Sociedade

Oscar Corrêa, Um Verdadeiro Homem Público

Oscar Corrêa, Um Verdadeiro Homem Público

 

 

Ives Gandra da Silva Martins*

 

Faleceu Oscar Corrêa, uma das maiores figuras da história brasileira. Jurista, economista, filósofo, poeta, contista, cronista, político, acadêmico de inúmeras Academias, inclusive da Academia símbolo do país, que é a Brasileira de Letras. Deixa um vácuo fantástico no cenário nacional, tão ressentido hoje por toda a sorte de escândalos políticos, que consternam a nação.

 

Quando fiz política, ainda jovem, tendo presidido o Diretório Metropolitano em São Paulo do Partido Libertador, por indicação do Deputado Raul Pilla e do Senador Mem de Sá, ouvi, juntamente com João Pessoa de Albuquerque, presidente do diretório estadual, observação do presidente nacional do PL, que dá bem a dimensão política de Oscar. Apesar de pertencer a outro partido, entendia, o Dr. Pilla, que apenas Oscar Corrêa poderia dar continuidade ao seu ideal parlamentarista e de uma democracia ética, voltada ao interesse da pátria e não ao dos detentores do poder.

 

Deixei a política em 1965, quando da edição do Ato Institucional n. 2, e prometi que só voltaria a participar dela, quando o Brasil voltasse a ser uma democracia autêntica, o que até hoje não ocorreu. Os amigos do rei ainda são mais importantes e menos éticos do que seriam os representantes de uma autêntica república parlamentarista, como ocorre em quase todos os países do espaço europeu e asiático.

 

Não me arrependo, até por que foi graças àquele gesto que me dediquei mais à vida universitária e foi me possível conhecer a figura maiúscula de Oscar Corrêa. Culto e combativo, ético e leal, severo com os aproveitadores e suave com o povo ou com os menos favorecidos. Zeloso esposo, magnífico pai de família, dedicado amigo e patriota insuperável, Oscar foi grangeando, durante sua vida pública e privada, uma legião cada vez maior de amigos e admiradores.

 

Professor de Economia e de Direito – fundamos juntos, em 1986, a Academia Internacional de Direito e Economia, com outros juristas e economistas, tais como Mário Henrique Simonsen, Roberto Campos, Miguel Reale, Caio Tácito, Moreira Alves, Sydney Sanches, Carlos Langoni, Paulo Rabello de Castro – exerceu, brilhantemente, a advocacia, foi deputado federal, ministro da Suprema Corte da nação, Ministro da Justiça e titular da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.

 

Sua combatividade era admirável. Não poucas vezes, na sustentação de seus votos como juiz do Supremo Tribunal Federal, terçava as armas de sua inteligência e argumentação com seus pares, para demonstrar os fundamentos da posição que assumia, lembrando um cavaleiro andante na busca de seu ideal de Justiça.

 

Amigo do Presidente Sarney, não titubeou em deixar o Ministério da Justiça, quando divergiu do Ministro Maílson da Nóbrega quanto a sua política de combate à inflação e teve deste um gesto de grandeza, ao se deslocar para o Rio de Janeiro, para prestar-lhe a última homenagem, nos salões da Academia, no último dia 30/11.

 

Seu último livro sobre Dante, que lançaria no dia 01/12 na ABL, demonstra a magnitude de seu talento, inteligência e o domínio das mais variadas áreas do conhecimento humano.

 

Escrevemos juntos – com Miguel Reale, Saulo Ramos e Geraldo Vidigal- um livro com 10 poemas de cada um, em homenagem aos 50 anos do Clube de Poesia, fundado por Cassiano Ricardo, e nele algumas de suas traduções poéticas, elaboradas especialmente para o livro, refletem o profundo domínio que tinha do idioma e da herança cultural italiana.

 

Com sua esposa, seus filhos, genro e nora, além de seus netos, graças ao seu estilo de autêntico chefe da casa, formou família rara, nos dias de hoje, em que a harmonia e o amor sempre estiveram presentes.

 

Muitas vezes, seu filho Oscar, quando participava das reuniões que realizávamos, -ele que é brilhante advogado e foi deputado federal- beijava Oscar e dizia “Benção, Pai”.

 

Nos dias que correm, em que a memória histórica vai se diluindo e que a mediocridade política e a falta de ética vão pisoteando os verdadeiros valores que deveriam ornar os homens públicos da nação, reverenciar a memória de Oscar Corrêa é fazer Justiça a um dos maiores homens públicos do Brasil e sinalizar, para as futuras gerações, que devem tomar como exemplo figuras desta grandeza, e não os melancólicos pigmeus que povoam os porões do poder, na atualidade.

 

SP. 06/12/2005.

 

 

* Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: www.gandramartins.adv.br

 

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Como citar e referenciar este artigo:
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Oscar Corrêa, Um Verdadeiro Homem Público. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/oscar-correa-um-verdadeiro-homem-publico/ Acesso em: 10 set. 2024