lata de gás lacrimogêneo, usw.
Na platéia, alguns pensaram que era um jovem fantasiado de turista no Afeganistão e outros pensaram que a coisa fazia parte do show.
Devia ser o novo inimigo do Batman em lugar de seus velhos arqui-inimigos: o Penguim, o Coringa, etc.
Lembro-me que num dos filmes de Batman, o Coringa – crudelíssimo e requintado assassino – atirou um dardo envenenado na jugular de uma de suas vítimas e
ainda deu uma filosofada: _ The pen is mightier than the sword (A pena é mais poderosa do que a espada).
Porém, para horror e pânico gerais, aquela figura exótica começou a disparar aleatoriamente sobre a apinhada platéia matando 12 pessoas e deixando 59
feridas!
Uma jovem, sobrevivente ilesa do massacre, contou que o homem apontou a arma na sua direção, mas ela se abaixou a tempo e a bala atingiu a cabeça de uma
criança sentada atrás dela. O my dog! Don’t be so mean, Jimmie!
Capturado pela polícia, o jovem tinha os cabelos pintados de vermelho e dizia ser o Coringa! – grave sintoma à luz da Psiquiatria levantando imediatamente
a suspeita de se tratar de um psicopata.
E como a psicopatia é doença mental incurável, Jimmie deve receber, no mínimo, a pena de prisão perpétua, pois representa grande risco para a segurança do
povo e não pode andar matando gente por aí como quem mata a sede com Coca-Cola.
O evento em particular é extremamente chocante: um massacre de crianças, jovens e velhos que tinham ido ao cinema em busca de diversão.
Todavia, o evento não foi um acontecimento isolado, mas sim – em virtude de sua grande freqüência – um fenômeno histórico e social: a ação criminosa de um serial killer e de preferência nos Estados Unidos.
É um fato histórico que têm ocorrido incontáveis vezes em diferentes lugares na terra de Tio Sam, mas creio que somente a partir da Guerra do Vietnã, na
segunda metade do século XX.
Não quero insinuar com isso que a referida guerra deixou graves seqüelas psicológicas que podem explicar a ação cruel e desumana dos serial killers.
Quero simplesmente demarcar um período da história, pois acho muito difícil apontar casos de serial killing ocorridos antes do período assinalado.
Mas como podemos entender esse fenômeno de patologia social em que um indivíduo atira a esmo num grupo de pessoas com as quais ele não tem o menor vínculo
capaz de fornecer a motivação do crime?
O pioneiro incentivador dessa prática irresponsável e hedionda parece ter sido o escritor francês André Gide, no seu romance deletério Os Subterrâneos do Vaticano.
Neste mesmo um jovem toma um trem e começa disparar a esmo por onde ele passa, matando e ferindo muitas pessoas.
Mas o que pior é a mente distorcida de Gide que apresenta esse episódio como um exemplo do que ele entende por “ato gratuito” e ainda aplaude quem o
pratica.
Por carecer de motivação e finalidade, para alvejar pessoas com as quais não tinha nenhum vínculo, o autor dos disparos estava exercendo plenamente sua
“liberdade”, segundo Gide.
Sem dúvida, era um caso de um excesso de liberdade cujo nome correto é libertinagem e o resultado liberticídio
Tenho ouvido várias explicações: um colega meu, que trabalhou numa universidade americana, costumava dizer que os EEUU é uma máquina de fazer loucos ( a mad-maker machine).
Ora bolas, muitos outros países são máquinas da mesma espécie, inclusive o Brasil.
Mas em nenhum deles se verifica tantas ações intermitentes de serial killing, marca registrada do país de Jimmy Holmes – o Coringa do Colorado – e
de Jimmy Carter, o que tinha uma dupla de neurônios: Debbie & Lloyd.
Outros dizem que os serial killers são geralmente jovens brancos, de classe média e com curso superior, solitários viciados em Internet e desajustados na
sociedade. Desse modo, sem ter perspectivas na vida e fortemente ressentidos, vingam-se da sociedade que os gerou matando pessoas a esmo.
Ora bolas, muitos jovens com perfil semelhante podem ser encontrados em outras sociedades, como na dos PIGS (Portugal, Ireland, Greece, Spain), mas em
nenhuma delas foram encontrados e são encontráveis serial killers com a mesma frequencia que são nos EEUU.
Outros ainda dizem que a causa é a conservadora Constituição dos Estados Unidos que garante a todo e qualquer cidadão americano comprar e ter em casa armas
de fogo, desde que não as portem ostensivamente em público, como nos velhos filmes de faroeste.
Ora, esta explicação é também capenga. Não existem países com cidadãos tão bem armados quanto a Suíça e Israel.
Mas isso está muito longe de ser um incentivo ao crime – prova disso é que o grau de criminalidade em ambos os países é baixíssimo – mas sim algo visando à
defesa pessoal e eventual defesa da nação.
Nesses países, todo cidadão é potencialmente um soldado em defesa da pátria e recebe treinamento militar para estar bem preparado, caso haja necessidade.
Não dispomos de uma boa explicação para esse fenômeno típico dos Estados Unidos, mas toda vez que ele volta a ocorrer – como o massacre na Escola Columbine
(CO) em 20/4/1999 – ouvimos a mesma charumela:
A mídia em geral, alguns políticos, redes sociais, as esquerdas carnívoras e vegetarianas botam a boca no trombone e clamam por um desarmamento da
população.
Make love not war é o lema desses pacifistas ingênuos ou salafrários.
Quando deveriam clamar não pelo desarmamento de armas de fogo, mas sim por um armamento moral da população.
No recente referendo no Brasil, caso tivesse sido aceito o desarmamento do povo, os bandidos continuariam obtendo armas no mercado negro e o contrabando só
se tornaria maior do que já é.
Quem ficaria sem armas para se proteger da sanha criminosa – que produz 50.000 homicídios por ano, superando sobejamente o número de mortos na guerra do
Vietnã – seriam os cidadãos honestos e trabalhadores, que há muito não podem contar com a segurança pública do Estado.
Além disso, armas letais, como todo e qualquer instrumento – desde o machado de pedra – tanto podem ser usadas para o bem como para o mal, tanto servem
para cometer homicídios como para a legítima defesa, tudo dependendo de quem e para que as usam.
Lembro que quando Lenin assumiu o poder na antiga União Soviética, uma de suas primeiras medidas foi desarmar a população.
Somente o Exército Vermelho, a Polícia Vermelha e os membros da Nomenklatura podiam possuir armas de fogo. Com isto, ele pretendia proteger o
Estado da sociedade e não o contrário, como seria esperado por John Locke, Thomas Paine e outros grandes pensadores liberais.
Quem ignora a História corre o sério risco de repeti-la sem saber que assim faz.