Política

Micropensamentos de Macrocéfalos

 

08/09/2009

 

Caro leitor, aderi de mala e cuia ao Twitter. Estou lá: http://twitter.com/nivaldocordeiro. Divertidíssimo. Eu agora virei (per)seguidor de um bando de macrocéfalos da nossa República, especialmente daqueles mais notórios, cujos egos são maiores que o mundo. Essa gente, em regra, não tem muito que dizer fora daquilo que suas assessorias de comunicação lhes indicam. São fabricantes de imagens postiças, moedeiros falsos que são. Mas o Twitter é traiçoeiro. Se o microblog for feito profissionalmente dá na cara, de nada serve, nem mesmo para cartão de visitas. Ninguém terá interesse de visitá-lo. Porém se for feito de forma descuidada, desqualifica o sujeito, causando grandes prejuízos. É caminhar no fio da navalha.

 

Alguns de meus (per)seguidos fazem verdadeiros diários de sua existência inútil, do tipo: “Fui ao banheiro”. Cinco minutos depois: “Voltei, foi ótimo”. Sem exagero. Alguns, mais entusiasmados: “Vou almoçar com o macrocéfalo fulano de tal, meu brother”. Logo depois: “Estou almoçando com o tal macrocéfalo, no restaurante fulano de tal”. A seguir: “Já comi”. Em geral o restaurante citado é caro e na moda, para sair bem na fita. Um reality show de mau gosto, um confessionário público de besteirol e inutilidades.

 

Já vi coisas do tipo: “Vou passar o fim de semana no Rio de Janeiro”. Logo depois: “Estou dentro do avião”. Em seguida: “Cheguei”. Pior que diário de Mariazinha adolescente, mas feito por gente cinquentona, autoridades públicas. É, de fato, mais que engraçado, deprimente. Essa gente, desprovida dos cargos, de nada vale. É um conjunto vazio. Quer se divertir, caro leitor? Faça seu Twitter e (per)siga, como eu faço, gente graúda e vaidosa.  Diversão garantida.

 

O senador Aloísio Mercadante, por exemplo, queimou-se nos infernos ao escrever sua renúncia irrevogável no Twitter, prontamente revogada logo depois. A tribuna aqui é impiedosa: escreveu algo, instantaneamente os (per)seguidores chatos como eu ficam sabendo irrevogavelmente (para usar a palavra mercadântica preferida), pois esse negócio de Twitter vicia. Mercadante falou besteira e teve que corrigi-la imediatamente, online. O Twitter tem o poder de revogar até o irrevogável, ficou provado.

 

O governador José Serra, por exemplo, no último domingo ficou descrevendo suas ocupações de descanso. Escreveu que viu a bela Penélope Cruz em filme, que ouviu música da Edith Piaf. Não é comovente? Romântico? Serra, com aquela cara de vampiro brasileiro da Mooca, ouvindo Piaf e admirando Penélope Cruz! Quase me fez acreditar que é um ser humano normal.

 

O que mais me diverte é quando tropeço com nulidades que querem filosofar. Aí a coisa fica imperdível.  Um exemplo notável hoje foi Andrea Matarazzo, secretário recém desempregado da Prefeitura de São Paulo, que escreveu: “Hoje 7 de setembro dia da independência. O que assegura a independência de uma pessoa e o conhecimento”. (Sic) Profundidade abissal, vê-se logo. Não satisfeito, emendou logo a seguir: “O conhecimento nos assegura liberdade e independência!” Claro que ele deu o salto de pensamento aqui, passando da independência política comemorada no Dia da Pátria para a independência do Ser, pessoal, algo bem mais dificultoso e problemático.

 

Mas Matarazzo me levou a pensar, preciso reconhecer. Qual conhecimento nos liberta? Não o lixo que as universidades, tomadas por niilistas militantes, ensinam para nossa juventude. Nem mesmo o conhecimento técnico é libertador, posto que meramente instrumental.  O conhecimento que liberta é a filosofia e a religião, a grande literatura, que nos liga com a fonte transcendente, que nos descortina as profundezas abissais da Origem, da História, de Deus. Mas não creio que Andrea Matarazzo tenha pensado nisso, embora tenha intuído. Matarazzo é um dos meus (per)seguidos prediletos, tal a sua loquacidade. É meu (per)seguido da estimação. Seu pensamento é uma ânsia de escalar os cumes ensolarados do saber para quem está acorrentado irremediavelmente no nível rés do chão da filosofia.

 

Voltarei a esse tema mais vezes.

 

 

* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, José Nivaldo. Micropensamentos de Macrocéfalos. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/micropensamentos-de-macrocefalos/ Acesso em: 26 dez. 2024
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