Política

O Poder do “Poder Público no Brasil” – Parte1

O Poder do “Poder Público no Brasil” – Parte1

 

 

Ricardo Bergamini*

 

 

Prezados leitores, mensalmente ao divulgar meu relatório intitulado “Prestação de Contas do Governo FHC”, em que haja comentários sobre servidores do Poder Público, é comum receber diversas manifestações de indignação de alguns leitores, prontamente perdoados, visto total desconhecimento macroeconômico sobre o assunto, haja vista que 85% do povo brasileiro recebem informações, apenas via analfabetos do tipo “Ratinho”, diga-se de passagem altamente prestigiado na corte.

 

Em vista do exposto resolvi preparar estudo especial sobre o tema, na certeza que, após conhecimento técnico do assunto, a minoria raivosa com meus textos, especialmente servidores públicos, na grande maioria honesta, digna, trabalhadora e dedicada, porém contaminadas por grupos fisiológico e corporativo de apadrinhados políticos. Da mesma forma que em economia a moeda má expulsa a boa, no serviço público ocorre algo parecido ou seja, o funcionário pára-quedista expulsa o bom.

 

Confesso não saber dizer dia, mês ou ano da mudança, porém em algum momento da vida política brasileira haverá uma ruptura radical nesse campo, com a colaboração dos próprios funcionários públicos do bem, imprescindíveis para a mudança, ou seremos definitivamente um país, não mais de primeiro, segundo ou terceiro mundo, mas sim, de outro mundo, apenas uma “Pegadinha”, nesse momento a barbárie estará instalada pelo esgotamento e exaustão, já perceptíveis, da capacidade das atividades privadas manterem infinitamente privilégios criminosos para uma minoria corrupta e perdulária encastelada nos porões do poder. O momento está mais próximo do que se possa imaginar, visto que nossa fadiga econômica é muito latente.

 

Periodicamente desenvolverei estudos resumidos, abordando o vasto tema, para que os leitores reflitam com calma sobre os assuntos colocados, um dos mais difíceis.

 

 

Quadro Demonstrativo I – Despesas com Pessoal da União, Civis e Militares – Fonte SEAP – Base R$ bilhões. Considerando 1987 base 100

 

Ano

Ativos

Índice

Inativos

Índice

Outros

Total

Índice

1987

12,5

100,0

4,6

100,0

2,6

19,7

100,0

1988

16,0

128,0

5,7

123,9

2,5

24,2

122,8

1989

19,6

156,8

6,8

147,8

3,4

29,8

151,3

1990

23,2

185,6

8,8

191,3

2,4

34,4

174,7

1991

19,7

157,6

6,8

147,8

1,8

28,3

143,6

1992

15,4

123,2

6,2

134,8

1,4

23,0

121,0

(1)

17,7

141,6

6,5

141,3

2,4

26,6

135,0

1993

17,4

139,2

11,8

256,5

1,9

31,1

157,9

1994

19,3

154,4

14,7

319,6

1,8

35,8

181,7

1995

25,6

204,8

18,2

395,6

2,8

46,6

236,5

1996

24,7

197,6

18,3

397,8

2,3

45,3

229,9

1997

24,7

197,6

18,8

408,7

1,1

44,6

226,4

1998

24,7

197,6

20,5

445,6

2,8

48,0

243,7

1999

25,7

205,6

24,0

521,7

2,6

52,3

265,5

(2)

23,2

185,6

18,0

391,3

2,2

43,4

220,3

(3)

131,1

131,1

276,9

276,9

91,7

163,2

163,2

 

Notas: (1) Médias do período de 1987 à 1992; (2) Médias do período de 1993 à 1999; (3) Variação entre as médias dos períodos analisados (2)/(1), considerando (1) base 100

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE O QUADRO DEMONSTRATIVO I

 

– Em primeiro lugar devo fazer duas colocações: a) Ano de 1999, valores previstos; b) Todas as moedas existentes no período estudado foram equalizadas para base ano 94 do real, expurgando efeitos inflacionário anteriores à base 94, tendo sido utilizado o IGP-DI/FGV

 

– Analisando o quadro acima salta aos olhos o crescimento dos gastos com pessoal da união em 165,5% (índice265,5) no período, sendo 105,6% (índice205,6) com ativos e, pasmem senhores leitores 421,7% (índice521,7) com inativos, todos com base 100 em 1987.

 

– Observem na linha constante da média do período 87/92 nota (1) a coerência entre a variação de crescimento de gastos com servidores ativos em 41,6% (índice141,6), e dos inativos em 41,3% (índice141,3), sendo no total uma variação factível de 35% (índice135,0) no período. Fato normal, visto que os salários dos servidores públicos, ativos ou inativos, seguem as mesmas regras, como se na ativa estivessem, bem como seus salários são os mesmos, na atividade ou na inatividade. Espero ter ficado bem claro que a simples movimentação da atividade para a inatividade não poderia gerar acréscimos dos gastos totais com pessoal. Outra observação na mesma linha da nota (1) seria quanto aos gastos anuais médios de R$ 17,7 bilhões com ativos (73,1%) e, R$ 6,5 bilhões com inativos (26,9%). Uma relação de 2,72

 

– Agora observem na linha constante da média do período 93/99 nota (2) a incoerência entre a variação de gastos com servidores ativos em 85,6% (índice185,6) e, inativos em 291,3% (índice391,3), usando a mesma base 100 de 87. Outra observação gritante dentro da mesma linha da nota (2) seria quanto aos gastos anuais médios de R$ 23,2 bilhões com ativos (56,3%) e, R$ 18,0 bilhões com inativos (43,7%). Uma relação de 1,29.

 

– Já na linha constante da relação entre as médias 87/92 e a 93/99 nota (3) fica patente o escândalo, quando verificamos crescimento dos gastos médios com ativos serem de 31,1%(índice131,1) e inativos de 176,9%(índice276,9), comparando o período 93/99, em relação ao período 87/92. Não haveria nenhuma explicação atuarial ou técnica sobre tal distorção visto que, se houvesse apenas passagens de ativos para inatividade, o volume de gastos totais não se alteraria. Então como explicar o vultoso acréscimo da média de gastos com inativos, saindo de R$ 6,5 bilhões no período de 87/92 para, R$ 18,0 bilhões no período de 93/99 ?

 

Acredito que quaisquer dos leitores, mesmo com um nível médio de conhecimento da matéria, caso reflitam sobre o que estou comprovando, não teriam dúvidas, como não as tenho, de haver irregularidade nas concessões ocorridas a partir de 1993, com prováveis aposentadorias, em algum Trem-da-Alegria no período 93/99, de pessoas apadrinhadas que jamais foram funcionários do governo federal, ou com altos salários irregulares.

 

Para finalizar, rogo à Deus encontrar dentre os destinatários deste texto, algum grupo político, sindical, jornalístico ou do Ministério Público, com coragem em acreditar no ilustre desconhecido deste trabalho, patrocinando uma auditoria nas contas entre 1993 e 1999. Tenho certeza absoluta, com base no quadro acima, seriam encontradas diversas irregularidade nas concessões, de aposentadorias e/ou pensões, algo parecido com R$ 9,0 bilhões ao ano.

 

 

 

Florianópolis, 26 de dezembro de 1999

 

 

* Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região sul.

 

 

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Como citar e referenciar este artigo:
BERGAMINI, Ricardo. O Poder do “Poder Público no Brasil” – Parte1. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/o-poder-do-qpoder-publico-no-brasilq-parte1/ Acesso em: 07 out. 2024