PEREIRA, Otaviano. O que é teoria. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982.
1 Sentido etimológico de teoria
A palavra teoria, com origem etimológica grega, no sentido dicionarista, pode ser entendida como um ato contemplativo, abstrato. Também como um conjunto sistemático de ideais, aproximando-se do conceito de ideologia mas sempre como algo desvinculado a prática, sendo muitas vezes entendida como avessa à mesma. Segundo Otaviano Pereira, faz-se necessário, contudo, para melhor compreensão do verdadeiro significado do conceito de teoria, extrapolar as barreiras etimológicas e sensos-comuns, buscando fontes alternativas de conhecimento. Desta forma, com um conceito mais antropológico e abrangente de cultura, poder-se-á perceber a existência de uma íntima ligação entre teoria e prática.
2 Teoria no pensamento clássico
A concepção de teoria no ideal clássico é intimamente influenciada pelas disciplinas lógica (considerada perfeita do ponto de vista organizacional) e metafísica (ciência primeira, que se destaca das outras pela possibilidade de abstração), além das influências aristotélicas e dialéticas. Novamente a concepção da teoria como abstração, distante do mundo real, se faz presente, sendo alvo de críticas pelo autor. Segundo o mesmo, o pensamento clássico exagerou o lado da teoria como “ginástica mental”, abstração, excluindo-se a síntese, elemento básico na articulação do pensamento. “Teorizar torna-se apenas uma arte de trabalhar idéia enquanto divorciada de uma realidade mais ampla”. A teoria apenas remete a realidade, que não representa as coisas em essência, perdendo-se concretude a aplicabilidade. Teoria e prática se mostram separadas pela abstração excessiva e incapacidade de sintetização.
3 Teoria no pensamento Moderno
A concepção de teoria na modernidade se mostra completamente divergente da concepção clássica, sendo interpretada até mesmo como uma reação à mesma. Acontece que, se por um lado o pensamento clássico se mostrava problemático, por não passar da abstração, tendo pouco valor prático; o pensamento moderno se mostrou limitado demais na medida em que por partir da experimentação e do mundo físico muitas vezes não se apresentava tão amplo e global quanto clássico. Baseados no método científico e no empirismo, os autores modernos transformaram o conhecimento num conjunto de métodos que não se mostravam capazes de compreender com abrangência as coisas em si, mostrando-se ausente a abstração e capacidade de generalização característica do pensamento clássico. O método por si só era incapaz de chegar a conceitos e verdades, limitando sobremaneira a busca de um conhecimento efetivo.
4 Da unicidade teoria e prática
Utilizando-se da dialética, ciência filosófica que busca um equilíbrio dinâmico entre real e imaginário, Otaviano Pereira defende que as contradições entre teoria e prática não as tornam avessas, mas revelam a existência de uma unidade aberta e dinâmica entre elas. E desta junção de teoria e prática surge o conceito de práxis, que corresponde a prática alicerceada na teoria. Ressalta-se a necessidade de se observar todos estes conceitos como antropológicos, intrínsecos às sociedades humanas, uma vez que os animais não possuem a capacidade de se distanciarem da natureza a fim de refletir a respeito de suas ações. A ação humana é invariavelmente uma ação teórica, refletida, racional.
O autor defende que a teoria tem como pressuposto básico a aplicabilidade, afinal “o homem não teoriza no vazio”. Logo, não faz sentido separar ou escolher por teoria ou prática. Cabe-nos abstrair como os pensadores clássicos e objetivar a prática como os modernos. Aceitando-se a unicidade teoria prática, cria-se através da possiblidade da práxis uma importante ferramenta para entender e transformar a realidade.