Visão Liberal

Guido Mantega na Globonews

23/09/2011

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Ontem eu vi a entrevista do ministro Guido Mantega dada à GloboNews. O ministro foi enfático ao dizer que a crise da Grécia – e, por extensão, da
Europa – depende apenas de vontade política para ser resolvida, faltando apenas que o decisores ponho os recursos necessários para estancar a crise. Me
atenho a esse trecho da entrevista, pois ele revela duas coisas importantes.

Primeiro, que a tecnocracia teria os instrumentos necessários para o combate à crise e a Europa dispusesse dos recursos para tanto. Isso é falso, pois
se assim fosse as crises não se sucederiam. Reduzir a crise a tecnicalidades tecnocráticas é algo absurdo, porque esta crise tem um caráter muito mais
problemático e sua solução escapa ao arbítrio. A ciência econômica dita convencional não tem meios para superá-la porque está em jogo o modelo de
Estado e o modelo político, algo que transcende à ciência econômica.

O segundo ponto é precisamente este, que está colocado o dilema moral profundo. As populações que trabalham e pagam impostos estão se recusando a
financiar gente desocupada e parasita. Este primeiro movimento mostra a contradição da proverbial história da formiga e da cigarra. As formigas não
querem mais sustentar as vadias cigarras. Não faz sentido para a população alemã pagar a conta da irresponsabilidade de governos outros, como o grego.
O sinal vermelho contra a imoralidade expropriatória acendeu. Não há argumento tecnocrático que convença o eleitorado da justeza dessa causa perdida.

Acrescento que esse conflito distributivo está latente no interior das fronteiras nacionais e as eleições recentes mostram que o eleitorado cansou de
dar carta branca à social-democracia. Na verdade, a crise é da social-democracia. O modelo se esgotou, em virtude o abuso que a classe política e a
tecnocracia fizeram ao longo do tempo. O modelo encontrou sua própria fronteira. Ele supõe a permanente expansão da carga tributária e dívida pública.
Na Europa, ambas estão esgotadas, pois já se encontram na zona de asfixia. Não há solução técnica para o problema.

Da mesma forma, foi encontrado o limite político. O eleitorado disse não ao financiamento dos desocupados dos países quebrados. Nada impede que esse
não seja extensivo aos próprios parasitas autóctones. Acho até que isso já está em curso, na medida em que políticos de direita têm obtido crescentes
votações. Depois das orgias dos bailouts, uma apoteose da irresponsabilidade tecnocrática, estamos vendo agora o movimento na direção oposta.

Guido Mantega está raciocinando em termos de normalidade e de crises passageiras. Penso que essa é “a crise”, que deverá modificar consideravelmente as
forças políticas, o perfil do Estado e o modo de conduzir as políticas econômicas.

* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, José Nivaldo. Guido Mantega na Globonews. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/visao-liberal/guido-mantega-na-globonews/ Acesso em: 24 jan. 2025