Um case de inteligência
Claudia Zardo*
Vamos esquecer o tema Petrobras e focar na estratégia da assessoria.
Eis o motivo- abaixo- que me leva a só fazer entrevista por e-mail. Não é para esconder atrás de um computador, que eu até não sou tão feia ou tímida. É para ser honesta com quem concede uma entrevista. Ninguém gosta que os outros coloquem palavras na sua boca e os cortes tiram toda a linha de pensamento do entrevistado. E eu não faço com os outros o que não gostaria que os outros fizessem comigo – para me chatear.
E nos bastidores, é assim que funciona a notícia. Ninguém conta para o leitor ou para o entrevistado de primeira viagem. O que a meu ver é desonestidade com o outro; para não dizer que é falta de responsabilidade. Por isso, eu só faço entrevista por e-mail. Documento para as partes e nunca tive uma reclamação.
Enfim, obrigada aos que nos últimos cinco anos apoiaram o meu método de trabalho. É diferente, sai do padrão, mas é o que tem dado mais certo.
Editorial de O Globo do dia 09 de junho
Ataque à imprensa
No centro do noticiário de desvios de recursos em contratos superfaturados, de irrigação generosa de ONGs companheiras, e motivo de instalação de uma CPI no Senado, a Petrobras decidiu, de maneira agressiva, antiética e ilegal, tentar acuar O GLOBO, a “Folha de S. Paulo” e “O Estado de S. Paulo”, jornais que, por dever de ofício, acompanham com a atenção devida as evidências de desmandos na administração da companhia.
Tremenda cartada de inteligência da assessoria de imprensa. Tem meu apoio. Quem trabalha no sistema de produção de notícias bem sabe que editor está sempre sob a pressão do tempo e de “interesses maiores”; que ele não acompanha o trabalho que começa com o produtor e muito menos esteve em campo para acompanhar o fato relatado pelo repórter. Se um pingo é letra, para quem sabe ler, quando o editor substitui palavras ou faz cortes, a leitura do pingo está necessariamente prejudicada. E quem põe a mão em um conto sempre aumenta ou diminui outro ponto e aí o conto deixa de ser o original. Ou seja, isso é falta de precisão e é desonesto com quem concede uma entrevista.
Afinal, vocês têm medo do quê? Quem não deve não teme. Publicando as respostas e perguntas eles estão evitando as já conhecidas distorções do “ ele disse o que achei que disse , o que anotei correndo no bloquinho ou o que eu não consegui entender na gravação e para dar conta do fechamento , coloquei qualquer coisa”.
Sejamos justos, vocês estão literalmente carecas de saber que é o que acontece na Redação. Inteligente foi a assessoria, que com o blog está garantindo a publicação de respostas na íntegra. Assessoria defende interesse do cliente e neste caso é a fala integral do cliente dela. Eles estão certinhos. Ademais jornalista nenhum é santo como pintam no editorial.
Não é à toa, que tem mais de 10 anos que eu defendo a concentração do processo em uma única mão. Repórter que levanta pauta e cobre até o produto final ( até na revisão da diagramação), evita distorções, brigas e reclamações. E prejuízos para a empresa jornalística em ações judiciais.
O jornalismo não é com uma fábrica e muito menos seu sistema de produção é como o de uma indústria. Há grande diferença entre apertar roscas e parafusos e trabalhar passando a navalha nas palavras dos outros.
Na boa, tios do jornalão, quando vocês se dizem atacados e ofendidos é mais pelo fato de que alguém foi mais esperto do que vocês na hora de defender a quem representa , e está tirando vocês da zona de conforto de um processo que há tempos não funciona mais. O que sempre incomoda. Todo mundo quer ficar no conforto e quem tira a gente de lá é visto como inimigo.
E xeque-mate para a assessoria.
* Jornalista e acadêmica de Direito