STJ

STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 994.867 – MG (2007/0236712-3), Relator Ministro José Delgado , Julgado em 02/27/2008

—————————————————————-

RECURSO ESPECIAL Nº 994.867 – MG (2007/0236712-3)

R E L ATO R : MINISTRO JOSÉ DELGADO

RECORRENTE : ELZA ZAGHETTO NOCERA

ADVOGADO : DENNIS ZAGHETTO NOCERA E OUTRO(

S)

RECORRIDO : TELEMAR NORTE LESTE S/A

ADVOGADO : IVAN JUNQUEIRA RIBEIRO E OUTRO(S)

EMENTA

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIÇO DE TELEFONIA.

DISCRIMINAÇÃO DE PULSOS EXCEDENTES.

NÃO-OBRIGATORIEDADE. RELAÇÃO DE CONSUMO. COBRANÇA

DE “ASSINATURA BÁSICA MENSAL”. NATUREZA

JURÍDICA: TARIFA. PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. EXIGÊNCIA

DE LICITAÇÃO. EDITAL DE DESESTATIZAÇÃO

DAS EMPRESAS FEDERAIS DE TELECOMUNICAÇÕES

MC/BNDES N. 01/98 CONTEMPLANDO A PERMISSÃO DA

COBRANÇA DA TARIFA DE ASSINATURA BÁSICA. CONTRATO

DE CONCESSÃO QUE AUTORIZA A MESMA EXIGÊNCIA.

RESOLUÇÕES N. 42/04 E 85/98, DA ANATEL, ADMITINDO

A COBRANÇA. DISPOSIÇÃO NA LEI N. 8.987/95.

POLÍTICA TARIFÁRIA. LEI 9.472/97. AUSÊNCIA DE OFENSA

A NORMAS E PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR. PRECEDENTES DA CORTE ADMITINDO O

PAGAMENTO DE TARIFA MÍNIMA EM CASOS DE FORNECIMENTO

DE ÁGUA. LEGALIDADE DA COBRANÇA DE

ASSINATURA BÁSICA DE TELEFONIA.

1. A Corte Especial, na questão de ordem no Ag 845.784/DF, entre

partes Brasil Telecom S/A (agravante) e Zenon Luiz Ribeiro (agravado),

resolveu, em 18.04.2007, que, em se tratando de ações envolvendo

questionamentos sobre a cobrança mensal de “assinatura

básica residencial” e de “pulsos edentes”, em serviços de telefonia,

por serem preços públicos, a competência para processar e julgar os

feitos é da Primeira Seção, independentemente de a Anatel participar

ou não da lide.

2. A Primeira Turma, apreciando a matéria “discriminação de pulsos

edentes e ligações de telefone fixo para celular” no REsp

925.523/MG, em sessão realizada em data de 07/08/2007, à unanimidade,

erou o entendimento de que “as empresas que exploram

os serviços concedidos de telecomunicações não estavam obrigadas a

discriminar todos os pulsos nas contas telefônicas, especialmente os

além da franquia, bem como as ligações de telefone fixo para celular,

até o dia 01 de janeiro de 2006, quando entrou em vigor o Decreto n.

4.733/2003, art. 7º. A partir dessa data, o detalhamento só se tornou

obrigatório quando houvesse pedido do consumidor com custo sob

sua responsabilidade”.

3. A tarifa, valor pago pelo consumidor por serviço público voluntário

que lhe é prestado, deve ser fia por autorização legal.

4. A prestação de serviço público não-obrigatório por empresa concessionária

é remunerada por tarifa.

5. A remuneração tarifária tem seu fundamento jurídico no art. 175,

parágrafo único, inciso III, da Constituição Federal, pelo que a política

adotada para a sua cobrança depende de lei.

6. O art. 2º, II, da Lei n. 8.987/95, que regulamenta o art. 175 da CF,

ao disciplinar o regime de concessão e permissão da prestação de

serviços públicos, exige que o negócio jurídico bilateral (contrato) a

ser firmado entre o poder concedente e a pessoa jurídica concessionária

seja, obrigatoriamente, precedido de licitação, na modalidade

de concorrência.

7. Os participantes do procedimento licitatório, por ocasião da apresentação

de suas propostas, devem indicar o valor e os tipos das

tarifas que irão cobrar dos usuários pelos serviços prestados.

8. As tarifas fias pelos proponentes servem como um dos critérios

para a escolha da empresa vencedora do certame, sendo elemento

contributivo para se determinar a viabilidade da concessão e estabelecer

o que é necessário ao equilíbrio econômico-financeiro do

empreendimento.

9. O artigo 9º da Lei n. 8.987, de 1995, determina que “a tarifa do

serviço público concedido será fia pelo preço da proposta vencedora

da licitação …”.

10. No contrato de concessão firmado entre a concessionária e o

poder concedente, há cláusula expressa refletindo o constante no

Edital de Licitação, contemplando o direito de a concessionária exigir

do usuário o pagamento mensal da tarifa de assinatura básica.

11. A permissão da cobrança da tarifa mencionada constou nas condições

expressas no Edital de Desestatização das Empresas Federais

de Telecomunicações (Edital MC/BNDES n. 01/98) para que as empresas

interessadas, com base nessa autorização, efetuassem as suas

propostas.

12. As disposições do Edital de Licitação foram, portanto, necessariamente

consideradas pelas empresas licitantes na elaboração de

suas propostas.

13. No contrato de concessão firmado entre a concessionária e o

poder concedente, há cláusula expressa afirmando que, “para manutenção

do direito de uso, as prestadoras estão autorizadas a cobrar

tarifa de assinatura”, segundo tabela fia pelo órgão competente.

Estabelece, ainda, que a tarifa de assinatura inclui uma franquia de 90

pulsos.

14. Em face do panorama supradescrito, a cobrança da tarifa de

assinatura mensal é legal e contratualmente prevista.

15. A tarifa mensal de assinatura básica, incluindo o direito do consumidor

a uma franquia de 90 pulsos, além de ser legal e contratual,

justifica-se pela necessidade da concessionária manter disponibilizado

o serviço de telefonia ao assinante, de modo contínuo e ininterrupto,

o que lhe exige dispêndios financeiros para garantir a sua eficiência.

16. Não há ilegalidade na Resolução n. 85, de 30.12.1998, da Anatel,

ao definir: “XXI – Tarifa ou Preço de Assinatura – valor de trato

sucessivo pago pelo assinante à prestadora, durante toda a prestação

do serviço, nos termos do contrato de prestação de serviço, dando-lhe

direito à fruição contínua do serviço”.

17. A Resolução n. 42/05 da Anatel estabelece, ainda, que “para

manutenção do direito de uso, caso aplicável, as Concessionárias

estão autorizadas a cobrar tarifa de assinatura mensal”, segundo tabela

fia.

18. A cobrança mensal de assinatura básica está amparada pelo art.

93, VII, da Lei nº 9.472, de 16.07.1997, que a autoriza desde que

prevista no Edital e no contrato de concessão, como é o caso dos

autos.

19. A obrigação do usuário pagar tarifa mensal pela assinatura do

serviço decorre da política tarifária instituída por lei, sendo que a

Anatel pode fixá-la, por ser a reguladora do setor, tudo amparado no

que consta expressamente no contrato de concessão, com respaldo no

art. 103, §§ 3º e 4º, da Lei n. 9.472, de 16.07.1997.

20. O fato de existir cobrança mensal de assinatura, no serviço de

telefonia, sem que chamadas sejam feitas, não constitui abuso proibido

pelo Código de Defesa do Consumidor, por, primeiramente,

haver amparo legal e, em segundo lugar, tratar-se de serviço que,

necessariamente, é disponibilizado, de modo contínuo e ininterrupto,

aos usuários.

21. O conceito de abusividade no Código de Defesa do Consumidor

envolve cobrança ilícita, essiva, possibilitadora de vantagem desproporcional

e incompatível com os princípios da boa-fé e da eqüidade,

valores negativos não presentes na situação em eme.

22. O STJ tem permitido, com relação ao serviço de consumo de

água, a cobrança mensal de tarifa mínima, cuja natureza jurídica é a

mesma da ora discutida, a qual garante ao assinante o uso de, no

máximo, 90 pulsos, sem nenhum acréscimo ao valor mensal. O consumidor

só pagará pelos serviços utilizados que ultrapassarem essa

quantificação.

23. Precedentes do STJ garantindo o pagamento de tarifa mínima:

Resp 759.362/RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ 29/06/2006; Resp

416.383/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 23/09/2002; Resp 209.067/RJ,

Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 08/05/2000; Resp

214.758/RJ, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 02/05/2000;

Resp 150.137/MG, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 27/04/1998, entre

outros. Idem do STF: RE 207.609/DF, decisão da relatoria do Ministro

Néri da Silveira, DJ 19/05/1999.

24. Precedentes do STJ sobre tarifa de assinatura básica em serviço

de telefonia: MC 10235/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, Primeira Turma,

DJ 01.08.2005; REsp 911.802/PR, Rel. Min. José Delgado, Primeira

Seção.

25. Artigos do Código de Defesa do Consumidor que não são violados

com a cobrança mensal da tarifa de assinatura básica nos

serviços de telefonia e ao negar pedido do consumidor para a concessionária

discriminar as ligações locais.

26. Recurso especial não-provido por ser legítima e legal a cobrança

mensal da tarifa acima identificada e pela impossibilidade da empresa

de telefonia, às suas expensas, proceder ao detalhamento das ligações

efetuadas.

ACÓRDÃO

___________________

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal
de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros
Luiz Fux, Teori Albino Zavascki (Presidente) e Denise Arruda votaram
com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.
Brasília (DF), 18 de dezembro de 2007 (Data do Julgamento)

Como citar e referenciar este artigo:
JURISPRUDÊNCIAS,. STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 994.867 – MG (2007/0236712-3), Relator Ministro José Delgado , Julgado em 02/27/2008. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/jurisprudencias/stj/stj-recurso-especial-no-994-867-mg-2007-0236712-3-relator-ministro-jose-delgado-julgado-em-02-27-2008/ Acesso em: 27 jun. 2025