Direito Internacional

Século 21: nova configuração de poder mundial?

 Século 21: nova configuração de poder mundial?

 

 

Gilberto Barros Lima *

 

Discorrendo sobre os últimos acontecimentos históricos; dos fenômenos globais; das mudanças climáticas; dos avanços tecnológicos, enfim o mundo se transforma velozmente pela constante anarquia global resultante das assimetrias econômicas, políticas e sócio-culturais.

 

Inicialmente, Barbeiro (1976) enfatiza que “o mundo em que vivemos está pontilhado de acontecimentos que se sucedem com uma velocidade tão grande, que, se nós nos descuidarmos, logo estaremos desatualizados”. Nesta mesma linha de pensamento, o autor afirma que “ao nosso redor existe uma sociedade, um Estado, uma religião, uma moral e nós fazemos parte atuante de tudo isso”.

 

A conjuntura econômica mundial sofreu uma profunda perturbação após a Revolução Industrial. Novas necessidades, novas imposições, novos métodos de produzir e a mudança no modo de produção foram estudados por economistas e filósofos do Século XIX. (BARBEIRO 1976, p.298).

 

Segundo Cardoso Jr (2005) “desde o final da Guerra Fria, o mundo tem operado com base em duas lógicas contraditórias: a da globalização e a da fragmentação”. Embora a liderança entre as potências mundiais tenha se alterado, conforme descreve a história, dentre a cada mudança de comando um elemento-chave não pode ser ignorado, revestido de uma autoridade concreta e absoluta, o principal requisito para constatar a liderança de uma potência é o poder.

 

Primeiramente para sublinhar a futura possibilidade de haver no século 21, uma nova configuração de poder mundial, Ramonet (1999) ressalta que “por toda parte, tanto nas relações internacionais, como no seio da sociedade, produz-se uma mutação do poder”. De outra forma, o mesmo autor declara que “estamos em vias de passar de formas de poder autoritárias, hierárquicas, verticais, para formas negociadas, reticulares, horizontais, mais civilizadas, embora mais complexas”.

 

A mutação de poder citada por Ramonet (1999) é o resultado de que “ninguém mais ignora que, […] vivemos um período de rupturas, cortes, recomposição geral de forças geoestratégicas, das formas sociais, dos atores econômicos e dos pontos de referência culturais”. Para tanto, continua o autor que “[…] a nova ordem deve englobar tudo e não excluir nada de seu campo de ação: a política, a economia, o social, o cultural e a ecologia”.

 

Deste modo, o que significa o poder, como classificar os atributos e o campo de atuação que o poder exerce sobre os demais países?

 

O conceito de poder causa normalmente a inquietante sensação de natureza positiva quando existe o domínio de uma situação de liderança, mas de outro modo o conceito expressa a aguerrida disputa de caráter negativo para os demais participantes (subordinados) da esfera do poder. Neste ínterim, uma visão positiva de poder foi definida por Kissinger (1974, p.41) da seguinte maneira:Pensar no poder como intrinsecamente mau, […] era não compreender uma questão antiga como tempo. Em si mesmo, o poder é neutro; mesmo que a História estivesse cheia de exemplos de poder sendo usado errada e destrutivamente, ele também podia ser empregado para evitar catástrofes. A grande questão era como o poder seria usado.

 

Submetidos a uma intricada rede de normas, como modelo padrão, de uma nova liderança mundial, diversos analistas destacam a ascensão da China como uma nova liderança mundial, considerando que o poder chinês levará um determinado tempo para desbancar o imperialismo norte-americano. Algumas previsões negativas também apontam para o surgimento de um conflito militar entre ambos os países.

 

Na geopolítica mundial onde o poder desliza constantemente nas mãos dos Países, uma observação de Nassif (2007) exemplifica como ocorre essa mutação de poder: A ascensão da China, a volta da Rússia no cenário mundial, as cabeçadas dos Estados Unidos no Iraque, o crescimento da influência brasileira na América Latina e África estão redesenhando a geopolítica mundial. A Rússia estende os braços para o Irã. A China avança sobre o Sudoeste Asiático e a África. O Brasil tem ampliado a posição nos países do continente e feito incursões na África portuguesa.

 

Na conjuntura atual, a intensificação da corrida armamentista é usada como uma justificativa para a defesa territorial de possíveis conflitos num futuro sobrecarregado de repentinas mudanças estratégicas, menciona-se o uso pacífico da energia nuclear para favorecer a economia, as preocupações militares se agigantam seguidamente devido aos fenômenos pós-guerra fria que trouxeram para a realidade, a ocorrência de atos terroristas, constantes manifestações fundamentalistas, como uma nova forma de poder (adversário ou paralelo) defronte ao poderio atual dos norte-americanos e aliados.

 

Preliminarmente, a preocupação com a defesa territorial e o reaparelhamento das forças armadas de diversos países demonstra a aceitabilidade de uma nova configuração do poder mundial do século 21, conseqüentemente a modernização militar é a principal ação estratégica para desenhar uma linha de neutralidade entre a convivência entre países.

 

Por sua vez, o investimento para a defesa requer um preço muito alto, Iani (1972, p.201) destacava nos anos 70 “que as despesas militares crescentes, com os seus reflexos sobre as atividades comerciais e industriais, se tornarão sorvedouro cada vez maior de recursos, mensuráveis em bilhões, que poderiam ser melhor aplicados em programas de desenvolvimento econômico geral.

 

Para finalizar, o conceito de poder elaborado por Kissinger, de uma maneira direta e sem rodeios, é afirmado que “o poder é o maior dos afrodisíacos”.

 

 

Referências bibliográficas:

 

BARBEIRO, Heródoto. História Geral. São Paulo: Editora Moderna, 1976.

 

CARDOSO JR, Nerione N. Hannah Arendt e o declínio da esfera pública. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria das edições Técnicas, 2006.

 

IANI, Constantino. Descolonização em marcha: economia e relações internacionais. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S/A, 1972.

 

MESQUITA JÚNIOR, Geraldo. Breviário da cidadania. Brasília: Senado Federal, 2006.

 

RAMONET, Ignácio. A Geopolítica do Caos. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

 

 

Referências eletrônicas:

 

NASSIF, Luis. Agência Dinheiro Vivo. Disponível em: <http://www.dinheirovivo.com.br>  Acesso em: 18 dez. 2007

 

 

* Gilberto Barros Lima é Bacharel em Relações Internacionais (IBES-SC) e Pós-graduando em Gestãoo de Negócios Internacionais (ICPG-Blumenau-SC). e-mail: gbarroslima@yahoo.com.br.

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Como citar e referenciar este artigo:
, Gilberto Barros Lima. Século 21: nova configuração de poder mundial?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direito-internacional/seculo-21-nova-configuracao-de-poder-mundial/ Acesso em: 26 jul. 2024