18 de agosto de 2009
Meu caro leitor, confesso que pensei que o ciclo de ferro que se apertava em torno da imagem do ex-presidente José Sarney iria esmorecer, depois da incisiva participação de Fernando Collor na defesa do Senado Federal e do “Fico” do próprio Sarney. Subestimei os revolucionários. Sempre os subestimo, porque a gente sempre acha que o mal se contenta com pouco. O cálculo político de quem está movendo a campanha implacável contra Sarney é o mesmo que moveu Roma contra Cartago: é preciso destruí-lo, não apenas a ele mesmo, mas a todo o clã político. Não é apenas ódio ao que Sarney representa, de continuidade com um passado recusado para os revolucionários, como suas ligações com o Governo Militar, a energia que move tudo. É também o desejo de todo revolucionário de ter para si o poder total. Esse ódio à estabilidade dos valores tradicionais é um traço doentio. Destruir Sarney, o velho coronel do Maranhão, é destruir um símbolo de um passado que se deseja enterrar. Em seu lugar os revolucionários pretendem colocar o admirável mundo novo petista. Para todo o sempre.
Não me venham dizer que faço vistas grossas aos malfeitos do Ribamar. Ao contrário, que nisso sou bem agostiniano: o castigo que alguém sofre nesse mundo nunca é demais nem proporcional aos próprios pecados. Nesse sentido, não se comete nenhum abuso contra Sarney. Ele merece todos os epítetos, é digno de receber todas as vergastadas. O ponto que sublinho é que o castigo não é nem apenas para castigar e nem mesmo para apenas destruir: é para alçar mais um degrau na escada da subida ao poder totalitário dessa gente sem nenhum caráter. Chega a me comover a folha corrida dos que apontam o dedo a Sarney. Gente como Tarso Genro, Franklin Martins, Marco Aurélio Garcia, os revolucionários graúdos que já cometeram crimes muito maiores do que o caipira Sarney poderia cometer. São esses os que manejam as ferramentas que ligam os órgãos de espionagem e informação às manchetes alugadas do Estadão.
Não devemos esquecer jamais que Sarney e sua laia só querem “se arrumar”; são criminosos comuns. Os revolucionários querem bem outra coisa: apenas a revolução, construir “um outro mundo possível”, sobre as cinzas da civilização.
Por falar em Estadão, vale notar a manchete de hoje, que tem sido a mesma desde sempre: pau no Sarney. Desta vez, ampliado. A história dos apartamentos na Alameda Franca, imóveis que, quem é de São Paulo, sabe que são de menor valor, irrisórios. Nada de espetacular. Manchete: “Sarney nega, mas empresa confirma favor à família”. Veja-se o uso da palavra família. Hoje em dia se um neto do Sarney espirrar dirá o Estadão que o velho Ribamar estará propagando a tal Gripe Suína pelo Brasil. Nesse episódio específico dos imóveis nada há que deponha, do ponto de vista jurídico, contra o velho Sarney. Mas o Estadão, a soldo Deus sabe lá de quem, não perde a viagem. Se é Sarney o nome, serve para dar pau.
De fato, o Estadão está pautando a imprensa brasileira com suas fontes obscuras sobre o caso do Sarney. O Observatório da Imprensa, notório site elogioso às causas esquerdistas, não poderia enxergar diferente: “O competente trabalho de jornalismo investigativo reconstitui as duas transações e a participação do empreiteiro Rogério Frota de Araújo no negócio. No primeiro caso, aparece também o neto de Sarney, José Adriano, que andou no noticiário meses atrás porque o avô o teria beneficiado com a oportunidade de fazer negócios milionários na intermediação de empréstimos bancários consignados a servidores do Senado”, escreveu hoje lá o Luiz Weis. É muito fácil fazer jornalismo investigativo “competente” quando os esbirros da espionagem fornecem os furos de reportagem.
E também sei que Lula “apóia” Sarney. Tem que apoiar, da boca para fora, claro. Lula sabe que a única coisa que impediu seu terceiro mandato foi não ter maioria qualificada no Senado, míseros três votos. É tudo que separa o Brasil de uma república bolivariana nos moldes da Venezuela. Aí está a causa eficiente, formal, material e final de todo esse processo. Talvez os revolucionários não consigam obter ainda o estratégico, fechar o Senado, ou obter a renúncia coletiva, ou um golpe branco dessa natureza. Mas já que estão nas trincheiras, que se faça o serviço completo com o velho coronel Ribamar do Maranhão: Delenda Sarney. De minha parte, torço para que o velho coronel sobreviva politicamente. Nesse momento a estabilidade da democracia representativa depende de sua figura pública. Sem ele, os malditos já teriam nas mãos o poder total.
* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.