Costumo caminhar pela
praia, olhando pra areia. Pro chão. E vou contabilizando o lixo, o despejo dos
resíduos, as pegadas e cocô de cachorro… enfim, presto atenção no tratamento
que os ‘meus iguais’ dispensam à beira-mar.
Outro dia, estava tão
absorta nessa ‘contabilidade’ que, quando olhei pro meu lado esquerdo e vi o
mar, tomei um susto. Isso: um susto!
Impactou-me o azul do
céu e o dourado-prateado dos raios de sol refletindo nas águas, o branco das
ondas, os morros verdejantes no horizonte, o vôo das gaivotas… Tanta beleza-
ali, do meu lado… tão próxima – e eu olhando pro lixo do chão, brigando
mentalmente com os usuários da praia, com a ineficiência da fiscalização dos
órgãos públicos…!!!
Respirei fundo para
melhor usufruir daquele momento, daquela beleza ímpar, gratificante e gratuita.
Troquei meu ‘parceiro de caminhada’: a visão da paisagem ao meu lado era melhor
do que a do solo em que eu pisava.
Decidi escrever a
respeito. Contar às pessoas que eu me senti melhor ao trocar o meu foco. E que
isso pode ser levado para o cotidiano.
Vou aprender a
contabilizar o belo! Rapidinho!! Como bem canta Milton Nascimento, em “Outro
Lugar”: “… O céu já tá estrelado e tá cansado de zelar pelo meu bem. Vem logo
que esse trem já tá na hora, tá na hora de partir…”.
Tudo o que nos cerca
tem alguma porção de lixo. Mas tem – em maior quantidade – algo de belo e bom e
positivo a ser respeitado, admirado, absorvido… É só querer enxergar!
* Ana Echevenguá,
advogada ambientalista, integrante do Instituto Eco&Ação e do Movimento SOS
Canasvieiras, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, www.ecoeacao.com.br.