Triste Brasil
Ives Gandra Silva Martins*
Antonio Delfim Netto, em seu artigo “Triste Verdade”, publicado na Folha de São Paulo, no último dia 10, mostra como três documentos anuais sobre a evolução da economia do mundo fornecem melancólica avaliação sobre a estagnação econômica brasileira.
O “World Economic Forum”, entre 125 países, coloca o País, em 66º lugar, tendo em conta a taxa de crescimento; o “IMD World Competitiviness Year Book”, entre 52 países, coloca o Brasil na 43ª posição; e o “Doing Business of the Year”, reserva-nos a 121ª posição, entre 125 países.
Para um país em que executivos como o presidente da General Motors e autoridades como Rodrigo Rato, diretor-geral do FMI, não sabem dizer por que não cresce, a “performance” obtida pelo Governo Lula é melancólica, visto que demonstra que seu governo pouco fez em prol do desenvolvimento. O que realmente cresceu, no Brasil, foi: 1) a carga tributária –a mais indecente dos países emergentes-; 2) os quadros do funcionalismo público, conformando uma máquina administrativa esclerosada, na qual ingressam muitos servidores sem concurso; 3) contratos superfaturados, como tem constantemente alertado o TCU, o que, talvez, esteja na base dos escândalos apurados em 2005 e 2006, hoje objeto de denúncia oferecida pelo Procurador-Geral da República e que fala em “quadrilheiros, parlamentares e amigos do rei”, como noticiaram os jornais.
Por outro lado, a convivência fraterna dos dirigentes do Pais com estes aprendizes de ditadores, que são Morales e Chaves – chefes do Executivo de dois países que, juntos, têm população inferior á do Estado de São Paulo- dificulta maior atração de capitais para investimentos no Brasil. É de se lembrar que, enquanto o fluxo de tais investimentos cresceu, no mundo -segundo a ONU em 34,3%-, caiu, na América Latina, em 4,5%, no ano de 2006. Mesmo no Brasil, que, por suas potencialidades, poderia tê-los recebido nos mesmos níveis que China, Índia e Rússia, cresceu apenas, 5,6%, abaixo, portanto, da média. Por esta razão, no volume global do IED (investimento estrangeiro direto), o Brasil teve reduzida sua participação, que caiu de 1,6% para 1,3%. É de se lembrar que, em 2004, nossa participação era de 2,6%, tendo em um único ano perdido 1% da participação global – ou seja, quase 40%, de um ano para o outro. E continuará caindo.
Enquanto no Brasil o IED cresceu apenas 5,6%, contra a média global de 34,5%, o Chile aumentou 48,4%, a Rússia 94,6% e a Índia 44,9%, em clara demonstração de que estamos seguindo o caminho do retrocesso, impondo, o atual governo, uma violenta marcha-ré na economia.
É bem verdade que está agora anunciando metas de desenvolvimento. Fala em 5% de crescimento e que pretende “flexibilizar” o orçamento – com nítido risco de perder o controle da inflação.
Ocorre, todavia, que, seus primeiros gestos – aumento do salário mínimo e da bolsa família, à custa de aumento da carga tributária e possível cerceamento do crescimento econômico privado – sinalizam que os caminhos que conduzem ao verdadeiro desenvolvimento continuarão distantes e os medíocres índices ostentados nos primeiros quatro anos poderão ainda ser piores, nos próximos quatro anos, à falta de uma política real de contenção das despesas da máquina administrativa esclerosada.
Em outras palavras, o que emperra o Brasil é a máquina pública esclerosada. A carga burocrática é a principal responsável pelo seu fraco desempenho no cenário mundial. E, nesse setor, infelizmente, o Presidente não pensa em tocar, até porque, dos 22.000 cargos públicos que tem à disposição para negociar, grande parte sai da entumecida Administração Pública Federal.
Pobre Brasil!
* Professor Emérito das Universidade Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado maior do Exército. Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, da Academia Paulista de Letras e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: http://www.gandramartins.adv.br
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