Filosofia do Direito

Sobre a Natureza Mística e Humana de um Milagre.

Sobre a Natureza Mística e Humana de um Milagre.

 

 

Antonio de Jesus Trovão*

 

 

“A presença do Senhor transforma a solidão em comunhão” (Gordon Chilvers).

 

“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura”. – Jesus Cristo.

 

 

Recentemente diversos eventos ligados aos mais variados meios de comunicação trouxeram à baila uma discussão que já fora anteriormente eternizada por comentários limitados apenas aos meios acadêmicos e religiosos: o fato de que existe, além da natureza mística dos atos e passagens que envolvem JESUS CRISTO, uma outra natureza mais obscura e desconhecida: a sua própria natureza humana, suas características, seu comportamento, bem como os anseios e aspirações mais recônditas e desconhecidas até então.

 

Dentre os eventos citados temos a recente publicação de DAN BROWN intitulada de “O Código da Vinci”, um suspense romanceado no qual uma trilha de intrigas conduz a uma nova busca pelo Santo Graal (ou melhor, o cálice utilizado por Cristo durante a última ceia em companhia de seus apóstolos), que, abarcando uma tomada mais ampla torna o comentário acerca deste cálice uma revolução em torno da possibilidade de Jesus não haver morrido crucificado e, desta forma, constituir uma família, gerando uma verdadeira linhagem “sagrada”, com descendentes até os dias atuais.

 

Na verdade a busca traduzida nas linhas do referido volume, referem-se à possibilidade de que o único vestígio existente sobre esta linhagem seriam os restos mortais de Maria Madalena, esposa do Nazareno, que teria migrado para a Europa logo após o suplício de Jesus e ali, através de diversos contatos, no mínimo fantásticos, estabelecer a referida linhagem, inclusive com ligações com a Ordem dos Cavaleiros Templários, a Ordem Rosacruz e a Ordem Maçônica.

 

Esta obra, independentemente de sua origem ou ainda das fontes abordadas e de como foram elas utilizadas para criação do clima que constitui seu cerne, criou um enorme, porém sutil, rumor nos meios literários, acadêmicos e de estudos religiosos, cujo principal eixo de análise é uma discussão ampla e consciente sobre a natureza mística em confronto com a origem histórica de Jesus Cristo. Ambos são faces do mesmo homem, todos os eventos a ele ligados são conectados tanto pela abordagem mística, como também pela sua origem histórica.

 

Afinal, Jesus era, antes de tudo descendente de judeus, e assim como eles foi ensinado, educado e orientado. A formação do indivíduo é sempre produto do meio em que vive. E quando consideramos este meio, ele não é apenas de ordem social, mas religiosa, civil, amorosa, sentimental e educacional. Sentimentos, aspirações e devaneios integram a formação de qualquer indivíduo e, como não poderia deixar de ser, influem em suas ações, seus pensamentos e as motivações que funcionam como fio condutor do futuro deste indivíduo.

 

Se por apenas um momento, pudéssemos parar e imaginar – apenas imaginar- como era viver nos tempos de Jesus na região do Oriente Médio, cercado de superstições, crendices e influências oriundas da noite histórica do surgimento da vida na terra, coroado por demais influências de ordem humana, tais como guerras intestinas, revoluções, conquistas e demais incertezas que, até mesmo nos dias de hoje, afetam os homens e sua capacidade de sobreviver em um ambiente tão hostil, teríamos uma tênue compreensão de como suas atitudes, posturas, comportamentos e pensamentos, quando difundidos para uma platéia atenta e repleta de fé foram capazes de influenciar e modificar profundamente a existência humana como até então era considerada.

 

Diferentemente dos Egípcios para quem o mundo espiritual e o real existiam simultaneamente, os judeus acreditavam em um “reino dos céus”, como uma dádiva etérea pelos sofrimentos vivenciados ao longo da existência do homem na vida real. A vida após a morte, mesmo que em um plano diferente daquele experimentado pelo ser humano, representa uma verdadeira dádiva do Criador para sua geração, como um valioso elemento de união, de proximidade entre criador e criatura. Trata-se de uma abordagem tipicamente monoteísta em que céu e terra, paraíso e inferno encontram-se distintamente separados por um vale instransponível que separa a existência terrena da transcendente. Uma expectativa extremamente interessante, em especial se a transpusermos para o tempo e espaço em que Jesus Cristo nasceu e viveu.

 

A palavra do Senhor era o único elo de comunicação entre o homem e o divino. E esta palavra somente poderia ser transmitida – pelo menos naquela época – através da tradição oral, posto que a única forma disponível de assim se proceder. Por este raciocínio, acreditava-se que o contato com o superior operava com eventos de ordem natural, sentidas pelo indivíduo e, depois, compartilhadas com os demais, como uma experiência única que foi efetivamente sentida (sensibilizada entre criador e criatura), restando o estado emocional alterado que produz como efeito principal a guarda desta experiência para a posteridade. O monoteísmo oriental, em destaque o Judaísmo, possui como qualidade impar a possibilidade limitada de permitir que o indivíduo apenas tenha contato com o mundo superior através da morte; ou seja, apenas ao morrer saber-se-á como conhecer o “reino dos céus”, ate mesmo porque o abismo que separa este mundo daquele reino é enorme demais para ser transposto em idas e vindas ilimitadas.

 

Sabendo-se então que o monoteísmo adotado pelo povo judeu não era capaz de assumir uma experiência de auto-conhecimento da vida passando, necessariamente, pela experiência oposta da morte. O homem daquela época, situado em uma região dominada por outro Estado poderoso e armado, possuía apenas como possibilidade de melhoria a experiência da vida, sofrida e perspassada por vicissitudes, regrada pela absoluta certeza de que, a final de tudo, após lágrimas, tristeza, fomes e dores infindáveis, o “reino dos céus” estaria à sua espera, como um prêmio pela presteza com que a criatura foi capaz de suportar sua existência, redimindo-se não apenas do pecado original, mas também operando a redenção que se projeta além dele mesmo em direção à toda espécie humana, causando o regozijo esperado pelo Criador ansioso de ver sua cria recompor-se dentro de seu imenso amor.

 

Pondere-se ainda que esta descrição destituída de pormenores necessárias viesse de encontro ao processo filosófico originariamente concebido por gregos e romanos, pelo qual “conhecer é sempre superior a crer” (Aristóteles), sem perder de vista as considerações obsequiosas expendidas pelos pré-socráticos, cujo elemento central de seu processo de criação baseava-se no fato de que a filosofia era um instrumental indispensável para a libertação da alma do corpo a fim de encontrar a si própria e suas origens em uma experimentação direta com aquilo que vem depois: seja este depois da morte uma sensibilização que frutifique e valorize a experiência humana vivida através de sofrimento e de dor.

 

Assim considerado, o pano de fundo onde Jesus Cristo nasceu e cresceu era constituído por esse amalgama de sentimentos e pensamentos profundos e, ao mesmo tempo, contraditórios, por vezes obscuros e, quase sempre, eivados de auto-exigências que por si mesmas seriam capazes de justificar que uma existência repleta de esforço, dor e sofrimento, seria a melhor forma de alcançar-se o “reino dos céus”. E não apenas o povo judeu, mas também o próprio nazareno tinham pleno domínio destes fatos, sendo certo que a opção de como manuseá-los caberia a cada um dentro das perspectivas consideradas a partir de suas metas e interesses.

 

Neste aspecto, uma coisa fica clara e evidente: as perspectivas de Jesus de Nazaré tinham muito mais a ver com a fraternidade humana do que uma mera disputa entre classes, Estados ou mesmo considerações de caráter puramente tribalista. Os ideais que ele pretendia trazer ao mundo diziam respeito ao amor universal, a ser amplamente difundido de forma geral e irrestrita entre integrantes da raça humana (“ama ao próximo como a ti mesmo”), eliminando quaisquer tipos de distinção possíveis e tornando a existência humana mais pró-ativa na direção do bem, do justo e do correto.

 

Esta análise nos permite ver claramente Jesus Cristo como um ativista muito à frente de seu tempo pregando proposições até então inimagináveis para uma sociedade daquela época histórica que ainda persistia em viver nas trevas das crenças populares que há séculos fervilhavam em corações e mentes nutridas apenas pela ingênua observação dos fenômenos naturais como manifestações diretas de deuses e outras entidades ligadas ao meio ambiente selvagem e indomado no qual o homem resistia por permanecer sobrevivendo a qualquer custo.

 

Contudo, as considerações acima desfiadas ao longo de parágrafos extenuantemente cansativos e até mesmo enfadonhos, servem mais para reforçar a necessidade de desvencilhar-se o Jesus histórico do Jesus místico com a única finalidade de possibilitar uma visão mais ampla distanciando-se uma questão da outra; ou seja, para um melhor discernimento acerca da verdadeira mensagem deixada pelo judeu nascido em Belém e congraçado em Nazaré a respeito do amor incondicional do ser humano pelo seu próximo como uma manifestação universal de proximidade autêntica e sensível.

 

Consideremos inicialmente como pequenas atitudes tomadas pelo Nazareno foram capazes de transmutar radicalmente o comportamento dos judeus da época frente não apenas a costumes arraigados em sua convivência social, mas também e, principalmente, acabaram por reverberar de forma lancinante em todas as direções do planeta. A primeira, e a mais singela delas, refere-se à adoção do batismo como forma de comunhão com o Criador em substituição ao sacrifício pelo sangue, prática até então costumeira e usual entre todos os habitantes não apenas daquela região, mas sim como conseqüência atávica de um comportamento repleto de superstição, medo e desconhecimento à tudo que lhe cerca. Esta substituição representa muito mais que um gesto, a purificação pela água e não pelo sangue de animais inocentes denota nitidamente uma carência de esmero nas relações entre Criador e criatura, uma criatura tomada por medos, receios e aflições que não somente à ele se sucedem, mas também a seus ascendentes e descendentes, ameaçando inclusive e principalmente à sua própria existência na face deste planeta e ainda mais a possibilidade desta criatura tornar-se plenamente capaz de honrar, amar e respeitar seu Criador, aquela entidade que é o fogo contínuo e perene que a todos aquece com suas chamas sem magoar ou ferir aquele que o ama plenamente.

 

Assim considerado, o fenômeno da purificação pela água não limpa somente o corpo, mas também o espírito e a alma que carece de alimento fortificante, substância essencial para o crescimento em todas as direções, multiplicando a criatura, dando razão à sua ancestralidade e à sua descendência que proliferariam a palavra santa do Criador e a sua potencialidade que mais e mais se efetivaria ante tudo e contra todos que à ela se opusessem. A purificação pela água é muito mais essência que a purificação pelo sacrifício, posto que o sangue, mais sagrado e mais temido por todos deve ser derramado para longe do sacrificado a fim de à terra retornar e com ela tornar-se uma, assim como faz o filho que se entroniza no seio do Pai para, ao final tornar-se apenas um. A água demonstra mais eficácia neste sentido, pois sem penetrar na terra penetra no corpo, na alma e no espírito revitalizando o harmonioso ciclo da vida que persiste e subsiste à sua custa, como também o faz à custa do fogo do ar e da terra. São os elementos demonstrando em si mesmos as imensas e incontáveis possibilidades de crescimento e desenvolvimento do ser humano enquanto manifestação encarnada do Criador.

 

Esta primeira modificação de comportamento frente à fé restou plenamente frutífera, comprovando que as atitudes do Jesus Místico vieram para causar impacto, para demonstrar a contundência da palavra do Criador quando analisada de outro aspecto.

 

Todavia, referido impacto mesmo que repleto de pujança possuía em si uma singeleza quase pueril, ao mesmo tempo em que extraía de dentro de sua repercussão efeitos que seriam sentido séculos à frente por pessoas que ainda estavam por vir e por nações cujas cores de suas bandeiras ainda encontravam-se retidas nas mentes de seus criadores. A purificação pela água não era apenas mais um gesto, era a encarnação do divino inserido no profano, extraindo de um gesto tão simplório possibilidades infinitas de redenção do homem frente ao átimo de Deus, o Pai que era capaz de entregar através de seu filho uma mensagem doce e repleta de singeleza que em si encerraria a capacidade de maior aproximação entre o entre criado e o ente que cria através de seu amor.

 

Seguindo-se nesta vertente de análise, temos como segunda atitude relevante tomada por Jesus o aspecto relativo à fraternidade baseada no princípio universal de “amai-vos uns aos outros”, e “amai ao próximo como a ti mesmo”, pelo qual o indivíduo deveria ter uma nova visão a respeito do amor e suas nuances mais apuradas. Jesus considerava precipuamente que o amor era o sentimento responsável pela mobilização não apenas do Pai com relação aos seus filhos, mas também entre eles próprios, tomados enquanto seres originariamente concebidos através do Amor Universal, resultados do amor indivisível que nos permeia, nos cerca e nos acolhe.

 

Basta apenas que observemos ao nosso redor: tudo que a natureza fornece para si e para nós mesmos é fruto de amor: concepção, reprodução, prole, alimento, posteridade e fraternidade. O equilíbrio do que nos cerca depende, mesmo que de forma tênue, de um sentimento poderoso, capaz de estabelecer elos inquebrantáveis entre o homem e a natureza, e entre o homem e seu semelhante. Ou seja, a sobrevivência do homem, desde seu surgimento, não depende apenas de sua capacidade de dominar o meio em que vive, mas sim interagir com ele, e, ao fazê-lo, deve atentar para a mesma interatividade para com seus semelhantes, somando esforços para um resultado melhor; um resultado que seja meritoriamente positivo para todos e não apenas para um.

 

Cristo, através de sua concepção fraternalista, extraiu aquilo que o amor tem de melhor: a fraternidade entre irmãos, entre pais, entre amigos, entre confidentes capazes de dizer o quanto amam seu semelhante sem qualquer temor de parecer esquisito, antiquado ou ainda politicamente incorreto. Sua visão sobre a fraternidade contrastava de forma evidente com as teses defendidas pelo Sinédrio Judaico da época, posto que o único amor possível, válido e realizável era aquele que emanava do Pai para seus filhos, cabendo à estes apenas devolver temor e reverência, medo e submissão aos escritos sagrados. Palavras antigas proferidas por crentes cegos e surdos ao universo que os cercava e que era capaz de expressar todos os sentimentos que um Pai devota aos seus filhos. Não podia se admitir um pai que fosse padrasto, que renegasse o seu próprio rebento, sua cria preenchida de amor, apenas porque este lhe fora ingrato.

 

Aliás, esta também era a visão de Cristo acerca do pecado original: Adão não havia traído seu Pai, mas sim criado uma nova expectativa acerca de si mesmo e se suas possibilidades, posto que pecar não era algo inerente ao ser humano concebido no Amor Universal; pecar tratava-se de uma nova experiência, uma forma de ver o mundo a partir de uma perspectiva totalmente desviada do original. Ciência e conhecimento não são pecados em si próprias, mas a forma como os resultados obtidos são utilizados é que podem causar mais pecado que qualquer outra possibilidade.

 

Jesus transmitia, através de sua palavra, uma outra forma de encarar-se o pecado: enfrenta-lo a partir do perdão, compreender que perdoar é um ato de remissão, de entrega total e irrestrita ao amor, desvencilhando-se das amarras das leis religiosas que impõe normas rígidas e restritivas, impondo um amor exigível, posto e não conquistado por gestos, palavras e atos capazes de, em si mesmo, demonstrar de forma única e inequívoca que todos somos frutos da mesma semente e que esta semente sempre germinará em nossos corações e mentes, disseminando a capacidade que faz o homem a maior criação do Pai: sua imensa capacidade de perdoar e de sempre ser capaz de amar seu semelhante.

 

O terceiro, porém não a último aspecto relevante a ser observado refere-se ao fato do pregador de Nazaré ter trazido aos homens a proximidade entre o profano (humano, terreno, temporal) e o sagrado (o super-humano, o eterno, o atemporal); ou seja, Jesus Cristo, através de suas palavras, de seus atos e de seus pensamentos amplamente difundidos, tinham precipuamente o objetivo de trazer aos homens a palavra do Criador – de forma direta, inequívoca e sem rodeios desnecessários – demonstrando que não apenas a fé, mas também a palavra são elementos essenciais para que o homem compreenda que a distância que o separa de seu Pai Eterno é insignificantemente pequena, desprezível.

 

Através da palavra, Cristo traz Deus para próximo do homem, ao mesmo tempo em que esta mesma palavra eleva o homem para próximo de seu Criador. Uma simples palavra dita com fé dita com amor dita com a necessária profundidade é capaz de promover, com tal relevância, a aproximação daqueles que até então encontravam-se distanciados pelo medo, pela superstição e pelos credos sem fundamento, frutos apenas da mera observação do universo que o cerca, da ingênua análise do fenômenos naturais e, por fim, da pobre interpretação das mensagens trazidas por antigos, cujas experiências talvez tenham sido mais profundas, ou mais sensitivas que as posteriores.

 

Estes aspectos demonstram, às escâncaras, que o objetivo principal do trabalho realizado pelo homem de Nazaré foi efetivamente atingido: que o divino habita em cada um de nós, em cada pedra, em cada pedaço mais insignificante de natureza, se você procurar, lá estará o Divino, lá estará o amor que constrói, lá estará a vida que pulsa incessantemente pela vontade superior Daquele que ama a todos de forma indistinta, que ama porque constrói não apenas aos seus filhos, mas também a si próprio, entregando ao Nazareno ao suplício daqueles que deveriam amar-lhe incondicionalmente.

 

PEQUENAS CONSIDERAÇÕES FINAIS.

 

À guisa de conclusão – parecendo ser mais ousado do que deveria – enfatiza-se a desnecessidade de uma eventual distinção entre o Jesus místico e o histórico, posto que qualquer tentativa neste sentido resultará inócua, sem sentido. Buscar uma significância de caráter puramente científico para um evento puramente sobrenatural é, no mínimo, um delírio e, veja-se, um delírio eloqüente, porém nada mais que um delírio sobre as possibilidades de o infinito caber dentro do finito. A alma não é finita, não é pequena e suas possibilidades apenas começaram a ser percebidas – veja: percebidas e não entendidas -, portanto, não se pode almejar responder a todas as perguntas que por anos assombram as almas e mentes de cientistas, pesquisadores e demais membros da comunidade científica mundial. O que se deve considerar neste momento é que o Jesus Histórico é apenas uma faceta do Jesus místico, não importando qual a magnitude de sua relevância, pois, de qualquer forma ela seria imediatamente submetida pela sua imagem messiânica.

 

Ademais, há de ressaltar que, os eventos humanos e sobre-humanos não podem ser ingenuamente tomados de uma forma ampla e genérica, sob pena de eivar de inverdades acontecimentos sobre os quais não temos a mínima quantidade de informações e registros necessários para uma interpretação científica isenta de qualquer ânimo.

 

Observe-se ainda que, qualquer que seja a verdade acerca das origens do Jesus Histórico, estas não podem ter o condão de funcionarem como elementos capazes de per si em alterar condicionantes de fé religiosa que servem de base não apenas para o Cristianismo/Catolicismo, mas sim para demais variáveis, quer sejam de origem messiânica ou evangélica, como também para outras cujo sincretismo ecumênico foi capaz de integrar as palavras e pensamentos do Nazareno em sua constituição filosófico-religioso.

 

Por fim, cabe destacar a importância curial das palavras proferidas pelo homem nascido na Terra Santa, cujo objetivo não era o de apenas subverter uma ordem estabelecida a partir de crença antigas, mas sim – e principalmente – demonstrar às escâncaras que tais palavras já se encontravam incutidas nos corações e mentes dos homens, sendo necessário apenas desperta-las e com elas despertar-se as almas que careciam de descortinar uma nova forma de ver o mundo que a cercava, bem como o estabelecimento de uma nova aliança entre estes e o Superior, o Pai que tudo sabe e que tudo vê. Mesmo que tomemos a existência do Criador como um delírio da alma sobre a mente, o conjunto de experiências vivenciadas pela humanidade são provas mais que suficientes para evidenciar que todos nós desejamos, almejamos e sentimos profunda necessidade de Deus.

 

Ademais, qual o impacto relevante da descoberta efetiva da natureza humana/histórica do Jesus de Nazaré? De alguma forma pode-se supor que este fato, tomado individualmente ou não, seria capaz de mudar a visão que temos hoje acerca de suas palavras, seus pensamentos, suas ações? É crível que o simples fato de elucubrar-se sobre a sua natureza humana e a possibilidade de que tenha sobrevivido à cruxificação, sejam suficientes para inferiorizar seu trabalho de evangelização, cujas repercussões modificaram o curso da história do homem sobre a face da terra e construíram edifícios não apenas teóricos, mas também de ordem prática, transmutando comportamentos, hábitos e, principalmente, crenças.

 

Este homem não pode e não deve ser isolado por uma análise histórica simplória tomada pelo devaneio de quem apenas deseja para si próprio a luz dos holofotes. Para sentir é necessário crer, e apenas isso; mesmo do ponto de vista científico.

 

 

São Paulo, 29 de outubro de 2007.

 

 

* Graduação em Administração de Empresas pela Escola Superior de Administração de Negócios (ESAN), Campus de São Paulo (ano de 1995) – pós-graduação em Administração Estratégica pela mesma escola superior. graduado no curso de Direito na Universidade São Francisco – Campus de São Paulo (2006). Servidor público federal, lotado no Judiciário Trabalhista, junto ao Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região (primeira instância). ocupando atualmente o cargo de assistente de diretor.

 

 

 

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Como citar e referenciar este artigo:
TROVÃO, Antonio de Jesus. Sobre a Natureza Mística e Humana de um Milagre.. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/filosofiadodireito/sobre-a-natureza-mistica-e-humana-de-um-milagre/ Acesso em: 08 out. 2024
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