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Banhado do Colégio, a reforma agrária gaúcha



Há exatos 50 anos o então governador Leonel Brizola implantou no Rio Grande do Sul o primeiro projeto de reforma agrária realizado no Brasil, o Banhado do Colégio, e criou o assentamento de colonos na Fazenda Sarandi

 

Não foi só com os americanos que Brizola brigou nos seus quatro anos de governo: enquanto lutava na cidade para nacionalizar a luz e a telefonia, ele não esquecia dos miseráveis do campo. Para abrigar os 3 milhões de gaúchos esparramados em ranchos nos capões e coxilhas, no seu terceiro ano de governo Brizola construiu as condições para a ocupação da terra. Criou em 14 de novembro de 1961, através de decreto, o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária – IGRA – para “projetos, iniciativas, bases e diretrizes de uma política agrária para o Estado do Rio Grande do Sul, objetivando a melhoria das condições sócioeconômicas da população rural, o estabelecimento de um ambiente de justiça social no interior rural e, especialmente, quanto ao uso e propriedade da terra”.

 

Disposto a organizar a legião de miseráveis que vivia explorada pelo latifúndio, idealizou a Associação dos Agricultures Sem Terra, o MASTER, a versão moderna do atual MST. Ele nunca estimulou a ocupação de terras, queria apenas garantir o direito da propriedade àqueles que nela queriam trabalhar. Encontrou um dispositivo legal na Constituição Estadual, que determinava a entrega de terras a agricultores sempre que surgissem abaixo-assinados com no mínimo cem assinaturas reclamando a propriedade e, assim, 242.313 famílias foram recenseadas e fundaram o MASTER. Eles se reuniam às margens das rodovias, perto das áreas de latifúndios improdutivos, como faziam os liderados por Francisco Julião, em Pernambuco, nas Ligas Camponesas.

 

Estimulados pelo governo, em Sarandi, em pouco mais de uma semana dez mil pessoas formavam o acampamento João XXIII, montado perto de uma empresa de 20 mil hectares de terras improdutivas. “Somos cristãos, queremos terras”, pedia a faixa estirada na cruz de madeira. Médicos e assistentes sociais foram enviados para vacinar crianças e adultos, todos em situação de miséria. Parlamentares, jornalistas, juízes, produtores rurais e até militares do III Exército foram levados por Brizola ao local. Os colonos eram cristãos, queriam pagar pela terra, os homens estavam em dia com o serviço militar, buscavam terra para trabalhar. Brizola desapropriou os 20 mil hectares e distribuiu aos camponeses que formaram o assentamento da Fazenda Sarandi. Entre os mais de 600 lotes distribuídos nesse período, estava a fazenda Pangaré, de sua propriedade, oferecida para a reforma agrária.

 

Da mesma forma, no Banhado do Colégio a área de 25 mil hectares foi declarada de interesse social pelo Estado e repartida entre 190 agricultores, tornando-se um dos locais mais produtivos do Rio Grande do Sul. Um ano mais tarde, os colonos, muitos alemães e poloneses, comemoraram os resultados da reforma agrária na primeira colheita do milho plantado na área recebida. Antes de encerrar seu governo, Brizola deixou aprovado o decreto de criação do Programa PRADE (Projetos Especiais de Reforma Agrária e Desenvolvimento Econômico).

 

O guri que engraxou sapatos na rodoviária de Carazinho já tinha distribuído 6.302 escolas pelo território gaúcho no final de 1961. Aproveitou o embalo e distribuiu também a terra. Ele morreu há oito anos, mas faz meio século que no Rio Grande do Sul foi iniciada a reforma agrária.

 

 

* Deputado estadual e líder da bancada do PDT na Assembleia Legislativa

Fonte: AL/RS

Como citar e referenciar este artigo:
NOTÍCIAS,. Banhado do Colégio, a reforma agrária gaúcha. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2012. Disponível em: https://investidura.com.br/noticias/alrs/banhado-do-colegio-a-reforma-agraria-gaucha/ Acesso em: 13 mai. 2024