Variações Sobre o Socialismo
Ives Gandra da Silva Martins*
As idéias são incompatíveis com os resultados, no ideário socialista. Nenhum governo socialista da atualidade é verdadeiramente socialista e os governos socialistas do passado foram um monumento ao “fracasso planejado”.
Cuba remanesce como peça de museu econômico; a única parte da ilha que funciona (turismo) só funciona por ter adotado idéias liberais.
No resto, enquanto pôde viver dos subsídios russos à cana-de-açucar, deu aparência de que sua monoeconomia era sólida, o que desmoronou com a derrocada do império soviético.
O evidente atraso cubano –só mascarado pela intensa propaganda da esquerda, esconde também o tratamento diferenciado que se dá a dois notórios assassinos políticos, ou seja, Fidel Castro e Pinochet, que, sem julgamento prévio, condenaram milhares de cidadãos ao fuzilamento, sendo que a “performance” do ditador cubano foi mais cinematográfica. Assassinou 17.000 pessoas contra os 3.000 de Pinochet, segundo os noticiários dos jornais.
É que fuzilar não-socialista sem julgamento é ato de bravura e fuzilar socialista é crime hediondo, segundo os dois pesos e duas medidas, com que os dois ditadores e assassinos políticos são tratados pela mídia.
A única diferença, do ponto de vista econômico, é que o assassino do Chile gerou mais desenvolvimento econômico que o assassino caribenho, estando aquele país muito à frente de Cuba, como modelo econômico, na atualidade.
Felizmente, em relação ao Brasil, os amores do Presidente Lula por Cuba, ficaram apenas em formulações semânticas, sem conteúdo prático.
O radical socialismo, que levou a atraso econômico, é tolerável para uma ilha, que pode usufruir os recursos do turismo capitalista, mas, para o Presidente Lula, não é bom para o Brasil, que adotou modelo econômico convencional, de resto, o mesmo que os líderes socialistas europeus adotaram para a Europa, ou seja, um socialismo não socialista ou um capitalismo real envernizado por “slogans” socialistas.
O certo é que o ideal de que todos são iguais perante a lei e devem ter uma idêntica repartição da riqueza mundial, independentemente de sua capacidade em gerá-la ou de seu nível intelectual, é pura utopia, porque os homens nascem desiguais e esta desigualdade é própria da natureza.
O que cabe à lei produzir é instrumental que dê iguais oportunidades para todos e seja capaz de evitar que os mais poderosos aproveitem-se dos mais fracos, além de assegurar um mínimo de vida digna para os seres humanos.
A utopia socialista deve ser substituída pela realidade social, cabendo à lei proteger o mais fraco, mas não desnaturar o mais forte, punindo a capacidade de crescimento segundo a natureza e a vocação de cada um.
De resto, a grande e emergente economia socialista da atualidade é a chinesa. Esta economia só o é porque as regras que determinam sua expansão são capitalistas e o regime ditatorial oferta aos investidores do Ocidente a tranqüilidade que uma democracia lá instalada talvez não ofertasse, num país de bilhão e 300 milhões de habitantes.
O modelo chinês é “bom” para o Ocidente, pois assegura o mercado para os investidores e garante a ordem, que lhes permite retorno. Como se vê, apenas os “ideais contaminados” dos socialistas dão resultados, visto que os “ideais puros e simples” são também aqueles que geraram seus mais redundantes fracassos.
SP., 20/12/2004.
* Advogado tributarista, professor emérito das Universidades Mackenzie e UniFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, é presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, do Centro de Extensão Universitária e da Academia Paulista de Letras.
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