IBRAM: O exemplo da grande cultura de um povo
Mario Guerreiro *
Acabou de ser finalmente criado o ibram (Instituto Brasileiro de Museus), a mais nova autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura. Sua inauguração foi no dia 11/6/2009 em Brasília e contou com a presença de vários políticos, entre eles o Presidente Lula, grande incentivador da educação e da cultura.
O ibram tem como finalidade precípua coordenar as ações da Política Nacional dos Museus e promover grandes melhorias no setor. Iniciará suas importantes atividades contando apenas com 425 novos funcionários, mas este número deverá aumentar conforme as exigências da portentosa tarefa a ser cumprida.
Esses funcionários serão distribuídos entre os 28 museus federais do Brasil, mas enquanto não começam suas atividades, elas já estão sendo levadas a cabo pelos 450 funcionários assoberbados já existentes, alguns provenientes do antigo iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) devidamente remanejados e do demu (Departamento de Museus e Centros Culturais).
Não pensem as línguas maledicentes que esse é um novo cabidão de empregos para os companheiros do PT. É verdade que Lulla já contratou cerca de 300.000 funcionários no governo federal, mas os 425 novos funcionários do ibram deverão ser aprovados mediante concurso cujo edital já está sendo preparado pelo Ministério do Planejamento.
Um dos muitos planos do IBRAM é a criação de Museus Comunitários, como o da Maré, Pavão-Pavãozinho, no Rio de Janeiro, bem como de comunidades indígenas e quilombolas. Esta orientação multiculturalista evidencia claramente, para ninguém botar defeito, o caráter politicamente correto da coisa.
Reforça isto que afirmamos a formação do Conselho Consultivo do IBRAM, que não é constituída de museólogos, renomados artistas e historiadores, mas sim de membros da FUNAI, da Fundação Cultural Palmares, além de representantes da sociedade civil, desde que sejam filiados ao PT ou indicados por estes mesmos. Será que o sistema de cotas já chegou também aos museus?
Assumirá a chefia do ibram o Sr. José do Nascimento, juntamente com 120 cargos das (Direção e Assessoramento Superior), que incluem gratificações especiais, além dos salários, é claro. “Vamos repovoar os museus”, disse o referido diretor (
Tal afirmação dá a subentender que, para ele, os museus estavam despovoados, embora ele não tivesse entrando em detalhes sobre as causas desse lamentável despovoamento.
Não é o total desinteresse do povo, é claro… Como sabemos, o povo brasileiro tem grande interesse em tudo o que diz respeito à educação e à cultura…
Segundo ainda o Sr. José do Nascimento – que não sabemos se é filiado ao PT ou proveniente de um dos partidos da base aliada – de
Só não consigo entender a sutil lógica do Sr. Nascimento. Primeiramente, ele falou em “repovoar” os museus. Posteriormente, afirmou que o número de visitantes aumentou em 12 milhões, quase dobrando entre 2003 e 2007. Se não havia um despovoamento, como falar então em repovoamento?!
Não obstante a gritante incongruência do Sr. Nascimento, supondo que seus números estejam corretos, isso faz com que o Brasil passe a ocupar a 6.a posição no ranking das maiores redes de museus do mundo. Mas não me perguntem sobre a qualidade dos museus brasileiros…
Fora as ilustres exceções do MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), do MASP (Museu de Arte de São Paulo), do Museu Imperial de Petrópolis (RJ) e poucos outros, a natureza das peças exibidas chega às raias do ridículo: não se trata de telas de pintura, escultura, objetos de valor histórico ou coisas do gênero, mas sim de bugigangas, quinquilharias e esquisitices dos mais variados tipos.
Há alguns anos, o saudoso humorista Bussunda e a turma do Casseta e Planeta deram-se conta dessa situação bizarra e inauguraram, na Rua Paulino Fernandes em Botafogo (Rio, RJ), o Museu da Babaquice, ao qual tive grande satisfação de fazer uma visita, uma vez que não sou francês: tenho sense of humour.
Surpreendentemente, o Rio de Janeiro – esta Chicago brasileira sem Elliot Ness e os Intocáveis – tem mais museus do que Londres, Paris ou Nova Iorque. Com a diferença de que
Deve ser justamente por isso que a maioria deles apresenta condições precárias de instalação e inadequada manutenção, sujeitos a deterioração de valiosas peças – nos raros que as há – e a roubos de quadrilhas intelectualizadas, vez por outra. E até sem proteção nenhuma contra incêndios criminosos, como foi, tempos atrás recolhidos na minha memória, o caso do MAM no Rio.
Mas o que não falta são funcionários nesses grandes cabidões de empregos patrocinados por políticos, que podem não ter o menor interesse por arte e em patrocinar cultura para um povo que não a exige por não a desejar, mas estão sempre interessados em agradar seus cabos eleitorais e apaniguados com empregões e empreguinhos públicos.
apêndice I: o empreguinho
Um sujeito vai visitar um amigo deputado federal e aproveita para lhe pedir um emprego para o seu filho que tinha acabado de completar o supletivo do 1º grau.
__ Eu tenho uma vaga de assessor, só que o salário não é muito bom…
__ Quanto, doutor?
__ Pouco mais de 10 mil reais!
__ Dez Mil!!!!???? Mas é muito dinheiro para o garoto! Ele não vai saber o que fazer com tudo isso não, doutor!!!! Não tem uma vaguinha mais modesta?
__ Só se for para trabalhar na assembléia. Meio período e eles estão pagando só 7 mil!
__ Ainda é muito doutor! Isso vai acabar estragando o menino!
__ Bom, então tenho uma de consultor. Estão pagando 5 mil reais por mês, serve?
__ Isso tudo é muito ainda, doutor. O Senhor não tem um emprego que pagasse uns mil e quinhentos ou até dois mil reais???
__ Ter eu até que tenho, mas aí é só por concurso e é para quem tem curso superior, pós-graduação ou mestrado, bons conhecimentos em informática, domínio da língua portuguesa, fluência em inglês e espanhol e conhecimentos gerais… além do mais, ele terá que comparecer ao trabalho todos os dias.
apêndice II: cariocas sempre errando de preocupação
ó cariocas mal informados! Por que vos preocupais tanto com a gripe suína do México, que ainda não matou ninguém no Brasil, quando na Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil, a dengue, popular Aedes Aegypti, já deixou centenas dengosos e matou 109 só neste Ano da Graça (ou da Desgraça) de 2009?! Hare baba!
* Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.