Sociedade

Em 2009, Lei Áurea pra todos

Em 2009, Lei Áurea pra todos

 

 

Ana Echevenguá

*

 

“Não vou chorar, nem vou me arrepender Foi eterno enquanto durou,
foi sincero nosso amor Mas chegou ao fim.” Chiclete com Banana, de Beto Garrido e Alexandre Peixe.

 

 

Não estou falando da Lei da Princesa Izabel. Conhecem a Lei Áurea de Confúcio: Não faças aos outros o que não queres que te façam”? Tão simples. Tão clara. Mas tão difícil de ser colocada em prática.

 

Será que dá pra viver a complicada vida a dois sob esta regra do Confúcio? Alguém lembra de aplicá-la, com o passar dos anos? Ou acha que é bobagem perder tempo conquistando o ser amado porque este já detém a sua posse e propriedade?

 

Dona Maria: – Olha, eu sempre lavo e passo a roupa do meu marido; deixo a casa impecável mas ele não levanta uma palha do chão. Diz que isso é serviço pra mulher.

 

Seu João: – Claro que eu faço, todo o meu salário eu coloco dentro de casa. Não deixo faltar nada pros meus filhos.

 

Dr. Pedro: – Nem me fala disso, sexo lá em casa? Doutora, essas coisas a gente faz na rua. Esposa é esposa, é a mãe dos meus filhos!

 

Todo casal tem o mesmo discurso: os problemas do relacionamento são provocados pela cara-metade. Quem reclama sempre está certo, é vítima das circunstâncias. E a gente sabe que nem sempre é assim.

 

Quantas pessoas – no auge da paixão – fazem vistas grossas aos defeitos do ser amado?

 

– Ah! Depois eu mudo essas manias dele.

 

– Ela é assim agora; comigo vai ser diferente!

 

O tempo ensina: ninguém muda ninguém. Mas a tentativa é sempre válida. E vale tudo: agressão física, greve de fome, de sexo, de roupa lavada… até uso de terceiras pessoas.

 

Foi disso que eu lembrei agora: das mulheres que usam, como tábua de salvação do seu relacionamento, a gravidez. Da maternidade irresponsável.

 

Isso mesmo: filho não é só usado nas novelas globais para manipular o suposto ser amado. Tem muita gente na vida real que usa o filho para casar ou pra segurar um casamento. Na maior parte das vezes, não dá certo. O pai da cria cai fora e recai sobre a mãe o encargo total da criação e educação do filho. Essa é a regra geral.  

 

Mas alguns homens caem nessa armadilha e, após a ciência da concepção do filho, decidem assumir seu papel de pai. Mesmo que a relação com a gestante esteja deteriorada, casam com essa; ou, se já estão casados, não separam porque entendem que um filho precisa de um pai e de uma mãe ao seu lado, sob o mesmo teto.

 

Será mesmo que isso é necessário? Se administrar os papéis de uma vida a dois é complicado, imaginem os papéis de uma vida a três!

 

Criança precisa de amor, de cuidados, de segurança, de amparo material e moral. E tudo isso pode ser fornecido à criança sem que pai e mãe estejam enjaulados sob o mesmo teto. Já que nada escapa aos olhos de uma criança, ela sente o clima pesado à sua volta, percebe a violência familiar que não é caracterizada somente por agressões físicas ou verbais. O silêncio, a ansiedade, enfim, o estresse do cotidiano quando o casamento vai mal também é uma forma de violência.

 

Sei que a nossa Constituição Federal não faz parte dos livros mais lidos no Brasil. Que pena! Ela nos ensina sobre os nossos direitos e obrigações. Vejam só o artigo 227: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

 

Se é obrigação do pai e da mãe garantir tudo isso aos seus filhos, o que devemos fazer quando, na vida conjugal, o amor, o respeito, o tesão acabam e é impossível reconstituir o ‘vaso quebrado’?

 

Juntando os conhecimentos dos constituintes e de Confúcio, eu acho que a melhor saída é a separação de um casal quando a continuidade da vida em comum é inviável.

 

E a separação está prevista até mesmo no Direito Canônico que permite a nulidade dos casamentos feitos na Igreja quando o amor deixou de fazer parte da relação. E a gente sabe que isso acontece com bastante freqüência: muitos se casam, ou se casaram, por fuga, obrigados, coagidos, iludidos, cegos pela paixão, de forma pueril e/ou irresponsável…

 

Separar dói. Separar gera frustrações. Todos perdem. Tanto os separados como os filhos destes. Mas eles têm que se adaptar à nova realidade. Isso os ajudará a crescer.

 

A Lei Áurea de Confúcio deve ser lembrada e praticada em todos os papéis que exercemos. Principalmente na relação entre pais e filhos.

 

Pensem nisso nessa virada de ano, ao som baiano do Chiclete com Banana: “Foi tão bonito, tão intenso, tão maravilhoso Cada segundo E a vida nos revela cada dia uma nova cena Um outro mundo”.

 

Todos, quando nascemos, contraímos a obrigação de ser feliz!

 

* Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente da ong Ambiental Acqua Bios e da Academia Livre das Águas, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br

 

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Como citar e referenciar este artigo:
ECHEVENGUÁ, Ana. Em 2009, Lei Áurea pra todos. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/em-2009-lei-aurea-pra-todos/ Acesso em: 26 jul. 2024