Política

Questão Ambiental: mudanças para uma mentalidade coletiva

Questão Ambiental: mudanças para uma mentalidade coletiva

 

 

Gilberto Barros Lima*

 

Vivenciamos um período de reavaliação econômica quanto à questão ambiental, de acordo com as últimas décadas surgiram inúmeros fenômenos ecológicos que conceberam uma série de discussões e diversos debates de caráter mundial. Embora os índices de crescimento na economia mundial embalam a ciranda do mercado internacional, tais aspectos não foram priorizados positivamente quanto à preservação do meio ambiente.

 

Portanto, o processo econômico resultou alguns danos catastróficos para a natureza, no curso dessa incompatibilidade: economia e meio ambiente, os países são desafiados a conduzir uma reformulação econômica para dimensionar o crescimento e desenvolvimento econômico, ambos conectados singularmente na natureza sustentável.

 

Neste caso, como aponta o artigo “A mudança indispensável” de Manuel Neto e Flávio Shirahige (2008), ambos colunistas do Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique, a sociedade mundial carece urgentemente da mudança de mentalidade quanto a questão ambiental, na qual convivemos numa impiedosa realidade. Inteligentemente, os autores destacam no artigo a idéia da aplicação de “quatro propostas concretas contra a continuidade da devastação do planeta”.

 

Com o transcorrer do advento da Globalização e do avanço das economias emergentes, a questão ambiental reflete sinais de desrespeito aos recursos naturais, bem como, o aumento da degradação do meio ambiental local e internacional. Esse aumento vem ao encontro das agravantes ações econômicas das grandes potências que ainda persistem em alimentar o problema que aflige todo o planeta na área ambiental.

 

Neste cerne da problemática ecológica onde reina a incompreensão e a demagogia, se ancora num tripé – economias emergentes, potências mundiais e meio ambiente – uma série de disputas políticas que se digladiam para priorizar suas posições e interesses próprios no cenário internacional.

 

Decorrente neste sentido, as propostas de Neto e Shirahige exorta, primordialmente, a reflexão de que a defesa do meio ambiente exige “mudanças de caráter individual de atitude”. Por sua vez, as mudanças elaboradas só produzirão efeitos reais quando resultarem em políticas que alterem os hábitos coletivos de consumo.

 

Em conseqüência desse fenômeno econômico, o mundo se encontra diante do agravamento das questões ambientais, desde que “o homem passou a considerar a natureza como uma serva”, conforme afirmou Ramonet (1999), a natureza e seus recursos naturais têm sido explorados em grande escala, sem qualquer cautela e controle para manter a sustentabilidade do meio ambiente e a manutenção desses recursos considerados não renováveis.

 

Inicialmente, para destacar o parecer de Neto e Shirahige, os colunistas enfatizam que “uma das questões mais comuns que enfrentamos, face à crescente importância da questão ambiental, diz a respeito à necessidade de mudarmos hábitos e padrões de consumo profundamente arraigados”. Essa observação inicial descreve como que a roupagem de nossa educação está fincada numa “cultura do desperdício”, resultante de uma lógica de consumo irresponsável, de uma industrialização de finalidade predatória, baseada no pressuposto “suicida” da infinidade dos recursos naturais e na energia barata.

 

A despeito desses equívocos, nas últimas décadas a questão ambiental também foi afetada pelo aumento vertiginoso da população mundial, o planeta passou a ser explorado pelas potências imperialistas, bem como, ampliou-se de forma gigantesca a exploração indiscriminada dos recursos naturais.

 

De outra maneira, quanto ao ponto de vista de Rozestraten (2007), a questão ambiental foi notadamente prejudicada pelo fato de que “a degradação e o comprometimento da natureza selvagem foram intensificados pelo crescimento descontrolado das cidades e de suas atividades industriais de alto impacto ambiental, especialmente a partir de meados do século XIX”. No entanto, para a reversão da alarmante crise ambiental contemporânea, o mesmo autor enfatiza que depende de iniciativas de reavaliação do papel da cidade e da participação popular como pólo decisivo na educação ambiental e consecutivamente na transformação comportamental”.

 

Encadeados na evidência da “mudança indispensável” visando a preservação do meio ambiente, Neto e Shirahige, afirmam categoricamente que devemos combater a crise ecológica e “transitar para outro padrão de economia, de atividade industrial e de consumo”.

 

Todavia, neste ponto crucial, surge o inevitável questionamento: Como fazer isso?

 

Para exemplificar o falso dilema da existência de uma consciência ecológica assinalada pelos autores, tal dilema pode ser caracterizado como “disjuntiva”, ou seja, “as mudanças de consciência e de hábitos práticos do consumidor (quer dizer, reeducação das pessoas e educação das crianças) ou pela “imposição” dos “poderes públicos, de normas e regulamentos aos fabricantes, comerciantes e governos, que seriam obrigados a produzir e tratar de forma sustentável suas mercadorias e serviços”.

 

De acordo com Neto e Shirahige, não adianta efetuar a coleta do lixo reciclável se na maioria das vezes o cumprimento desse comportamento não tenha a regularidade efetiva, tal procedimento serve também para uma maior fiscalização quanto ao destino das pilhas e baterias – mesmo existindo a resolução N0 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – que também tem provocado, erroneamente, “o crescimento acelerado da produção de lixo tecnológico”.

 

No curso do problema quanto à destinação do lixo e demais componentes, segundo Neto e Shirahige, “para evitar esse tipo de situação e também para politizar de forma cidadã as questões ecológicas urbanas”, surge a proposta de quatro campanhas. Para tanto, as quatro campanhas serão consideradas como uma ação encadeada, permitindo a geração de uma sinergia e a induzir a reflexão sobre “o consumo e descarte dos produtos”.

 

Na íntegra, a primeira campanha seria que: muitos países têm substituído o uso de sacos plásticos por sacolas e mochilas ou, no limite, por sacos de papel. Campanhas em torno desse tema já vem sendo desenvolvidas, assim como propostas de restrição ao uso de sacos plásticos. Mas as iniciativas só prosperarão com uma ampla difusão de informações sobre o caráter nocivo deste tipo de produto – o que exige a participação do comércio, a começar pelas grandes redes varejistas. Precisamos consolidar as campanhas fazendo com que saiam do âmbito individual e sejam assumidas pelos governos, regulamentando e limitando a utilização das sacolas.

 

A segunda campanha: o mesmo se passa com a substituição das lâmpadas incandescentes por lâmpadas frias, muito mais eficientes na relação entre o consumo d energia e a iluminação obtida. Foi um processo iniciado no Brasil no período do “apagão”, mas depois abandonado pelo desleixo governamental. Esta é uma campanha central de conscientização da sustentabilidade em países como Cuba e Venezuela. Os governos dos países centrais também estão adotando legislações que banem a fabricação de lâmpadas incandescentes. São propostas que deveriam ser seguidas também pelos governos federal, estaduais e municipais, além de empresas.

 

A terceira campanha é o desafio de reverter a tendência ao aumento do consumo da água engarrafada. Este costume arraigou-se profundamente por todo o mundo, já que a água destas garrafas passou a ser vista como segura contra contaminação. Isso até pode ter sentido em países onde os sistemas de tratamento de água são precários, mas não é o caso dos países centrais nem na maior parte do Brasil, onde filtros e bebedouros são igualmente seguros. Valorizar a água encanada é o primeiro passo de uma mudança que terá que afetar todas as embalagens de plástico, as de maior impacto ambiental.

 

Enfim, a quarta campanha, é igualmente indispensável recolher todo material descartado que seja tóxico ou nocivo ao meio ambiente – o que inclui produtos inertes, mas com alto impacto ecológico. É o caso do óleo de cozinha (cuja coleta já é o objeto de campanha de uma ONG), de pneus, mas também garrafas de pet, sandálias de plástico e materiais similares. Deve-se, para tanto, fazer valer o que a legislação já estabelece para pilhas e baterias, estendendo-se procedimentos para computadores, celulares, eletrônicos, televisores e eletrodomésticos em geral. Isso pode ser agilizado pelos governos municipais e estaduais, com o estabelecimento de postos ou centros de coleta destes materiais, em colaboração com os fabricantes e grandes varejistas. O seu sentido não é somente técnico, mas político, de conscientização da população e mudança de hábitos e relações com os processos produtivos e o meio ambiente.

 

Com efeito, as quatro campanhas de Neto e Shirahige devem ter caráter cidadã, contando com o apoio empresarial e governamental, na difusão da conscientização da “relação entre padrões de consumo e defesa do meio ambiente”. Dessa forma a ação desencadeada de todas essas campanhas construirá a sinergia entre “os vários movimentos” e a reflexão sobre a correta necessidade do consumo e do destino para o descarte dos produtos.

 

Conseqüentemente, o cumprimento de tais ações e a permanente preservação do meio ambiente, resultarão no atendimento que a “mudança indispensável dessa presente realidade” necessita com total rapidez frear o desequilíbrio ambiental que o planeta vem sofrendo no último século”.

 

* Bacharel em Relações Internacionais (IBES) e Pós-Graduando em Gestão de Negócios Internacionais (ICPG-Blumenau-SC) E-mail: gbarroslima@yahoo.com.br

 

  

Compare preços de Dicionários Jurídicos, Manuais de Direito e Livros de Direito.

 

Como citar e referenciar este artigo:
LIMA, Gilberto Barros. Questão Ambiental: mudanças para uma mentalidade coletiva. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/questao-ambiental-mudancas-para-uma-mentalidade-coletiva/ Acesso em: 15 set. 2024