A Verdade Verdadeira
Ives Gandra da Silva Martins*
“Tem-me impressionado muito a insistência do presidente Lula em valorizar três pontos de seu governo, a saber: 1) cuidar da crise de aeticidade de seu governo e de seus aliados como algo inexistente; 2) propagar que a economia brasileira vem crescendo satisfatoriamente sem, contudo, apontar o momento de crescimento mundial exuberante, bem como o fato de que crescemos muito menos que os outros países; 3) comparar seus dados com aqueles do governo anterior.
É compreensível que o presidente Lula, em ano eleitoral, use a técnica de esconder os fracassos e supervalorizar os sucessos, o que, entretanto, não exclui a necessidade de verificar a consistência das três afirmações.
A primeira delas, à evidência, não tem tido repercussão positiva. A entrevista recente de Bolivar Lamounier para a revista Veja no sentido de que com o escândalo político, Lula perdeu 20 milhões de eleitores é perceptível pela queda acentuada de avaliação positiva de seu governo, ao ponto de um candidato batê-lo no 1º turno, em duas instituições de pesquisas, e um outro empatar com ele no 2º turno.
É que o povo sabe o que é real e o que é fantasia. Que houve recursos até hoje não justificados que chegaram a inúmeros deputados vindos de empresa que tinha contratos com o governo, não há dúvida. Que o partido do presidente não declarou imensas quantias que foram recebidas antes e depois das eleições presidenciais, é também fato inconteste. Que nem a Justiça Eleitoral, nem a Receita Federal, foram informadas deste circular de recursos (caixa 2 ou mensalão) sem origem e sem justificação de destino (onde foram depositados e para que finalidade), é outra evidência à busca de explicação. Que o governo tudo fez para barrar as CPIs, à nitidez, o povo percebeu.
Desta forma, por mais que o presidente Lula declare que não ”há provas” e que tais denúncias são ”golpismo”, a sociedade não tem acreditado porque os fatos falam mais do que as palavras.
O segundo ponto é, também, contestável. A economia brasileira não vai bem. Cresce menos que as economias de todos os países latino-americanos, exceto o Haiti. E, incomensuravelmente, menos que as da Argentina, China, Rússia e Índia. Excesso de tributos, excesso de juros, excesso de burocracia não profissionalizada criam fantásticas amarras ao desenvolvimento, razão pela qual ele é pífio se comparado a de outros países, em período de fantástica expansão mundial.
E o terceiro ponto não é também convincente. O país conseguiu enfrentar sem inflação seus três anos de governo, graças à política herdada de Fernando Henrique, rigorosamente igual – menos na calibragem excessiva de juros e tributos – ao modelo econômico anterior.
Não é possível, por outro lado, comparar período de recessão e crises mundiais – segundo período de Fernando Henrique – com período de expansão econômica da atualidade. A única comparação possível é verificar na performance dos outros países e do Brasil, em cada período (recessão x expansão) e aí fazer-se a comparação. E, neste ponto, os dados não são bons para o governo Lula. Foram melhores o do governo Fernando Henrique.
Por fim, uma última consideração. Graças à propaganda de ”Paz e Amor” de Duda Mendonça, Maluf foi eleito prefeito de São Paulo. Graças à idêntica promoção do mesmo marqueteiro, Lula foi eleito presidente da República. O povo brasileiro quase nunca elege quem ataca e destrói, mas quem prega harmonia e constrói.
Será que a mudança de perfil do presidente Lula, com ataques agressivos e constantes à oposição, é um novo estilo vencedor? A queda de popularidade parecem sinalizar o contrário.
Enfim, estamos em ano eleitoral e a indagação que se faz hoje é a de saber qual será o estilo de campanha vencedor.
* Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: www.gandramartins.adv.br
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