Sociedade

Anarquismo Dionisíaco (29/06/70)

*Eugênio
Gudin Filho

Em
recente artigo (18 de maio último) sobre a participação da juventude no desafio
aos alicerces da civilização, eu atribuía, em grande parte, essa participação
ao culto, generalizado nos últimos 25 anos, da preservação da personalidade da
criança e do adolescente contra a erosão resultante dos métodos de formação e
de educação, até então adotados. Esta preservação da personalidade, e portanto
da animalidade não corrigida, dá lugar, dizia eu, a um maior coeficiente de
agressividade da juventude, fenômeno que se exacerba com o declínio da
autoridade paterna e da influência religiosa.

Leio
agora em três trabalhos de autores ilustres, mas de origem e formação diversas,
a observação coincidente de que os membros da rebeldia negativista e
contestatória da juventude universitária não se recrutam nas classes menos
favorecidas e sim entre filhos da burguesia abastada.

O
Prof. Nisbet, de sociologia, da Universidade de Berkely (um dos maiores focos
da insubordinação estudantil), diz, em um dos últimos números da conhecida
revista Encounter, que é “caracteristicamente nos estudantes da classe média”
que se encontra a grande maioria dos negativistas e que “os atos de vandalismo
e destruição desses inconformados” não tem origem em qualquer idealismo e sim
“no sentimento de tédio” que domina esses adolescentes.

Em
outro interessante estudo do distinto escritor uruguaio Alphonse Max, sobre os
tupamaros do Uruguai, diz o autor que esses grupos subversivos, cujo núcleo é
formado de criminosos e bandidos profissionais entrosados como mercenários no
serviço dos partidos, atraem para si “elementos complexados da burguesia”
enfastiados da frustração que os aflige. Os “Complexos dos filhos da alta
burguesia”, sentindo consciente ou inconscientemente a segurança e o amparo que
lhes dá a situação econômica de seus pais e liberados da preocupação de ganhar
a vida e estudar, aderem à boemia politizada de uma esquerda festiva, enquanto
alegam defender as classes subprivilegiadas, cuja vida eles na realidade não
conhecem. A violência é para eles uma
forma de escape ao tédio que os aflige.

A
leitura de Mão, Che Guevara ou Marcuse, além de ser muito menos árdua do que o
estudo das ciências ou da matemática, proporciona-lhes no meio universitário
uma notoriedade que de outra forma nunca conseguiriam.

Nos
Estados Unidos, lê-se, em outro estudo de uma grande revista americana, que
esse gênero de vida se associa invariavelmente ao uso da marijuana e ao hábito
externo dos hippies, cuja personalidade não vai além dos predicados capilares e
indumentários, que se descaracterizam pela generalização.

Na
já celebre reunião de Bethel (Estado de Nova York), diz o autor, 90% dos
participantes faziam uso de entorpecentes e uma boa metade era composta de
“estudantes da média e alta burguesia”.

A
aglomeração de Bethel, acrescenta o ensaio, exibiu em larga escala ao mundo “os
valores e estudos de vida” dos hippies, desde a indumentária psicodélica até a
nudez desabusada e a prática, sem qualquer recato, dos atos sexuais, tudo
acompanhado dos batuques do rock and roll.

O
perigo dessa anticultura caracteriza-se por seu proclamado desprezo pela
racionalidade, pela exaltação do indivíduo contra a sociedade e por suas
manifestações de um anarquismo dionisíaco que nada mais é do que um
primitivismo imbecil e despudorado.

Fica-se
então a pensar que espécie de civilização se poderá esperar dessa gente. Seu
divertimento consiste no prazer da baderna, do chahut, como a chamam os
franceses, de depredar móveis e objetos, e de instalar-se nos gabinetes dos
reitores, com os pés na mesa e os papéis pelo chão.

No
esforço daqueles que, como eu, tentam, talvez por ingenuidade, buscar a
substância e o sentido dessas manifestações dos contestatários, é interessante
notar a convergência das opiniões de três escritores de formação e
nacionalidades diversas, sobre o fato de ser filhos da burguesia abastada que
se encontra o maior suprimento desses curiosos exemplares do gênero humano, que
vivem à cata de excentricidade como meio de notoriedade.

*Eugênio
Gudin Filho (Rio de Janeiro, 12 de julho de 1886 – Rio de Janeiro, 24 de
outubro de 1986) foi um economista brasileiro, ministro da Fazenda entre
setembro de 1954 e abril de 1955, durante o governo de Café Filho.

Formado
em Engenharia Civil em 1905 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, passou a
interessar-se por Economia na década de 1920. Entre 1924 e 1926, publicou seus
primeiros artigos sobre Economia em O Jornal, do Rio de Janeiro.

Em
1944, o então ministro da Educação, Gustavo Capanema, designou Gudin para
redigir o Projeto de Lei que institucionalizou o curso de Economia no Brasil.
Nesse mesmo ano, foi escolhido delegado brasileiro na Conferência Monetária
Internacional, em Bretton Woods, nos Estados Unidos, que decidiu pela criação
do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird)

Durante
os sete meses em que foi ministro da Fazenda (1954-1955), promoveu uma política
de estabilização econômica baseada no corte das despesas públicas e na
contenção da expansão monetária e do crédito, o que provocou a crise de setores
da indústria. Sua passagem pela pasta foi marcada, ainda, pelo decreto da
Instrução 113, da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), que
facilitava os investimentos estrangeiros no país, e que seria largamente
utilizada no governo de Juscelino Kubitschek. Foi por determinação sua também
que o imposto de renda sobre os salários passou a ser descontado na fonte.

* Enviado por Ricardo
Bergamini, Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de
Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período
de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período
de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e
Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na
área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA
Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e
palestrante, assessorando empresas da região sul.. Site:
http://paginas.terra.com.br/noticias/ricardobergamini

Como citar e referenciar este artigo:
FILHO, Eugênio Gudin. Anarquismo Dionisíaco (29/06/70). Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/anarquismo-dionisiaco-290670/ Acesso em: 22 nov. 2024
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