Bruno Crasnek da Luz*
WEBER, Max. Ciência e Política: Duas Vocações. Tradução de Leonidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
Ao introduzir a Ciência como vocação, o autor busca, de forma preliminar, delimitar pontuais diferenças na vida acadêmica – palco do desenvolvimento da Ciência como vocação em seu sentido mais estrito, “especialização” – da Alemanha e dos Estados Unidos da América nas primeiras décadas do século XX, tentando tirar dos bastidores universitários a influência marcante de fatores econômicos e políticos que transformaram a educação em uma fábrica capitalista. Weber conceitua a Ciência atual como a tomada de conhecimento do mundo que nos cerca, através da construção de conhecimentos específicos e especializados que se perpetuarão, através de um processo científico cumulativo, constante e progressivo, ultrapassando os limites da vida.
Ao resgatar da Grécia o surgimento do “conceito” e, do renascimento, a “experimentação racional”, atesta historicamente a sede do homem na platônica obsessão pela busca pela Verdade, lógica atualmente invertida de forma que a Ciência parece, nos nossos dias, passar a constituir um mundo irreal, abstrato, artificial. Ao adentrar no campo da “teoria”, a Ciência passa a pressupor uma lógica e uma metodologia, gerando conhecimentos que passam a ter um valor em si.
A análise do autor, em suma, caracteriza Ciência como “uma vocação alicerçada na especialização e posta a serviço de uma tomada de consciência de nós mesmos e do conhecimento de relações objetivas”, dando ao ser humano a condição de compreende com clareza a si mesmo e sua posições, seu lugar no mundo e o mundo que o cerca, oferecendo o benefício de “dar-se conta do sentido último de seus atos”.
Sugere Weber que a transmissão do conhecimento seja feita de forma avalorativa, cabendo ao receptor a interpretação do conteúdo transmitido. Segundo o autor, rompe com a ética o mestre que incorre no contrário, correndo o risco de, tornando a Ciência apenas mais um método de manipulação social, perpetuar o “status quo”, considerando o caráter político que invariavelmente advém no ambiente acadêmico. É aqui que, pela primeira vez, conceitua-se o estado como sendo o supremo monopólio da violência com o objetivo de perpetuar o ente estatal, recorrendo à coerção como instrumento normal do poder, legitimado pelos costumes e pelo hábito, pela própria legalidade representada pela crença na validez de um estatuto legal, e, finalmente, pelos dons pessoais e extraordinários de uma figura, o chamado “poder carismático”.
O autor foca seu estudo na análise nesta última forma de legitimação do poder, através de um “chefe”, um “Messias”, que servem como elo de identificação entre a população e o Estado. E, a partir do crescimento da máquina estatal como órgão monopolizador dos meios materiais de gestão da coisa pública, surge o homem que, especializado em determinado aspecto da administração pública, tira dela seu sustento, acarretando na dicotomia entre funcionários de carreira e os políticos propriamente ditos.
A partir daí, o autor distingue duas categorias de atores políticos, a saber, os que vivem “da política” – ou seja, os que vêem a política apenas como uma fonte de renda – e os que vivem “para a política” – geralmente motivados por ascensão social, vaidade. Cabe ressaltar que, em função desta distinção processar-se em múltiplos Estados, ao analisar a conjuntura político-partidária em diversas nações, destaca o fato de que mesmos projetos revolucionários, na maioria das vezes, servem apenas para perpetuar o sistema de “benesses” concedidas aos aliados do poder, de forma não diferente a uma empresa de interesses, cabide e trampolim eleitorais.
A ascensão à liderança, segundo Weber, exige dos interessados três características fundamentais. A paixão, que diz respeito à causa defendida; o sentimento de responsabilidade perante a gestão da coisa pública e o sentimento de proporção, exercício da razão ao analisar os fatos da sociedade mantendo determinado recolhimento. Alerta ainda o autor acerca da vaidade, ou seja, uma perigosa exaltação pessoal promovida pelo exercício do poder. Por fim, o autor sai em defesa da ética (“ethos”) da política, no sentido de fidelidade aos princípios, possível apenas, segundo o autor, através de um exercício dos sensos de responsabilidade, de cavalheirismo e de dignidade.
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* Bruno Crasnek Luz, 20, acadêmico da 7ª fase do curso de graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, é estagiário da assessoria do Gabinete do Juiz Substituto de 2º Grau Henry Petry Junior, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Foi bolsista de Iniciação Científica pelo programa PIBIC/CNPq entre 2005 e 2007.
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