O surgimento dos relacionamentos interorganizacionais tem sido alvo de estudos pela academia e emergindo como alternativa para se firmar no ambiente competitivo. Especificamente os referidos relacionamentos mais relevantes denotam para as joint ventures, clusters, arranjos organizacionais e redes de empresas. Ainda nessa abordagem, Miles e Snow (1986) afirmam que para lidar com esse amplo conjunto de exigências competitivas, a alternativa organizacional que desponta, desde o último quartil do século passado, é a união de um conjunto de empresas na forma de redes interorganizacionais.
Nohria e Eccles (1992) contribuem com essa temática e afirmam que existem três razões para o aumento do interesse no tema “redes interorganizacionais”: a) a emergência da “nova competição” como está ocorrendo nos distritos industriais italianos e no Vale do Silício. Se o “velho” modelo de organização era a grande firma hierárquica, o modelo da organização considerada característica da “nova competição é a rede de inter-relações laterais intra e interfirmas; b) o surgimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs) tem tornado possível uma maior capacidade de inter-relações entre firmas dispersas; c) a consolidação da análise de redes como uma disciplina acadêmica, não somente restrita a alguns grupos de sociólogos, mas expandindo para uma ampla interdisciplinaridade dos estudos organizacionais.
Não obstante, uma gama de estudos sobre as redes interorganizacionais estão focados sob dois diferentes prismas, o social e o econômico. Contudo, os problemas enfrentados pelos membros das redes ainda não foram aprofundados de uma maneira mais incisiva. Alguns dos problemas vêm sendo estudados por autores como Silva (2006), na qual aborda a problemática da saída das empresas das redes. Outra importante temática abordada são os estudos de Jones, Hesterly e Borgatti (1997), que abordam a questão da governança em redes, ou seja, como atuam as direções das redes.
Corroborando com a temática acima, quando se investiga a literatura de governança percebe-se que umas das questões mais pontuais são os problemas de agência, que na verdade irá abordar especificamente os problemas da assimetria de informação entre os agentes. Na acepção de Rodrigues e Malo (2006), a existência da teoria da agência é oriunda do fato de que os proprietários e os administradores têm interesses diferentes. O agenciamento é o ato de representar de modo diligente, uma pessoa ou uma instituição.
Contribuindo com essa discussão proposta, Pereira (2005) afirma que existem nas redes os empresários denominados de “empreendedor conciliador”. Essa empresa/empresário é aquele ator que busca, na rede, algo mais do que o retorno econômico do seu negócio. Seu objetivo intrínseco está em maximizar o seu ganho social. Para isso, faz questão de participar das diretorias das redes, o que lhe garantirá uma melhor visibilidade social. De um simples empresário, dono de uma empresa, ele agora é um agente transformador de dezenas delas. Seu caráter dinâmico e conciliador garante a sustentabilidade das redes, mas não a sua evolução. Isso demonstra que a rede, apesar de uma estrutura horizontal, convive com a assimetria de informação.
Com respeito à gestão em redes organizacionais, Passador e Ferreira (2005), colocam o seguinte questionamento: “Como fazer uma boa gestão em redes? Ainda, que os mesmos afirmem que com os instrumentos convencionais não são adequados, é necessário um esforço na construção de novas ferramentas e novos modelos. Corrobora-se com os autores e pretende-se com esse estudo, prover informações que auxiliem na melhoria da gestão das redes. Mas, neste momento, necessita-se de um maior aporte teórico para construir um argumento sólido para esse contexto de pesquisa.
Não obstante, os estudos de autores como Gulati (1998); Powell (1987, 1990); Grabher (1993); Ring e Van de Vem (1994) e Larson (1992), fornecem embasamento para essa análise. No entender desses autores está se configurando como consenso entre pesquisadores, que redes, ou arranjos organizacionais cooperativos, incluindo alianças estratégicas são influenciados na sua gestão tanto por fatores sociais como econômicos.
Buscando uma aproximação da teoria em questão com a temática proposta do presente trabalho, a cooperação entre as empresas apresenta fragmentos já relatados na Economia dos Custos de Transação, sendo esta uma importante abordagem utilizada para a análise dos relacionamentos interorganizacionais. Willianson (1985) baseia-se em premissas centrais, tais como a racionalidade limitada e o oportunismo e resume o oportunismo, a um comportamento como mentir, roubar, lograr, formas sutis de enganar, revelar informação de forma distorcida ou incompleta, ofuscar e confundir. É conveniente lembrar que não são todas as pessoas que se comportam de maneira oportunista o tempo todo, mas sim algumas e em algumas vezes, o que, mesmo desta forma, pode ser um grande problema para o desenvolvimento das redes (WILLIANSON, 1985).
Por outro lado, para Pereira (2005, p.187) a caracterização do empreendedor oportunista é de grande valia, pois ele é o agente estimulador das mudanças e de novos conhecimentos para a rede. “Ele é essencial para a perpetuação das redes. Em contrapartida, esse agente, por seu caráter dinâmico, não se contenta com ambientes sem novos desafios, tornando-se, assim, em possíveis agentes oportunistas”. O empreendedor oportunista está preocupado com os ganhos oriundos do processo de associação. Ele busca, a todo o momento, mensurar os seus custos e os benefícios (especificidade de ativos) por pertencer à rede. É um agente tipicamente oportunista, ávido por desafios.
Desta forma, o oportunismo da rede, além da especificidade de ativos também é influenciado pela freqüência das transações, incerteza e complexidade do ambiente, quantidade de agentes envolvidos na transação e assimetria de informações. A escolha da governança é também uma questão crucial neste ponto. Os atores econômicos irão escolher a estrutura de governança (mercado ou hierarquia) capaz de reduzir possíveis problemas transacionais, criados pela racionalidade limitada, de um lado, e pela ameaça do oportunismo, do outro, a um menor custo. Segundo Jones, Hesterly e Borgatti (1997, p. 914) governança de rede:
[…] implica a existência de um grupo específico, persistente e estruturado de empresas autônomas (bem como agências sem fins lucrativos) envolvidas na criação de produtos ou serviços baseados em contratos implícitos e abertos, em condições de se adaptar às contingências ambientais e coordenar e salvaguardar as trocas. Tais contratos são elos de ligação sociais e não legais.
Neste contexto, as empresas possuem um sentido de pertencer a um grupo, com a existência de processos de seleção, com relações de cooperação duradouras e, em grande parte, mantidas por vínculos sociais e não contratuais, o que não significa que estes dois aspectos são excludentes. Para entender o processo de governança, é necessário considerar a dimensão da estrutura desse novo tipo de configuração organizacional e a dimensão da ação coletiva (BALESTRO, 2004). “No caso das redes de empresas, a governança e os seus mecanismos são condições sine qua non para sua existência, especialmente porque a existência de uma rede acena com relações de cooperação de longo prazo” (BALESTRO, 2004, p.51).
Quanto aos benefícios e vantagens que as redes de cooperação podem proporcionar às empresas, já não há mais dúvida alguma. Reduzir custos, aumentar poder de barganha, melhorar preços e descontos, status, suporte, padronização, são apenas alguns dos inúmeros benefícios diagnosticados e validados em estudos anteriores. Com certeza, a rede apresenta um papel fundamental no que tange à sobrevivência e ao desenvolvimento das empresas, seja qual for o setor ou a economia nas quais estão inseridas.
O que se pretendeu, aqui, foi demonstrar que o processo é fato, e que pode proporcionar grandes benefícios e vantagens às empresas, mas não sem considerar alguns problemas já constatados, que, no final, podem acarretar até na saída da empresa da rede da qual participava. Talvez, no estágio em que as redes foram estudas os membros percebem de maneira menos veemente este processo, o que em muitos casos vai acarretar com a saída do membro da rede pela falta de confiança na diretoria vigente.
Estes temas podem ser discutidos e analisados na parte final deste estudo. Ambos devem ter sua importância ressaltada para que se possam evitar maiores erros e desgastes na relação empresa x rede. Mas, além disso, outro fato também foi diagnosticado: as empresas e as redes percebem a realidade de maneira muito distinta. Questões como objetivos que levam as empresas a entrarem na rede, benefícios, aumento do potencial de ganho, relação de dependência e causas de saída são percebidas de formas diferentes pelas empresas e pela rede, o que pode causar altos níveis de insatisfação no decorrer do processo. Atenta-se, aí, para o processo de comunicação existente entre as partes, o que também envolve a participação de todos os interessados, ou, pelo menos, uma parte representativa destes, que discuta e entenda as ações e os propósitos destas ações. A comunicação deve se dar de forma clara e objetiva, caso contrário, isso também pode interferir nas relações de confiança entre ambas as partes.
Artigo escrito por Jonas Venturini, sócio da Bruke Investimentos