“Constituição Federal, art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade…”
Florianópolis está no imaginário de várias pessoas. Sonham em morar aqui após a aposentadoria, sonham em descansar em suas praias no verão… seduzidas, provavelmente, pelos indicadores de sadia qualidade de vida da cidade.
Reclamam, no entanto, que um dos grandes empecilhos para a realização destes sonhos é o dinheiro (ou a falta deste).
Mas, se você gosta de aventura, não perca tempo. Venha pra cá! More na beira do mar; durma sob as estrelas; veja o sol nascer nos morros; faça churrasco na areia… não pense em gastar seu dinheiro com casa, mobiliário, roupa de cama… viva sob o céu de Florianópolis!
Em Canasvieiras, que eu elegi pra viver, um grupo de pessoas está fazendo isso. Moram sob as árvores, comem e bebem na areia, lavam suas roupas no mar, … Não estou brincando não! Todo mundo vê. Querem conferir? Eles ficam naquele barranco entre o Trilegal e a Aldeia dos Piratas.
Ver a esse grupo de esfarrapados, barbudos, bebendo álcool provoca medo e insegurança. Meu grande amigo, professor Pizarro, que mudou pra cá após a sua aposentadoria, está tão indignado quanto eu: “Por causa disso, minha mulher mudou o trajeto da caminhada na praia; e Floripa fica virando um sonho às avessas com aquela miséria explícita”.
Morar assim é legal? Claro que não. Mas Canasvieiras “passou a integrar o rol das áreas mais violentas da Grande Florianópolis, ombreando, em matéria de registros criminais, com a maioria dos bolsões de miséria e marginalidade em favelas e áreas periféricas da região” – segundo um dos editoriais do periódico (marrom) Diário Catarinense.
Isso ocorre devido à ‘Segurança Zero’ que assola Santa Catarina. A desculpa é sempre a mesma: a polícia carece de recursos materiais e humanos para garantir a proteção do contribuinte.
Fui assaltada, dentro de casa, duas vezes, por ladrões apelidados de ‘homens-aranha’ que escalam facilmente qualquer prédio. Após isso, descobri que muitas e muitas pessoas experimentaram a mesma tragédia, que assalto por aqui já ficou banalizado.
Descobri também que a polícia nada faz. “Assaltos, furtos, agressões praticamente já fazem parte do dia a dia das 150 mil pessoas que moram naquela região da Capital”, segundo o mencionado DC. Quem quiser alguma proteção deve contratar empresas de segurança privada. Há restaurantes por aqui que contratam mais de uma empresa dessas. Se uma falha, tem a outra…
Entenderam por que ninguém vai tirar aquele povo da beira da praia? Por que eles permanecem lá, há mais de dois meses, incomodando, poluindo e provocando medo nos usuários da praia? Por que, quando chove, eles ocupam facilmente a calçada dos bares que ficam de portas fechadas fora da temporada de verão?
Eu vi que alguns deles passaram a coletar lixo nas redondezas, com um carrinho improvisado… acho que o barranco vai virar um centro de reciclagem. Tática interessante que poderá inviabilizar a retirada desse povo de lá devido ao problema social que poderá gerar. Ou seja, já estou antevendo a desculpa dos órgãos públicos quando decidem cruzar os braços diante de nossas reivindicações.
Assim é a bela Florianópolis, terra da igualdade social: tanto o especulador imobiliário como o sem-teto pode invadir a sua praia, impedir o seu acesso a ela enquanto a destrói e a polui. “Todos iguais; mas uns mais iguais que os outros” – Humberto Gessinger.
* Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente do Instituto Eco&Ação e da Academia Livre das Água, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br.