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Necessidade de novos caminhos é unanimidade entre painelistas do seminário Sentidos da Democracia

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adão Villaverde (PT), ao lado de personalidades como o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos; governador do Estado, Tarso Genro; o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho; o arquiteto, político e ativista social Chico Whitaker; o diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, Bernard Cassen e o jornalista Ignácio Ramonet, também do Le Monde Diplomatique, foram painelistas do seminário “Os sentidos da democracia”, que ocorreu no Teatro Dante Barone na tarde desta sexta-feira (27), integrando a programação do Fórum Social Temático 2012.

No discurso mais esperado e ponto alto da atividade, Boaventura fez questão de enfatizar a afirmação de que a democracia está em crise nos tempos atuais e falou do papel do Brasil e da América Latina nesse cenário. “Pensávamos que a democracia nunca entraria em crise, portanto devemos nos orgulhar de estarmos enxergando isso. É muito importante que a América Latina hoje tenha a sensação de poder resolver problemas que a Europa não poderá resolver. Os riscos estão aí, o neoliberalismo é global”, frisou. Para ele, o neoliberalismo conseguiu esvaziar a democracia da sua vertente original. “Por esse motivo, hoje só temos democracias de intensidades baixas e muito baixas”, criticou. Ainda nessa linha, o sociólogo se posicionou de forma crítica à organização dos atuais sistemas de participação. “A democracia participativa formou-se de costas para a população”, pontuou.


Como solução para essa crise, ele considera que a defesa da democracia deve ser cotidiana. “Não há outra saída se não a participação, a mobilização, a transparência, a reforma política, a própria abertura dos partidos e dos movimentos e a democratização da mídia.” Boaventura considera que o novo ativismo político do século 21 não pode esquecer que a maioria dos cidadãos não faz parte de partidos ou organizações, por isso, diz ser essencial pensar uma nova forma de conduzir a democracia.


Nem mesmo a crítica ao modelo político adotado pela esquerda ficou de fora do colóquio de Boaventura. De acordo com o professor, a esquerda golpeou quem nela acreditou, pois, segundo ele, deixou de pensar “A grande maldição da esquerda no século 20 foi transformar militantes em funcionários”, observou.


Pelo ponto de vista do Brasil


O ministro Gilberto Carvalho falou sobre as necessidades locais, do cenário brasileiro e dos processos de mudanças no perfil da sociedade e dos atores políticos, que fazem com que se façam grandes esforços, da parte dos gestores, para que o real valor da democracia não seja esquecido. “Se de um lado estamos proporcionando uma democratização da economia, é também preciso que avancemos para uma democracia na área social e política, pois atualmente ocorre uma emergência de novos sujeitos, uma juventude que busca cada vez mais sentido para suas lutas. Nós que somos governo, precisamos ter a humildade de aprender a vivenciar essa nova democracia”, disse. Para ele, os gestores precisam estar sempre atentos aos riscos que correm por estarem no papel de governo. “Corremos o risco do autoritarismo, pois somos os responsáveis pelas respostas e precisamos ser urgentes nos resultados, por isso existe uma possibilidade muito grande de nos transformarmos arrogantes. É importante que sempre tenhamos a coragem do diálogo. A verdade sempre está no diálogo”, salientou.


O sentido da democracia e a necessidade de uma reforma política foram os pontos principais do discurso de Tarso Genro. Para o chefe do Executivo gaúcho, ao contrário do totalitarismo, a democracia não tem sentido originário nem obrigatório, portanto, está em aberto para que cada nação e cada organização formule suas próprias características. Para chegar ao exemplo do Brasil, ele definiu três exemplos de modelos democráticos: o grego, o norte-americano e o latino-americano. “No Brasil temos a possibilidade da representação política e da democracia direta. Os partidos e a sociedade preenchem esse significado; mas, esse modelo está esgotado. É preciso fazer uma profunda reforma política que consiga não só incorporar esses novos atores, como possibilitar a realização de uma luta política aberta. É preciso radicalizar a democracia”, ponderou.


Adão Villaverde também analisou o papel das representações e forma de operacional dos partidos. “Essa forma clássica que os partidos se organizam talvez esteja superada. Sabemos que a crise da democracia é a crise do estado moderno e do conjunto das representações desse estado. Considero que a capacidade do controle e da participação pode ser a maneira de enfrentar a ausência do sentido original”, considerou. Para dar o exemplo da necessidade de entender de uma nova forma as novas representações, tanto políticas como da sociedade, ele exemplificou com seu próprio caso e de políticos que, assim como ele, se forjaram organizando quem já estava organizado. “Um dos desafios atuais é reunir os não organizados”, alertou.


Geração dos indignados e o legado do FST


Muitos foram os problemas apontados, assim como suas possíveis soluções, mas ao fim do debate os participantes consideraram que o modelo atual de democracia foi derrotado por diversos fatores, produzidos especialmente pelo continente que mais disseminou essa bandeira, a Europa. “A crise que vive o continente europeu se dá principalmente porque os governantes eleitos pelo voto sucumbiram a uma forma nova de autoritarismo, refém dos grandes banqueiros e que exclui a participação dos cidadãos”, disse Ramonet.


Também foi consensual a constatação de que, além de eleger seus representantes, a população precisa ter a oportunidade de dizer o que pensa, de controlar, de reagir, e, segundo Whitaker “a sociedade não se satisfaz sendo apenas representada, ela quer atuar; e este Fórum está mostrando essa cultura mais exigente, da horizontalidade, da geração dos indignados”, concluiu.

Fonte: AL/RS

Como citar e referenciar este artigo:
NOTÍCIAS,. Necessidade de novos caminhos é unanimidade entre painelistas do seminário Sentidos da Democracia. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2012. Disponível em: https://investidura.com.br/noticias/ultimas-noticias/necessidade-de-novos-caminhos-e-unanimidade-entre-painelistas-do-seminario-sentidos-da-democracia/ Acesso em: 12 jul. 2025