Economia

Reflexos da Crise Econômica

Reflexos da Crise Econômica

 

 

Ives Gandra da Silva Martins*

 

 

O continente latino-americano não sairá ileso da crise mundial. A redução da performance internacional, no caso de eventual recessão ou até de uma depressão, dependendo da reação dos agentes econômicos e do mercado consumidor às medidas adotadas pelos EUA e demais países desenvolvidos, impactará, certamente, as economias emergentes.

 

De início, todos venderão menos para os países desenvolvidos, o que vale dizer, o comércio mundial sofrerá sensível redução do volume de atividades. O preço das commodities cairá, pela mudança de perfil, passando de um mercado comprador, que eleva preços, para um mercado vendedor, que os diminui.

 

Por outro lado, o desemprego, que, nesse cenário, tende a acentuar-se, gera inadimplência maior, nas operações de crédito, além da busca de segurança para os ativos, com os financeiros, de instituições mais seguras, prevalecendo sobre as aplicações em ações e passando a depender mais da demanda das próprias empresas e menos do jogo das bolsas, em que a especulação é a moeda mais relevante.

 

Neste cenário, no Brasil, os aumentos de vencimentos concedidos a servidores públicos – por mim condenados, no início do ano – produzirão um impacto negativo, visto que se houver redução -e deverá haver – da performance econômica, certamente tais custos incorporados ao orçamento não serão redutíveis. Em outras palavras, numa economia menor, com maior desemprego, o setor não governamental terá que suportar o custo de maiores vencimentos pagos à sociedade governamental, que não corre risco de desemprego.

 

Tal custo deverá ser coberto ou pelo aumento de tributos -que seria insensato, pois reduziria ainda mais a capacidade de enfrentar a crise do setor produtivo da nação, visto que a burocracia não gera desenvolvimento, mas amarras- ou por aumento do endividamento interno e redução de compromissos externos, ou ainda -no que não acredito- pela emissão da moeda e inflação.

 

De qualquer forma, haverá um custo, com redução do crescimento a expressão quase nenhuma.

 

Nada obstante, o sistema financeiro brasileiro seja muito mais sólido que os de outros países, inclusive por alavancar o patrimônio das instituições em número de vezes muito inferior aos dos Estados Unidos (12 x 50) e ter o lastro em títulos públicos maior do que no gigante americano, a rápida desvalorização do Real em setembro e começos de outubro, já gerou impactos que terão que ser redimensionados, no curso dos próximos meses, com perdas e ganhos -mais perdas do que ganhos- das  empresas que atuam no comércio exterior ou que dependem de recursos externos. Embora o real estivesse supervalorizado, o certo é que agora está sub-valorizado e a variação cambial foi demasiadamente rápida para permitir acomodações.

 

Nada obstante o Presidente Lula dizer que o Brasil fez a lição de casa e Bush não, creio que pelo fato de o Governo ter tornado mais onerosa a Administração Pública Federal – com o aumento do número de Ministérios, servidores e vencimentos além do razoável, fazendo com que a federação brasileira cada dia caiba menos dentro do PIB-, também o nosso País não fez bem a sua lição de casa. E o Brasil terminará também pagando o preço, por tal incremento de privilégios e benefícios em favor dos detentores do poder.

 

Graças ao governo, o certo é que estamos com uma crise maior do que o presidente Lula tem alardeado.

 

* Professor Emérito das Universidade Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado maior do Exército. Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, da Academia Paulista de Letras e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: http://www.gandramartins.adv.br

 

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Como citar e referenciar este artigo:
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Reflexos da Crise Econômica. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/economia/reflexos-da-crise-economica/ Acesso em: 26 jul. 2024