Alguns operadores do Direito entendem que seu trabalho é independente da sua mentalidade. Para eles, o que importa é sua atuação no mundo jurídico, uma vez que acreditam que sua vida particular e sua forma de pensar nada interfeririam.
Na verdade, nosso mundo interior permeia cada atitude que tomamos como a água embebe a esponja. Não há como separarmos as ações das intenções. Se nossas intenções são boas ou ruins, nossas ações serão algo diferentes num e noutro caso, tal como o crime doloso não é exatamente igual ao culposo e esses dois não são idênticos a um ato involuntário.
Estas afirmações podem parecer mero jogo de palavras principalmente para aqueles que enxergam no Direito simplesmente uma forma de ganhar dinheiro. Este tipo de reflexão não lhes interessa em absoluto…
Conseguimos resolver muitos problemas jurídicos quando dialogamos com as partes no sentido da conciliação e conquista-se a Paz Social.
Todavia, nossa atuação somente adquire uma força quase irresistível na pacificação das partes quando nossa vida nos dá a credibilidade suficiente. Se vivemos ditatorialmente no setor doméstico, teremos dificuldade em convencer algum cônjuge autoritário a ser compreensivo. Se vivemos às turras com as pessoas em geral, não teremos o dom de convencer alguém a ser razoável na sua vida de relação com as demais. Se gostamos de “levar vantagem em tudo” não saberemos como argumentar para que alguém renuncie a vantagens indevidas. Se tratamos bem somente as pessoas ricas e instruídas, não teremos condições de demover os preconceituosos do seu orgulho e jactância. E assim por diante…
A missão do Direito não é regular a vida de autômatos.
O trabalho da Justiça não é mecânico, devendo ser informado de Amor aos seres humanos de carne e osso, com seus defeitos e virtudes.
Não há como atuarmos corretamente tendo as pessoas como meros números no meio de outros números.
Quando atuamos num processo, as pessoas nos enxergam sob o ângulo da nossa vida particular.
Qual a mentalidade daquele operador do Direito? Faz o que prega ou fala uma coisa e faz outra?
Quando damos maus exemplos na vida particular ou na vida pública, nossa responsabilidade é evidente como incentivo indireto aos que querem agir incorretamente, ao mesmo tempo de desanimamos os que são volúveis.
Muita gente do povo age incorretamente escudada nos maus exemplos de muitos homens públicos.
Com razão diz o ditado: “A palavra convence e o exemplo arrasta”.
Está correto quem disse: “Você é responsável por todo imagem que cria na mente das pessoas”.
Nossa missão é mais ampla do que simples e formalmente encerrar processos, sendo importante que os problemas sejam resolvidos em definitivo e as pessoas se aperfeiçoem como cidadãos.
* Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).