Depois de intensas negociações, que se estenderam desde o dia anterior, finalmente a direção da Confecom conseguiu superar o impasse que inviabilizava o progresso dos trabalhos, não sem perder parte de sua agenda. Feito o acordo os grupos de trabalho puderam ser instalados e o dia de trabalho acabou sendo produtivo.
Os grupos de trabalhos, conforme o regimento, “são instâncias de debate, aperfeiçoamento e priorização das propostas constantes no caderno de propostas”. Foram mais de seis mil propostas apresentadas. O trabalho nos grupos foi bastante enfadonho. Os movimentos sociais fizeram muitos destaques. Como está organizada a Conferência não cabe muita discussão nos grupos, embora a liderança dos mesmos fosse muito ciosa da representação dos que estavam presentes, tendo havido inclusive chamada nominal para verificar se alguém sem representação formal estaria ali. Como observador tive acesso a vários deles.
Percebi que a angústia dos líderes com o impasse que se prolongou era dupla. De um lado, manter no recinto os representantes do setor empresarial, pois são eles que, de fato, dão alguma representatividade à Confecom como geradora de subsídios para a futura ação governamental, inclusive com a eventual modificação dos marcos jurídicos, aspiração maior dos militantes de esquerda. Do outro, levar a bom termo a Conferência, com efetiva conclusão dos trabalhos, qual seja, a apreciação pelo plenário das propostas examinadas nos grupos de trabalho. Será um grande fracasso se no final da quinta feira a coisa toda não tiver o conjunto de documentos chancelados.
Vários dos oradores foram claros quando se dirigiram à platéia exaltada, pedindo que olhassem o estratégico. Os mais exaltados reclamaram do “acordão” e da quebra dos princípios de dinâmica de grupo consagrados nas inúmeras conferências que se realizaram no passado, com outros temas. Alguém lembrou que as outras conferências não foram plurais, isto é, não contaram com representantes do setor empresarial. Alguém lembrou também que este é minoria na sociedade e que ele está sobrerepresentado no evento, com 40% dos delegados, contra 40% eleitos pelos movimentos sociais e 20% indicados pelo governo.
Ora, não há distinção entre as propostas do governo e as dos movimentos sociais. E dentro do segmento empresarial tem muito gente que se alinha aos próprios movimentos, pois são pequenos e mais das vezes clientes do governo. Então, as grandes empresas ali presentes – as de Telecom e os integrantes da Abra – eram minoria desde o começo. Daí porque os representantes dos empresários exigiram que as propostas a serem aprovadas deveriam respeitar o percentual dos delegados e não o voto direto por maioria simples.
Foi um diálogo engraçado de ser visto, dois planos de compreensão do mundo sobrepostos. O setor empresarial sabia que se não houvesse essa fórmula eles simplesmente seria esmagado pela maioria de fato dos esquerdistas, sempre hostis à lógica empresarial. Já os líderes dos movimentos sociais, que acreditam firmemente na democracia participativa e têm no voto da assembléia o fetiche da soberania, não podiam abrir mão do princípio. No final prevaleceu a sensatez dos líderes.
Pela manhã tivemos dois palestrantes internacionais, que não despertaram grande interesse.
Quem tiver curiosidade poderá ler as propostas apresentadas no site oficial da Confecom.
* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.