Sociedade

“Fiat Lux” e “Big-Bang”

“Fiat Lux” e “Big-Bang”

 

 

Ives Gandra da Silva Martins*

 

Estou chegando do Seminário de Verão que a Universidade de Coimbra com a Associação de Estudos Europeus e o Pólo da União Européia naquela cidade todos os anos promove, em sua Faculdade de Direito, com a participação de conferencistas de várias partes do mundo.

 

Foram 14 os expositores que, durante quatro dias, debateram temas relacionados à globalização, concorrência, valores sociais, ambientais e culturais, sendoque a temática religiosa se inseriu, de acordo com a cultura e os costumes dos diversos povos, em variados momentos.

 

Nas reuniões paralelas ao seminário, ou seja, nos almoços e jantares, algumas vezes se debateu se a ciência estaria a confirmar as verdades proclamadas pela religião, ou estaria a destruir suas bases, principalmente, as da religião cristã.

 

Alguns entendiam que o “big-bang” é a negação da existência de Deus, pois tudo que conhecemos começou com uma explosão, há aproximadamente 15 bilhões de anos.

 

Seu argumento fundamental é de que não foi Deus quem criou o universo conhecido, pois a ciência demonstrou que sua criação decorreu de uma única explosão.

 

Na ocasião, rebati o argumento mostrando que qualquer hebreu ignorante, há milênios, sabia que, num determinado momento, Deus dissera “faça-se a luz” e do caos surgiu o universo. O que, na linguagem metafórica própria dos orientais, representa o “Fiat Lux” senão, na linguagem de “far west” dos cientistas, o “big bang” de 15 bilhões de anos atrás?

 

De rigor, uma grande explosão criou o universo, nada sabendo, os cientistas, sobre o que a pode ter provocado, enquanto os hebreus, há milênios, sabiam que, do caos, criou Deus o universo, com o seu “fiat lux”, ou seja, o “big bang” da ciência. Em ambos os momentos, a luz da explosão e a luz da criação divina é idêntica, como idêntica é a descrição do início do universo, com a diferença que os hebreus já sabiam, pela palavra revelada, como surgiu, e a ciência, com milhares de anos de atraso, veio apenas agora continuar a revelação divina. Não quero, sequer, examinar a científica e rigorosa ordem da evolução do universo e da Terra que consta do Gênesis, no Velho Testamento, em que, os seis dias, durante os quais, na narração bíblica, Deus arquitetou as novas realidades sidéreas e terrestres, correspondem aos bilhões de anos em que os cientistas registram a formação das estrelas, da terra, das águas, das plantas, dos animais e o aparecimento do homem. Cada dia de labor do autor divino, corresponde, em precisa e científica ordem da evolução do universo em face da Terra, os bilhões, milhões ou milhares de anos calculados pela ciência.

 

Em outras palavras, aquilo que a ciência só veio demonstrar, recentemente, como sendo a verdadeira ordem da evolução do homem e da vida no globo, era de conhecimento pleno de qualquer hebreu iletrado, só de ouvir a palavra revelada, na interpretação de seus líderes espirituais.

 

Até mesmo o fim do planeta, previsto para quando o sol explodir, atingindo os corpos siderais mais próximos, numa bola de fogo, para transformar-se, depois, numa estrela anã de incomensurável densidade, São Pedro revela na epístola segunda, ao dizer: “Se todas estas coisas hão de destruir-se deste modo (…) quando os céus se dissolverão ardendo e os elementos’ se derreterão abrasados” (Epístolas 2, 3, 11 e 12).

 

Desta forma, a ciência, sempre com muito atraso, vem confirmar as verdades da religião, razão pela qual termino este breve artigo com as palavras de Robert Jastrow, diretor do Goddard Institute of Space Studies da NASA: “Para o cientista que passou a vida acreditando no ilimitado poder da razão, a história da ciência desemboca num pesadelo. Escalou a montanha da ignorância e está a ponto de conquistar o cume mais alto. E quando está subindo o último penhasco, saem para lhe dar boas-vindas um monte de teólogos, que estavam sentados lá em cima faz muitos séculos” (Alfonso Aguiló. É razoável crer: São Paulo: Ed. Quadrante, 2006. p. 40).

 

 

* Professor emérito das universidades Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado do Exército e presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, do Centro de Extensão Universitária e da Academia Paulista de Letras

 

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Como citar e referenciar este artigo:
MARTINS, Ives Gandra da Silva. “Fiat Lux” e “Big-Bang”. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/qfiat-luxq-e-qbig-bangq/ Acesso em: 27 abr. 2025