Sociedade

Que mundo recepcionará nossos netos?

 

 

O professor e psicanalista da infância e adolescência e professor José Ottoni Outeiral, do Rio Grande do Sul, disse que um adolescente contagia os demais membros da casa e todos adolescem junto, aprendendo um pouco sobre si mesmo.

 

E a gravidez? “Contamina” as pessoas próximas à gestante? Todos comungam desse processo? Com certeza! O grande poeta Luis Gonzaga Junior (Gonzaguinha) explica isso com os seguintes versos: “Grávido, porque será que um homem não pode querer estar, estando sempre ávido por entender em si a semente que ele vê na barriga daquela rapariga que passa em estado interessante. (…) Mãe, como seria ter o filho, saber passo a passo, da geração à alegria do parto”.

 

O contágio vai além da figura paterna. A família e os amigos ficam em festa porque um bebê é sempre bem-vindo. “Uma criança não ameaça ninguém. É só vida, inocência e ternura. Mais que ajudar a outros, ela precisa ser ajudada e acolhida”, segundo o teólogo Leonardo Boff que, no seu artigo “Espírito de Natal”, foi agraciado na escolha destas palavras: “Cada vez que nasce uma criança, é prova de que Deus ainda acredita na humanidade. Deus acreditou tanto que quis nascer criança frágil, com os bracinhos enfaixados para não ameaçar ninguém”.

 

“Se você reparar nos cuidados que uma cadela despende à sua cria, vai visualizar que mesmo angustiada com a possibilidade da perda e o cansaço do parto, ela continuará reunindo potências para salvar os filhotes em perigo. É esse instinto maternal que podemos desenvolver para brigar por sonhos e metas”. Estas palavras são do psicanalista Roberto Shinyashiki, em seu artigo “Ingredientes para o sucesso” no qual ele orienta sobre a canalização das emoções para obter maior produtividade na vida profissional.

 

Se aguçar o instinto maternal ajuda, até nas relações de trabalho, o que estamos esperando para colocar isso em prática?

 

Pesquisei sobre o tema quando estava prestes a ser avó, em meados de 2005. E aquele estado interessante e inusitado de “voternidade” me levou a reflexões sobre o futuro. Meu amigo Sérgio Antunes de Freitas, responsável pela página http://www.reforme.com.br/kitnet, em seus momentos filosóficos, disse-me que “a voternidade está para a maternidade, assim como a palavra voterna está para a palavra materna. Tudo lógico e transparente”. E separando algumas sílabas, ficou assim: vó terna.

 

É assim que me sinto até hoje: cheia de ternura e preocupações com esta criança que está engatinhando para a vida.

 

Assim como Gonzaguinha, eu fiquei curiosa e preocupada com a semente que via crescer no útero de minha filha. E, embora minha alma estivesse em festa, várias perguntas me incomodavam:

 

– Que mundo recepcionaria minha neta Ana Carolina?

 

– A que recursos naturais ela teria acesso se estamos destruindo nosso planeta? Você sabia que uma espécie viva desaparece a cada treze minutos em virtude do estilo de vida depredador e consumista que nos é imposto? O cientista Norman Myers afirma que, no Brasil, extingue-se quatro espécies vivas por dia.

  

Não sei ainda as respostas. Mas procuro fazer a minha parte: trato o mundo que me cerca como se ele me fosse emprestado; e que eu preciso devolvê-lo em ótimo estado, para que as futuras gerações possam usufruir da mesma sadia qualidade de vida que usufruo agora.

 

 

* Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente do Instituto Eco&Ação e da Academia Livre das Água, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br.

Como citar e referenciar este artigo:
ECHEVENGUÁ, Ana. Que mundo recepcionará nossos netos?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/que-mundo-recepcionara-nossos-netos/ Acesso em: 20 set. 2024