A Unificação da Itália
Ricardo Bergamini*
“No momento atual da história da humanidade somente existem três nações no planeta: norte-americana, árabe e judaica”. (Ricardo Bergamini).
O Princípio das Nacionalidades
A partir de 1830, uma onda de movimentos liberais varre a Europa. Associados a estes ideais (democracia; repúblicas; monarquia constitucional; socialismo) – intensificam-se os anseios e lutas em prol do princípio das nacionalidades.
Contra o chamado “legitimismo” (o reacionário “status quo” do Congresso de Viena), formula-se o princípio das nacionalidades: todo povo que se considere uma nacionalidade – deve constituir um Estado independente, livre de qualquer domínio estrangeiro. E todas as partes de uma mesma nação devem constituir um só Estado.
A noção de nacionalidade dependerá de identidades ou afinidades de língua, religião, origem racial, cultura ou vida econômica. Mais freqüentemente, porém a nacionalidade repousa em comunhão de tradições históricas (um mesmo passado) e de aspirações materiais e espirituais (o desejo de um mesmo futuro).
O Congresso de Viena e a Itália
Após a queda de Napoleão, o Congresso de Viena (1815) dividiu a Itália em sete Estados: Lombardia-Veneza (em poder da Áustria); ducados de Parma e Módena, e grão-ducado de Toscana (sob a influência austríaca); reino da Sardenha e Piemonte (casa de Sabóia); Estados Pontifícios; e reino das Duas Sicílias (governado por um rei Bourbon).
Maçons e Carbonários
Por toda a Europa havia absolutistas (a favor da monarquia absoluta). A eles se opunham os liberais, que propugnavam a monarquia constitucional ou, mesmo, uma república. Além disto, todos os liberais eram nacionalistas.
Os liberais se organizaram em sociedades secretas – maçons (França) e carbonários (Itália) – que se estenderam por toda a Europa. Os carbonários italianos eram inimigos da dominação austríaca, partidários da unidade nacional e de um regime constitucional.
Primeiras Revoluções
Em 1820, dois movimentos liberais irrompem com êxito. O primeiro em Nápoles, onde os insurretos impõem uma constituição. O segundo no Piemonte (reino da Sardenha), onde os rebeldes, além de obterem uma constituição, proclamam o rei sardo – rei da Itália.
Metternich põe, então, em funcionamento, o seu “sistema de intervenção”: tropas austríacas invadem ambas as regiões e esmagam os revolucionários. Muitos destes são executados ou deportados a prisões austríacas. O poeta piemontês Silvio Péllico passa nove anos no cárcere de Spielberg (Morávia), onde escreve o famoso e emocionante livro “Minhas prisões”, que se torna uma arma de propaganda contra a dominação austríaca.
1830 – Mazzini
Após a revolução parisiense de 1830, estouram revoluções liberais nos Estados Pontifícios, em Parma e em Módena. Estabelecem-se governos constitucionais. Novamente, porém, soldados dos austríacos invadem os territórios italianos, sufocam os movimentos e restauram os “legítimos soberanos”. Esta política intervencionista exacerba o ódio aos austríacos e aviva o nacionalismo italiano e o fervor revolucionário.
Em 1831, o patriota genovês Mazzini funda “A Jovem Itália” que promove o “Risorgimento” (Ressurreição) do antigo e glorioso espírito italiano. Mazzini prega a expulso dos austríacos, a unificação da Itália e o estabelecimento de uma república.
1848 – Insurreições – Derrota do Reino Sardo-Piemontês
Em consonância com a revolução francesa de 1848, Mazzini e “A Jovem Itália” promovem insurreições liberais em quase todos os Estados italianos. O norte rebela-se. Veneza expulsa os austríacos. Carlos Alberto, rei da Sardenha e do Piemonte, certo da colaboração de todos os italianos, declara guerra à Áustria. Mas acaba ficando só; e é derrotado em Custozza (1848) e Novara (1849). Abdica, então, em favor do seu filho Vitor Manuel II (1849).
Cavour – Conquista da Lombardia
O conde de Cavour é nomeado primeiro-ministro do reino da Sardenha (1852) e revela-se um notável estadista e diplomata. Hábil e paciente, Cavour vai reorganizar o pequeno Piemonte, enquanto procura um forte aliado (a fim de poder vencer a Áustria). Para conquistar as simpatias da Inglaterra e da França, entra em 1855 na guerra da Criméia (1853-1856). Afinal, consegue o secreto apoio de Napoleão III (1858). Provoca, então, os austríacos e estes declaram guerra ao reino da Sardenha (1859). Quando os austríacos atravessam a fronteira do Piemonte, Napoleão III entra no conflito. As tropas francesas vencem os austríacos em Magenta. Pouco depois, os franco-sardos obtêm a vitória de Solferino.
A esta altura, os prussianos mobilizam suas forças e começam a concentrá-las no Reno. Então, repentinamente, Napoleão III (que teme uma longa e difícil campanha em Veneza, e com receio da Prússia) oferece a paz à Áustria. Franceses e austríacos assinam o armistício de Villafranca e, logo após, a paz de Zurich (1859). Mesmo assim, o reino da Sardenha obtém a Lombardia (enquanto a França anexa a Sabóia e Nice).
A Incorporação da Itália Central e Meridional
Estimulados pela derrota austríaca, os ducados de Módena, Parma e Toscana, e a Romanha pontifícia – sublevam-se. Após um plebiscito, decidem sua anexação ao reino da Sardenha (1860).
Semanas mais tarde, o famoso aventureiro Garibaldi parte de Gênova com os seus “Mil camisas-vermelhas”, conquista a Sicília e marcha vitoriosamente sobre Nápoles, onde o povo já se havia revoltado contra o odiado rei Bourbon (Francisco II). Enquanto isso, o exército sardo avança para o sul se apodera dos Estados Pontifícios – com exceção de Roma (defendida por uma guarnição francesa).
Em março de 1861, em Turim, um parlamento nacional proclama Vitor Manuel II rei da Itália, “pela graça de Deus e a vontade do povo”.
Veneza – Roma
Em 1866, a Itália alia-se à Prússia – contra a Áustria. Os italianos são vencidos em Custozza, mas os prussianos aniquilam os austríacos em Sadowa. No fim desta guerra (chamada “Guerra das Sete Semanas”), a Itália adquire Veneza.
Roma, porém continuava protegida pelas tropas francesas. Duas tentativas de Garilbaldi para a conquista da Cidade Eterna são rechaçadas (1862-1867). Mas em 1870 (guerra franco-prussiana), a guarnição francesa abandona Roma, que é imediatamente ocupada pelas tropas de Vitor Manuel II (20 de setembro de 1870). Roma é declara capital da Itália.
A ocupação de Roma e a abolição do poder temporal da Igreja colocam o reino da Itália em conflito com a Santa Sé. O pontífice (PIO IX) não reconhece a anexação nem autoridade do rei, rejeita a Lei das Garantias (promulgada em seu favor, em 1871, pelo parlamento italiano), considera-se moralmente prisioneiro – e permanece encerrado no Vaticano. A mesma atitude observam os seus sucessores no trono de São Pedro.
Esta é a chamada “questão romana”, que só foi solucionada em 1929, pelo Tratado de Latrão (Pio XI e Mussolinii). O papa foi novamente reconhecido como soberano temporal da cidade do Vaticano, pequeno estado independente dentro da cidade de Roma.
* Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região sul.. Site: http://paginas.terra.com.br/noticias/ricardobergamini
Compare preços de Dicionários Jurídicos, Manuais de Direito e Livros de Direito.