Sociedade

IBGE bate à porta: entre, mas não abuse

IBGE bate à porta: entre, mas não abuse

 

João Baptista Herkenhoff*

 

 

Dia desses, numa bela manhã de sol, eu estava sorvendo a alegria de escrever um e-mail para uma querida amiga do Rio Grande do Sul – Alda Menine, quando sou surpreendido pela visita de um agente de pesquisa do IBGE.

 

Normalmente, eu respondo com boa vontade tudo que o recenseador me pergunta. Sei que dados seguros são indispensáveis para projetar o Brasil.

 

Prestar informações a agências estatísticas oficiais é dever cívico, como são deveres cívicos fazer parte do júri, servir como testemunha quando convocado, votar, pagar impostos, participar da vida coletiva e comunitária, doar sangue.

 

Desta vez uma razão a mais despertava minha simpatia. O entrevistador – Graziani Mondoni Silva – é estudante de Geografia da UFES. Certamente, o que ganha no seu trabalho custeia compra de livros e outras despesas acadêmicas. Nestas situações, a associação de idéias com filhos, sobrinhos ou netos, que pudessem estar naquele momento exercendo o mesmo ofício, bate forte na consciência.

 

A pesquisa tem como objetivo traçar o perfil da vida nos domicílios brasileiros.

 

Comecei a responder o questionário com uma predisposição altamente positiva, devido aos fatos acima alegados, mas fui perdendo o entusiasmo à medida que as perguntas avançavam.

 

O senhor tem em casa aspirador de pó, forno elétrico, ferro elétrico, aparelho de som, aparelho de secar roupa, batedeira de bolo, máquina de lavar louça, fogão, espremedor de alimentos, ferro de passar roupa?

 

Respondendo afirmativamente a essas indagações, refleti: como seria desejável que toda família brasileira pudesse dizer que tem em casa tão úteis equipamentos da vida moderna! Como é triste que muitas pessoas não tenham estas coisas em casa e muitas vezes nem mesmo tenham casa.

 

Depois desta reflexão íntima, supus que a investigação sobre utensílios domésticos estivesse concluída. Ledo engano.

 

O jovem, com aquela garra do primeiro emprego, prosseguiu galhardamente.

 

Qual foi o custo de cada uma dessas compras? Quando foi que o senhor comprou cada um dos aparelhos? Esses aparelhos dão defeito? Com que freqüência dão defeito? Qual o custo dos reparos?

 

Ufa! Mas não terminou aí.

 

Existe aqui um formulário para que o senhor registre durante sete dias, dia após dia, o que o senhor comeu, quanto pagou para comer, se comeu em casa ou comeu em restaurante e, no caso de restaurante, se o senhor deu gorjeta. Eu não me lembro bem se havia essa pergunta sobre gorjeta, mas no clima de investigação inquisitorial, cabia perguntar isso e muito mais.

 

Um aplauso e um apelo ao pessoal que no IBGE projeta pesquisas. O aplauso é no sentido de reconhecer a importância desses trabalhos. O apelo é para que poupem os cidadãos brasileiros de indagações que não tenham real objetividade e que geram apenas perda de tempo e de paciência.

 

* Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo. Como Professor itinerante, tem visitado cidades, universidades e instituições culturais de todo o país, onde ministra seminários e também profere conferências ou participa de debates. É Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Realizou pós-doutoramentos na Universidade de Wisconsin, EUA, e na Universidade de Rouen, França. Advogado, Promotor de Justiça, Juiz do Trabalho, Juiz de Direito e novamente Advogado, foi um dos fundadores (1976), primeiro presidente e ainda é membro (emérido) da Comissão “Justiça e Paz”, da Arquidiocese de Vitória. Foi um dos fundadores (1977) e primeiro presidente da Associação de Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo. É membro: do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB),do Instituto dos Advogados do Espírito Santo, da Academia Espírito-Santense de Letras, do Centro “Heleno Fragoso” pelos Direitos Humanos (Curitiba), da Associação “Padre Gabriel Maire” em Defesa da Vida (Vitória), da Associação “Juízes para a Democracia” (São Paulo), da Associação de Juristas pela Integração da América Latina (Curitiba) eda Associação Internacional de Direito Penal (França).

 

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Como citar e referenciar este artigo:
HERKENHOFF, João Baptista. IBGE bate à porta: entre, mas não abuse. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/ibge-bate-a-porta-entre-mas-nao-abuse/ Acesso em: 04 out. 2024