O Avanço do Retrocesso
Ives Gandra da Silva Martins*
As teses políticas dominantes entre os seguidores de Marx, no fim do século XIX, e que levaram à revolução russa de 1917 -fonte indiscutível do fantástico atraso de desenvolvimento do leste europeu no século passado- começam a renascer, curiosamente, no continente latino-americano.
Fidel Castro resta, hoje, como um símbolo do retrocesso econômico e da persistência ideológica, mas sem efeitos deletérios maiores, pelos limites de sua ilha. Seu governo foi, internamente, ridículo, e, externamente, exaltado por todos aqueles que, ao sentirem a desagregação do império soviético, agarraram-se, desesperadamente, no falante e genocida líder cubano –matou sem julgamento, no início de seu governo, milhares de opositores- para a continuação da pregação socialista.
O próprio fracasso econômico da ditadura fidelista, em choque com o pragmatismo socialista da China, que adotou a economia de mercado para crescer, sempre foi minimizado pelas viúvas do império soviético, pois necessitavam de alguém em que se apoiar.
Daí surgiu Chaves, patética figura que, após quase ser derrotado por corrupção, assumiu, tiranicamente, seu país, e, hoje, dá-se ao luxo de atacar, no plano internacional, os governos de todos os países denominados “neocapitalistas”, em sua retórica retrógrada, e elogiar e incentivar a volta ao século XIX, nos países em que líderes populares e despreparados, com notável dose de demagogia, assumem o controle, como é o caso do presidente da Bolívia, capaz de nomear uma empregada doméstica para o Ministério da Justiça, apesar de a própria –parece ser uma excelente líder sindical- declarar que não entende como funciona o Ministério, a Justiça e o Direito.
O Presidente Chaves – até um poste seria bom presidente, na Venezuela, com o atual nível do preço do petróleo- não consegue, todavia, baixar o risco de seu país, pior do que o do Brasil, exatamente porque não oferta segurança jurídica. O mesmo ocorrerá com Morales, pois sem segurança não há investimentos.
A tônica dominante na retórica dos 3 líderes saudosistas que governam no presente, é sempre o ataque ao “neoliberalismo” –leia-se economia de mercado-, aos Estados Unidos, aos países desenvolvidos e à classe empresarial, acreditando que apenas as burocracias e o Estado são os verdadeiros representantes do povo e os geradores de desenvolvimento e bem estar.
A História, todavia, tem demonstrado que onde há excesso de Estado, há excesso de corrupção. Tem demonstrado, também, o monótono fracasso destas tentativas de colocar o Estado –leia-se os detentores do poder- como representante do povo e como único ente com capacidade de gerar o progresso. Ocorre, todavia, que à medida em que os resultados não aparecem, a História também tem realçado a instabilidade que grassou, nestes países, no século XIX, fazendo do autoritarismo crescente e da busca de bodes expiatórios o único caminho para esconder o fracasso.
É exatamente o aumento de tensões que deverá ocorrer, proximamente, com a esquerdização crescente do continente. Há líderes de esquerda, no Ocidente, que tiveram o bom senso de não lutar contra os fatos (França, Portugal, Espanha), mas, quanto menos preparado for um líder -e parece-me ser o caso dos dois presidentes sul-americanos– mais a luta contra os fatos poderá se tornar uma realidade, com prejuízo não só para seus países, como para o continente.
Estou convencido de que não se cresce senão com a harmonia entre os povos e a colaboração entre as diversas instituições sociais, numa nação. Porém, a luta de classes começa a ser “redescoberta”, como instrumento de governo, levando-me a crer que teremos surpresas crescentes, no continente e que não serão surpresas agradáveis.
* Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: www.gandramartins.adv.br
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