De guerra tal e qual, pode ser dito, que brasileiros não saibam o que realmente seja. Até porque, nunca a vivenciamos, nunca passamos por uma.
Pracinhas brasileiros, alguns dos quais ainda no nosso convívio, estiveram lá pelos campos da Itália, mas nossa cultura a respeito é bem parca. Até “aquelazinha” que possamos ter tido, foi aliviada, ao saber, por exemplo, que estando naquele país, houve gente que conseguiu reunir “uns trocados” os quais lhe permitiram se tornar magnata. Nem se pode negar que os acordes melodiosos de “Gioconda”, de Vicente Celestino, reeditada na voz de Christian e Ralph, encheu-nos de poesia a alma, mas ofuscou a dor do idílio descrito, por culpa da guerra.
É diferente em relação ao atentado que balançou as estruturas do mundo porque os atingidos são a meta de tantos, os Estados Unidos da América do Norte. Se aconteceu lá, quanto mais por cá ou por ali, em terras “meio tupiniquins”.
É quando a paz está ameaçada que sentimos a importância de poder gozá-la e que não se aparte de nós. Não percamos pois, esta boa oportunidade de nos questionarmos, sobre o que fizemos ou estamos fazendo no sentido de construir a paz.
Em cada alma humana há um anelo pela paz, uma verdadeira ânsia ou necessidade de prová-la, de tê-la. Não obstante, perenemente constatamos, que apesar desse profundo anseio de paz, como ela vai-se constituindo sempre mais em um ideal distante quase inatingível. Em seu lugar, mora o medo. Medo de sair de casa, de nos acontecer alguma coisa, medo de que na volta, não seja encontrado alguém que lá deixamos ou os acessórios para as nossas vidas. A incerteza do amanhã, a insegurança no trabalho, enfim todos esses motivos povoam nossos pensamentos e os ocupam. Ocupam nosso tempo e determinam nosso agir ou reagir. Acabam por nos dominar, ao invés de senhores, nos tornamos servidores delas.
Essa convicção levou o Papa Paulo VI a um alerta a todos os homens da terra: “A realidade adverte-nos que qualquer coisa não funciona bem na máquina da civilização; um defeito na estrutura poderia rebentar uma conflagração indescritível. Para que isto não aconteça é mister que os homens construam uma paz que não seja passiva nem opressiva, mas inventiva, preventiva e operativa”.
Palavras de algumas décadas mais parece que acabam de ecoar. São poucos os operadores da paz, são poucos os que no contexto de suas vidas direcionam o que fazem também para a consecução da paz no mundo. Não dá para continuar achando que cada coisa tem origem e fim em si mesma, que não produza conseqüências.
A ameaça da paz, a perspectiva da guerra hoje, não se originou nos acontecimentos do último 11 de setembro, mas no suceder-se da falta de compromisso com as causas que afligem a humanidade, que multiplicam os excluídos, que perpetuam no poder os inconseqüentes e no contentar-se com migalhas, quando na luta, poderia ser conseguido muito mais.
Paz não se constrói evitando guerras, mas respeitando o homem e fazendo com que não no texto, mas na prática possa ser lida a grande verdade: “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
* Marlusse Pestana Daher, Promotora de Justiça, Ex-Dirigente do Centro de Apoio do Meio Ambiente do Ministério Público do ES; membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, Conselheira da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória – ES, Produtora e apresentadora do Programa “Cinco Minutos com Maria” na Rádio América de Vitória – ES; escritora e poetisa, Especialista em Direito Penal e Processual Penal, em Direito Civil e Processual Civil, Mestra em Direitos e Garantias Fundamentais.