Política

E se o Serra for eleito presidente?

 

Está circulando na mídia, principalmente no fabuloso History Channel, documentários sobre o fim do mundo, mas eles não tratam da possível eleição de Dilma Rousseff como Presidente da República, pois tal acontecimento não seria de nenhum modo o fim do mundo, porém o fim da picada.

 

Acontece que alguém andou descobrindo que no calendário dos maias há uma previsão do fim do mundo em 2012. Supondo que esteja correto tal vaticínio, ao menos uma coisa será decididamente positiva: os cariocas se livrarão do grande transtorno e o governo brasileiro – seja qual for seu Presidente – se livrará do grande vexame internacional das Olim-Piadas no Rio em 2016. Os culpados são o Lulla e o Cabral que  patrocinaram o evento esportivo com indizível júbilo! É uma prova de que não pretendem estar “nu Puder” na referida data.

 

Esse negócio de “fim do mundo” vem enchendo o saco dos mais tolerantes e pacientes conhecedores da História, ao menos desde o ano 1.000 quando se dizia que o mundo iria acabar e, ao que tudo indica hoje, não acabou. Mas ainda está em tempo, pois o rio de Chronos não é finito e basta empurrar com a barriga para mais adiante a data da anunciada catástrofe terráquea.

 

Estou dizendo isto, porque até hoje já escrevi muito sobre o passado: episódios e figuras marcantes da História; já escrevi mais ainda sobre o presente: conjunturas políticas e assuntos contemporâneos. Porém, nunca escrevi absolutamente nada sobre o futuro. Tenho verdadeiro horror de futurólogos, astrólogos, macroeconomistas megaplanejantes, cartomantes, quiromantes, numerólogos, advinhões e todos aqueles que se aventuram a “falar sério” sobre o que há de vir.

 

Quanto ao futuro ou “o que há de vir”, penso exatamente como pensava o velho Aristóteles há mais de 2.000 anos: o futuro é a dimensão da indeterminação. Vou explicar esta locução nominal aparentemente tão pomposa quanto vazia.

 

No assim chamado Argumento Dominador, Aristóteles, “o mestre daqueles que sabem” – o epíteto não é meu, porém de Dante – colocou a seguinte questão: a proposição “Haverá uma batalha naval amanhã” é verdadeira ou falsa? Vou modernizar a coisa com outra proposição do mesmo tipo: “O mundo vai acabar em 2012” é verdadeira ou falsa?

 

A resposta de Aristóteles para ambas é a mesma: não podemos dizer que são verdadeiras nem que são falsas, pois não temos como nos certificar – no momento em que estamos vivendo e fazendo asserções – de uma coisa nem de outra. Tudo o que podemos fazer sensatamente é aguardar o dia de amanhã ou 2012, para verificar a ocorrência ou inocorrência da mencionada batalha ou a do fim do mundo.

 

Estou aguardando, pois.  Mas, enquanto espero, vou fazer o que nunca fiz em toda a minha vida: tecer considerações sobre o futuro do Brasil, já que segundo Stefan Zweig “o Brasil é o país do futuro”. Sei que é coisa muito arriscada, pois estarei correndo o seriíssimo risco de ver minha reputação de ser cauteloso e de ter ouvidos atentos à Voz da Sensatez ir diretamente para o brejo.

 

Não para afastar o risco, mas sim para minimizá-lo, não falarei sobre um futuro muito distante, porém sobre um bastante próximo: o futuro do Brasil após a eleição para Presidente da Bruzundanga de Lima Barreto, ou seja: o País dos Coitadinhos.

 

Bem, isto depende. De que? Melhor seria perguntar: de quem? De quem será o eleito: Dilma, Serra, Gomes ou Marina? Bem, até agora, esta é a lista dos presidenciáveis na mídia. Que elenco de notáveis! Eu estou convencido de que nunca antes neste país tivemos tão seleto conjunto de espíritos! Para ficar completo, só estão faltando mesmo nossos grandes estatistas Marco Aurélio Top-Top Garcia, Excelso Amorim e Mangabeira Unger, que a esta altura deve estar assessorando o Obama.

 

Certamente, não se trata de um estado futuro de eqüiprobabilidade absoluta, pois alguns gozam de probabilidades mais elevadas do que outros, e este quadro pode sofrer alterações, caso surjam óbitos inesperados ou acidentes de percurso nesse período pré-eleitoral em que, ao menos oficialmente, não há nenhuma candidatura apresentada à Justiça Eleitoral, o que não impede o Lulla de fazer campanha com seu boneco de ventríloquo no colo e o PAC (Plano para Alavancar a Companheira).

 

Denúncias foram feitas à Justiça Eleitoral, denúncias foram devidamente arquivadas por carência de provas…Como se sabe, sem provas cabais nada feito! É a lei. Dura lex sed lex, mas no cabelo só Gumex. Esta é dos tempos da brilhantina, do elixir paregórico e do rhum creosotado.

 

Mas como já estamos trilhando a dimensão da indeterminação, não custa nada fazer hipóteses, contrariando aquele grande cientista que dizia que não as fazia, mas que as fez, ah! isto fez de fato.

 

Suponhamos que Serra seja o candidato do PSDB – coisa bastante provável. Suponhamos que Serra, apesar de não ser muito simpático, vença a eleição por ser menos antipático do que a companheira Dilma. Está suposto? Bem, aí passo a fazer uma indagação crucial: Como seria o governo Serra, caso Serra suba a serra ou a rampa do Palácio do Planalto?

É impossível dizer, diriam os mais cautelosos e tímidos espíritos. Impossível não é, e tanto é assim que vou dizer, mesmo que não tenha um turbante enrolado na cabeça e não disponha da prestimosa ajuda de uma bola de cristal. Seria um verdadeiro inferno, sim, uma coisa simplesmente tétrica!

 

 Mas, com isso não quero dizer que Serra seja o Capeta, o Tinhoso ou o Pé-de-Pato. Longe de mim asseverar tal coisa. Como dizia aquela personagem de J.P. Sartre na sua peça Huis Clos [literalmente: “Portas Fechadas”, mas acho que teve o título no Brasil de “A Quatro Paredes” e em Portugal de “Os Trancados”]: L’enfer c’est les autres, ou seja: “O inferno é os outros” – sentença que bem poderia ter saído da boca de  Arruda em relação às inconvenientes câmera cinematográfica, mídia e Polícia Federal…

 

Com isso, quero dizer que Serra deve estar preparado para ingressar no inferno de Dante, sabendo desde já que lasciate ogni speranza, voi ch’entrate! [“Deixai toda esperança, vós que entrais!”].

 

Serra será infernizado externa e internamente. Externamente por miríades de sem terras invadindo e depredando propriedades rurais no campo, sob o comando geral do condottiere Stédile e sua malta de arruaceiros impunes. Serra será infernizado nas grandes cidades por greves contínuas do PT-CUT (o único partido-sindicato do mundo!) por  “movimentos sociais” e pelas ONGs de plantão a soldo do Chefão.

 

 Não bastassem essas aporrinhações vindas da sociedade massificada por anos de peçonhento esquerdismo explícito e permissivismo das autoridades, Serra ainda terá problemas com o funcionalismo público, ou melhor: com a máquina estatal atolada de companheiros prontos para sabotar sua administração de todas as formas possíveis mas inimagináveis. Vai pintar até superapagão do Oiapoque ao Chuí.

 

Serra terá que ingerir muito Prozac, engolir muitos sapos barbudos, aturar as mais repelentes difamações, intrigas palacianas e mazelas orquestradas. Além disso, considerando que seu pavio é apenas um pouquinho mais comprido do que o de Ciro, o Rei da Pérsia e Imperador Perpétuo de Sobral (CE) por direito divino, acho que ele não vai agüentar esse tranco doido. Renunciará? Nunca! Serra não é Jânio e além disso é um verdadeiro asceta como Robespierre, decidido antitabagista e abstêmio convicto: não toma nem mesmo uma  cervejinha sem álcool com seus amigos.

 

Qual será sua reação diante dos megaproblemas que certamente há de enfrentar na sua governança, além do déficit público e da inflação subrepticiamente em gestação na atual gestão de Lulinha-Paz-e-Amor? Tan, tan-tan-tan… Não entra a Quinta de Beethoven sob a enérgica batuta de von Karajan, mas entra Doris Day naquele filminho maneiro cantando:

 

Que sera, sera.

Whatever will be, will be.

The future is not ours to see.

Que sera, sera.

 

Mas… E se o eleito não for Serra, porém a companheira Estella do Var-Palmares? Minha única e grande esperança é que o eleitor brasileiro amadureceu e está atualmente muito politizado e, por isto mesmo, não votará nunca, jamais, sob nenhuma hipótese, em quem ele identifica com sua encantadora sogra.

 

Encantadora? Só se for de serpentes peçonhentas.

 

 

* Mário Antônio de Lacerda Guerreiro, Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.

Como citar e referenciar este artigo:
GUE, Mário Antônio de Lacerda. E se o Serra for eleito presidente?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/e-se-o-serra-for-eleito-presidente/ Acesso em: 26 jul. 2024