O Mundo é Plano
Ives Gandra da Silva Martins*
Thomas Friedman escreveu livro de grande sucesso intitulado “O mundo é plano”, em que procura interpretar o universo contemporâneo.
Refere-se às três fases da globalização, a saber: a primeira, que começa em 1492 com a descoberta das Américas e segue até
Em duas trilogias que escrevi (O Estado de Direito e o Direito do Estado – 1977, O Poder – 1984 e A nova classe ociosa – 1986) e (Uma visão do mundo contemporâneo –
A segunda surge com o fantástico império romano, que dura 2.100 anos (754/3 A.C. a 1453 d.C.), em que nem o comércio, nem a conquista militar são os mais relevantes instrumentos, mas o Direito e a extensão da garantia da cidadania aos povos conquistados, que faziam por merecê-la.
O hiato da Idade Média possibilita a preparação da terceira fase, que denominei de “era da universalização”. Tem início com as grandes descobertas e termina com as duas revoluções (americana e francesa). A quarta fase principia em 1776, com a fundação da república americana, sendo a “era do constitucionalismo moderno e da tecnologia”. Nela ocorre o despertar da consciência dos povos e de seus direitos fundamentais. A última tem seus começos com a queda do Muro de Berlim e a procura das garantias individuais mais do que a descoberta dos direitos. Expande-se pela universalização do conhecimento e acesso, cada vez maior, a todas as esferas do conhecimento e do poder.
Para mim, o mundo, mais do que plano, hoje, é um mundo aberto, sem privacidade, de luta permanente para a sobrevivência dos seres humanos, que ainda buscam caminho para uma linguagem comum de respeito e de compreensão para com os velhos costumes, com a forma de ser dos diferentes povos, a partir da universalização do Direito. O desventrar, porém, pela informática e pela tecnologia, da privacidade de todos os indivíduos, faz com que a busca da garantia dos direitos, mais que sua declaração, seja fundamental para a convivência entre os povos.
Estamos, pois, no limiar de uma quinta etapa da globalização, muito mais difícil, pois nela todas as nações, todos os homens, todos os governos e todas as sociedades não-governamentais, além daquelas destinadas a aproveitar-se da fraqueza institucional do mundo, ainda não descobriram a estrada segura para repensar a realidade.
Por esta razão, resolvi reeditar a primeira trilogia num único volume, para que provoque reflexão sobre os destinos do ser humano e a sua busca pelos verdadeiros fins existenciais (Lex Editora). De rigor, a quinta fase poderá gerar, por fim, a paz entre os povos, como desejava Kant, ou, definitivamente, a instalação da selvageria entre os homens apoiados na fantástica e crescente tecnologia à disposição dos mais poderosos.
O futuro dirá.
* Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: www.gandramartins.adv.br
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