Judiciário

A justiça quadridimensional

(Luiz Guilherme Marques – Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora – MG)

 

            O Direito Romano representa a mais importante contribuição de Roma para a civilização ocidental, como modelo de organização da vida comunitária.

 

            Todavia, significa apenas o Direito tridimensional, limitado ideologicamente porque se embasa-se na Racionalidade estrita e restritiva.

 

            Serviu de modelo para as construções jurídicas dos países que foram se formando, até chegarmos ao que hoje existe em termos de nações. Todavia, não conseguiu solucionar os graves desentendimentos entre pessoas e povos, incapazes, muitas vezes, de sofrear o egoísmo, conduzindo-se essas pessoas e nações às guerras, permitindo ou causando friamente a pobreza, consagrando a segregação racial e desrespeitando a liberdade individual e degradando a Natureza.

 

            O Intelectualismo, por si próprio, é incapaz de realizar mais do que conseguiu até o presente momento.

 

            Falta fecundá-lo com a ideologia das grandes fontes de reflexão humana, representadas pelo Cristianismo, Budismo e Hinduísmo, acima de fanatismos, separatismos, sacerdotes e templos muitas vezes mercantilistas, consultando diretamente o pensamento dos Grandes Mestres da humanidade.

 

            Os homens e mulheres de ação e os intelectuais deveriam entremear seus estudos e realizações com horas e mais horas de incursões nos grandes temas abordados por Jesus, Buda e os grandes mestres da Índia milenar.

 

            Quanto à Justiça, deveriam os operadores do Direito mergulhar no imenso oceano das Verdades Eternas compendiadas pelo luminares do Pensamento humano, mas sobretudo vividas por eles no dia-a-dia.

 

            A Justiça quadridensional tem muito pouco a ver com aquela que conhecemos e vivemos até há pouco tempo: não tem como meta declarar o vencedor num processo, pois sabe que, muitas vezes, vence o mais astuto  no jogo de enganar o ex-adverso; abstrai-se de regras processuais limitadoras e tenta encontrar a solução verdadeira e ampla para as partes através do diálogo direto e informal com elas, numa grande mesa-redonda.

 

            Para chegarmos a esse grau de compreensão, os operadores do Direito devem também exercitar a sensibilidade emocionando-se com as sonoridades maviosas de Beethoven, John Lennon e Yanni; passando muitas horas em quase-êxtase de olhos voltados para as belezas da baía de Guanabara e do arquipélago de Fernando de Noronha; deixando-se pacificar com as leituras do mahatma Gandhi, Albert Einstein e Mikhail Gorbatchev; consagrando-se, de corpo e alma, à formação dos seus filhos e crianças e jovens filhos dos outros; realizando trabalhos braçais para adquirir humildade e respeito ao trabalho alheio; comparecendo diariamente ao seu local de trabalho com o pensamento voltado para o ideal de servir; ter como musa inspiradora alguém do porte de Fátima Nancy Andrighi.

 

            Algumas correntes de pensamento chamam esse combustível ideológico de Amor, que aquece e ilumina a Inteligência e lhe dá o direcionamento da real Utilidade.

 

            Quanto a mim, não conheço essas Verdades há tanto tempo, mas, gradativamente, aprendi-as e venho realizando meu mister com a compreensão da grandeza da missão de servidor público.

 

            Para mim, essa é a Justiça quadrimensional, a Justiça do futuro.

Como citar e referenciar este artigo:
, Luiz Guilherme Marques. A justiça quadridimensional. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/judiciario/a-justica-quadridimensional/ Acesso em: 20 abr. 2025
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